Luanda - Poucas pessoas terão sobrevivido ao ataque, alegadamente, desencadeado pelas forças de segurança. Testemunhas falam em tiroteio e bombardeamentos contra uma comunidade de fiéis em Kassongue, na província do Kwanza Sul.

Fonte: DW

Ângelo Kapuacha, presidente da organização não governamental Fórum Regional para o Desenvolvimento Universitário (FORDU), baseada na província do Huambo (centro de Angola), conta que foi informado dos confrontos por vizinhos do local onde vivia a comunidade de seguidores da seita A Luz do Mundo, em Kassongue, na província do Kwanza Sul (centro-oeste).

“Houve guerra. As pessoas presenciaram tiros e rebentamentos de bombas. Essas famílias que foram mortas têm parentes, que foram fonte de informação”, conta o ativista.

Segundo Ângelo Kapuacha, a comunidade foi atacada duas vezes pela polícia. “O primeiro ataque foi no dia 9 de agosto. Resultou na morte de cinco cristãos.


Os confrontos foram também confirmados por Elias Kalupeteka, filho de José Julino Kalupeteka, líder da seita condenado a 28 anos de prisão. “Foi o ataque final em que, eu diria, não houve trégua para ninguém. Confirmo sim, porque, tirando as pessoas que estão presas, já não há rasto de quem sobreviveu. A certeza vem das pessoas que estão próximas do local", sustenta Elias Kalupeteka.

Poucos sobreviventes

Até este momento, o ativista dos direitos humanos Ângelo Kapuacha acredita haver poucos sobreviventes. Presume-se que quem sobreviveu sejam mulheres que se encontram presas na cadeia do Sumbe, em Kwanza Sul.

“O número total dos moradores era de aproximadamente 43 membros. Supõe-se que sete estejam vivos, porque seis senhoras estavam na cadeia [do Sumi]. Retiraram-se duas, não sabemos o seu paradeiro. São dadas como desaparecidas. Havia uma rapariga que tinha fugido, até que foi capturada pela polícia e também levada para a cadeia. Dos homens e crianças, não temos notícias de sobreviventes”, relata o ativista da organização FORDU.


Já Elias Isaac, diretor da Open Society em Angola, diz que é cedo para falar em número de mortos, mas não tem dúvida de que as denúncias devem ser investigadas. "O que se tem toda a certeza é que houve uma situação anormal que produziu mortes na área do Kassongue, há pessoas aprisionadas e que o lugar está inacessível. A interdição ao lugar só demonstra que há qualquer coisa que não está certa, porque se não houvesse massacre, se não houvesse mortes, o Governo deveria deixar as pessoas terem acesso livre a este lugar", afirma Isaac.

Já havia sinais de perseguições

Kapuacha diz que, já há muito tempo, monitorava os desenvolvimentos na comunidade que estaria sendo perseguida pelo Governo angolano.

“Nós conhecemos os adultos e as crianças [da comunidade] porque, quando foram torturados em março deste ano, nós os visitamos, fotografámos e recolhemos depoimentos”, conta o ativista.


Angelo Kapuacha afirma que “a tropa e a polícia não permitem a nenhum popular chegar” ao local. “À semelhança do massacre do [Monte] Sumi, também lá [em Kassongue] se deu destino incerto aos corpos. Apenas foi entregue o corpo de um único senhor, que era o líder. De resto, só mesmo a polícia e o Governo é que sabem onde meteu os corpos. Durante os confrontos, ainda tivemos o privilégio de manter comunicação, por telefone, com os membros dessa comunidade. Alguns nos telefonaram até a altura da morte”, recorda o ativista.

Milhares de pessoas podem estar em risco

Elias Kalupeteka, filho do líder condenado da seita, denuncia que estão em curso, em Angola, perseguições aos fiéis. "Enquanto os membros de A Luz do Mundo estiverem convictos com a sua seita, essas perseguições não terão fim."

O ativista Ângelo Kapuacha aponta o dedo ao regime. “O nosso Governo tem na violência o seu padrão de governação. As execuções sumárias são permanentes.

As torturas degradantes para, sobretudo, os fiéis desta igreja estão a se fazer em muitas localidades, principalmente nas zonas rurais. Alguns têm sido arbitrariamente presos”, critica.

O presidente da FORDU espera o esclarecimento do que se passou em Kassongue e deixa um alerta: “essas perseguições reúnem todos os indícios de um genocídio, porque se está a fazer, por meio da violência, a extinção de uma igreja inteira. Em Angola, essa igreja tem acima de 50 mil membros que estão em risco de vida.”

A DW África contatou a Polícia Nacional, o Ministério do Interior e os Serviços Prisionais de Angola, mas não obteve resposta às acusações.