Cabinda - O recente concurso público realizado em Cabinda no sector da saúde está a causar revolta junto dos técnicos da saúde (médicos, enfermeiros e outros). Fontes ligadas ao sector dão conta que o sector vive problemas graves e que o concurso público veio apenas fazer transbordar o copo. O alvo principal do descontentamento dos funcionários é o Secretário Provincial, o farmaceuta Paulo Zengui Alexandre. Sobre os seus ombros recaem graves acusações, segundo as mesmas fontes, pois, contrariamente ao que dele se esperava, passou a ser o principal desestabilizador do sector em Cabinda.

*Manuel Agostinho
Fonte: Club-k.net

A primeira acusação que lhe é feita é o facto de ser mais um activista do partido (MPLA) do que um gestor do sector da saúde. Passa demasiado tempo na sede do MPLA, enquanto o número de falecimentos se multiplicam no Hospital Central de Cabinda, a escassos metros da Sede do MPLA. Tendo em conta a sensibilidade do sector e dos inúmeros problemas que atravessa, os técnicos da saúde alegam que o actual Secretário Provincial não está a dar conta do recado.

 

A segunda acusação, defendem os profissionais da saúde, o Secretário Provincial é um péssimo gestor. Em vez de ser um factor de harmonia e equilíbrio, ele próprio alimenta conflitos no sector, criando um mau ambiente laboral. «O Dr Paulo Zengui é um troca-tintas, mentiroso e falso», denunciou uma enfermeira que há meses foi vítima de uma injustiça no HCC, acabando por ser compulsivamente transferida.

No entanto, o recente concurso público realizado em Cabinda, cujos resultados foram afixados na noite de terça-feira última, causou muita indignação e revolta junto dos profissionais. Alegam estes de que o processo teria sido fraudulento e sem transparência, ferindo gravemente a igualdade jurídico-constitucional dos cidadãos. Os factos denunciados dizem que o concurso público foi apenas uma fachada porque o Secretário Provincial tinha já um leque de nomes de médicos e técnicos de saúde da sua conveniência que deviam passar.


O caso mais flagrante é o da sua esposa, recém-licenciada em medicina, e amigas da mesma promoção que foram apuradas no concurso com a nota de vinte valores. Segundo as mesmas fontes, o facto é curioso e digno de suspeita de fraude: «elas tiveram a chave da prova antes», defendem. Ora, para a classe médica havia apenas vinte vagas para mais de uma centena de concorrentes. Cabinda tem uma faculdade de medicina que há quatro anos começou a trazer novos licenciados para o mercado do emprego. Alguns destes médicos, sobretudo os da primeira promoção, trabalham voluntariamente no HCC como residentes em várias especialidades.


No início tiveram um contrato com a direcção daquela que devia ser a maior e melhor unidade hospital de Cabinda, e recebiam um salário de cem mil kwanzas. Com o tempo baixou para cinquenta mil e actualmente já nada recebem, pois, alega-se não haver mais dinheiro para pagar esses contratos. Os outros colegas que frequentam especialidades em Luanda têm os seus salários regularmente garantidos.


Para estes profissionais, o concurso público de ingresso na função pública seria o prémio dos seus sacrifícios, passados quatro ou cinco anos desde a sua licenciatura. Infelizmente, estes médicos que asseguram os serviços no HCC, foram discriminados, dando preferência àqueles que saíram agora das carteiras. Estão abertamente revoltados e decidiram ficar em casa. Isso vai afectar negativamente os serviços, já precários, daquela unidade hospitalar. Uma fonte da comissão do júri, terá desabafado o seu desagrado porque a lista dos apurados que foi publicada desmente os resultados encaminhados.


Neste sentido, uma das médicas que se sente discriminada, diz que gostaria de ver pessoalmente as correcções da prova, pois alega ter o domínio da matéria que veio na prova e não ter dúvidas de ter sido bem sucedida. O sindicato dos trabalhadores da saúde está preocupado com a situação dos seus filiados. Estes exigem uma acção enérgica do sindicato para impugnar o recente concurso público por graves irregularidades. Mas vão ainda mais longe: vão exigir a exoneração do Secretário Provincial, sob pena de paralisar o sector nos próximos dias. Contudo, é muito improvável que esta decisão venha a ser tomada pela actual governadora de Cabinda já que partilha com o Secretário Provincial alguma cumplicidade sobre os destinos impróprios dos dinheiros da saúde.


Os técnicos dizem até que o que se passa neste momento é uma nova versão do que se passou no tempo do General Mawete João Baptista que fez do então Secretário da Saúde, Dr Carlos Zeca, o seu homem de confiança. Apesar dos protestos e da greve desencadeada pelos técnicos da saúde naquela altura, o governador Mawete manteve o homem no seu posto. A actual governadora, Aldina Catembo, exonerou-o logo que assumiu o seu consulado e elegeu por sua vez o seu homem de confiança na pessoa do Dr Paulo Zengui. A razão é simples: há negócios em jogo com os dinheiros da saúde.