Luanda - O jornal «A Verdade» noticiou na semana passada que o novo governador do Huambo vai proceder em breve a uma profunda remodelação nas «estruturas [locais] do Governo e da Comissão Executiva do MPLA».


Fonte: Club-k.net

Para concretizar aquilo que o jornal denomina de «vassourada geral», João Baptista Kussumua (JBK) apresta-se a levar para o Huambo «19 personalidades para substituir grande parte das figuras que ocupam cargos nas 16 direcções provinciais».


Deixando transparecer algum revanchismo, «A Verdade» aponta como principais alvos da purga os «kassomistas», ou seja, figuras ligadas a António Paulo Kassoma, ele que já foi, como se sabe, um dos governadores daquela província. Presumo que a medida irá, por arrasto, atingir também o que sobra dos «Paihama´s» «Muteka´s» e «Malongo´s» …


A projectada «vassourada geral», para além de precipitada, parece-me bastante arriscada e onerosa para os paupérrimos cofres do Estado, porque não é crível que num curtíssimo espaço de tempo (menos de um mês) o novo governador já tenha conseguido «tirar as medidas» de todos os gestores locais… Sendo isso humanamente impossível, o ideal seria que ele avaliasse profundamente o perfil de cada um dos visados, e, depois, procedesse a mudanças paulatinas, ao invés de os mandar, apressadamente, para os seus «locais de origem», como sugere o semanário «A Verdade».


É inquestionável que ao governador JBK assiste-lhe o direito de nomear ou exonerar qualquer gestor que esteja sob sua dependência directa, mas não é avisado que ele promova quadros maioritariamente idos de Luanda em detrimento dos locais, visto que uma medida do género poderá ser interpretada como um «certificado de incompetência geral» aos locais, com todas as consequências negativas daí resultantes. A menos que JBK queira com a anunciada «vassourada geral» colher dividendos políticos imediatos, por via de uma medida populista, mas que, a médio ou longo prazo, poderá revelar-se desastrada.


Além dos aspectos de índole política, há também questões de natureza económica e financeira que devem ser equacionadas com a iminente purga, visto que uma «migração em massa de cérebros» irá, obviamente, onerar os cofres do Estado - já de si debilitados - com despesas de alojamento, alimentação, saúde, subsídios de acomodação, transportes individuais, etc.
Se aos «19 cérebros» que JBK pretende levar ao Huambo, juntáramos outros tantos elementos do seu staff, nomeadamente secretárias, motoristas, assessores, guarda-costas, chefe de gabinete, director de protocolo, oficial de campo, etc., podermos concluir com, alguma preocupação, que uma boa fatia do orçamento local será «engolida» pelo pessoal afecto ao novo governador. Por outras palavras significa dizer que a acomodação de JBK e do seu séquito, todos eles por junto e atado, não ficarão nada baratos aos cofres do erário do público.


Mas, há mais: o jornal «A Verdade» garante, talvez com alguma dose de ingenuidade, que o novo governador irá prestar uma especial atenção à imprensa local, concedendo-lhe facilidades e prioridades, já que esta, no dizer do citado jornal, tem estado a fazer «o trabalho estratégico do partido-Estado».


Sobre essa suposta «troca de favores» entre a imprensa e o “partido-Estado”, a publicação parece não deixar dúvidas quando diz que o sucessor de Kundi [Paihama] já foi informado de que «os jornalistas dos diferentes órgãos de comunicação da província, tanto os vinculados ao Estado, quanto os que labutam na intitulada “imprensa privada”, não sentem qualquer apoio vindo das estruturas governativas, diferentemente de grande parte das províncias estratégicas na manobra eleitoral do MPLA».


Há na capital do Planalto Central uma enorme expectativa quanto às anunciadas mudanças, numa altura em que se fala da existência de «bolsas de resistência» no seio do partido, mais concretamente da sua Comissão Executiva local, pelo que julgo saber, não se mostram inclinadas a apoiar uma «vassourada geral», nos moldes em que foi anunciada pelo jornal «A Verdade». Estando à vista um braço-de-ferro, resta-nos esperar pelo tempo