Moxico - O chefe do Estado Angolano, José Eduardo dos Santos, e dois dos seus generais, nomeadamente: o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do presidente, Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, e o chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), António José Maria “Zé Maria”, são denunciados como sendo mandantes do impedimento de recadastramento do cidadão Benedito Jeremias Dalí, funcionário público, na Direcção Provincial da Geologia e Minas, na província do Moxico.

* Pedrowski Teca
Fonte: Jornal Folha8

“Por ordens da Casa Militar da Presidência da República, não será possível cadastrar o Sr. Benedito Jeremias Dalí. Só podemos fazer isso com as ordens do Sr. Kopelipa, Zé Maria e do próprio Presidente da República. Caso não, fica de fora!”, narrou Benedito Dali, a explicação que lhe foi concedida pela Delegação Provincial das Finanças no Moxico.



Segundo o funcionário, as razões do seu afastamento têm como base questões políticas e por figurar no processo conhecido por 15+2.


Benedito Jeremias Dalí, conhecido por Dito, cidadão nacional de 31 anos de idade, esteve arrolado ao processo dos 15+2 jovens activistas, acusados, julgados e condenados por crimes contra a segurança do Estado, designadamente: Actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores.


Tendo sido detido a 20 de Junho de 2015, Benedito Dalí esteve em prisão preventiva, foi condenado a dois anos e três meses de prisão efectiva a 28 de Março de 2016, e posteriormente libertado provisoriamente a 29 de Junho.


Segundo o advogado Walter Tondela, os 15+2 jovens foram amnistiados a 16 de Setembro deste ano, aguardando apenas a formalização da notificação.

Impedimento de recadastradamento

Tudo começou no dia 29 de Setembro, quando o colega de serviço de Benedito Jeremias lhe telefonou, a partir da Direcção Provincial da Geologia e Minas, no Luena, província do Moxico, alertando-o que no dia seguinte, 30 de Setembro, uma equipa que está a proceder ao recadastramento de funcionários públicos passaria no seu local de trabalho, no sentido de registar todos funcionários afectos àquela Instituição.

Na noite do mesmo dia, Benedito viajou para Luena, a fim de participar no acto de recadastramento.

Sob a autorização do governador da Província do Moxico, o jovem Benedito Dalí residia em Luanda, antes da sua detenção, onde frequentava o curso superior de Ciências Políticas no Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais (CIS), uma instituição angolana de Ensino Superior privada.

“No dia 30 de Setembro, quando eram por volta das 8 horas da manhã, já me encontrava no meu posto de serviço, antes da chegada da referida equipa encarregue para o recadastramento do pessoal!” disse.

O jovem funcionário explicou que no Luena, apresentou-se ao Director Provincial da Geologia e Minas, a quem anunciou a sua presença no trabalho, e foi “bem recebido e tratado” pelo mesmo.

“Conversamos um pouco sobre as razões que motivaram a privação (prisão) da minha liberdade e demais companheiros, segundo ele, retorquiu dizendo que acompanharam o andar do processo mas que não havia motivos suficientes para que fossem presos”, explicou.

“Foi mal e caiu-nos a todos indignados, mas o importante é saber que já estão em liberdade apesar de condicional”, respondeu o director ao Benedito Dalí.

No decorrer da conversa com o director da sua secção, apareceu a equipa do cadastramento, que pediu a todos os trabalhadores para se juntarem, de forma ordeira, na mesa onde decorreu o mesmo evento.


“Todos foram cadastrados sem quaisquer anomalias, excepto a mim. Chamaram-me à parte a informar que tinham informações de que encontrava-me a dar continuidade aos meus estudos, depois estive arrolado no processo dos 15+2,” explicou.



Ao nível da Província do Moxico, o recadastramento de funcionários está sob coordenação de um Sr. Pedro Assis dos Santos, trabalhando a partir da Delegação Provincial das Finanças.


Segundo o jovem funcionário, a equipa do recadastramento começou por lhe dar voltas, exigindo o documento que o autorizou a deslocar-se em Luanda para efeito de estudos, pelo que o mesmo apresentou a documentação previamente assinada e autorizada pelo governador da Província do Moxico.


“Depois pediram-me que apresentasse as Declarações todas das classes de Ensino que eu frequentei, respondi que eu não sabia de que era necessário apresentar estes documentos no acto de recadastramento, pois não os tinha em minha posse mas garanti apresentar nos próximos dias, tão logo solicitasse junto da minha universidade”, disse Benedito.


Encontrando este subterfúgio, a equipa de recadastramento inviabilizou o registo de Benedito Dalí, orientando que o mesmo fosse solicitar tais documentos na universidade em Luanda.



No entanto, o jovem pediu a um familiar que fez as diligências em Luanda, tendo-lhe enviado a documentação requerida.

“Quando recebi a papelada toda, desloquei-me até junto da Delegação Provincial das Finanças para contactar o Coordenador que chefiava a equipa do recadastramento a nível da Província do Moxico, o Sr. Pedro Assis dos Santos, para lhe apresentar a documentação e posteriormente ser cadastrado, este por sua vez terá dito que, compete ao meu director escrever para a delegada das Finanças a dizer que o nosso funcionário já reúne condições para ser cadastrado”, explicou.

Incansável, Benedito Dalí solicitou a carta do seu director, segundo a exigência do coordenador Pedro Assis dos Santos.

“Acontece que uma colega minha de serviço, esteve a gozar a sua licença disciplinar (férias) na Província do Uíge, e não terá sido recadastrada no dia que ocorreu o recadastramento devido à sua ausência no trabalho. Quando ela chegou, apresentou a preocupação ao Sr. Director, que tomando conhecimento, entendeu arrolar o caso da colega num único documento, que foi produzido para a reclamação do nosso caso”, disse Benedito.


Produziu-se o documento, que foi remetido à equipa de recadastramento de funcionários públicos na Delegação Provincial das Finanças do Moxico.


“Por curiosidade, o caso da colega foi atendido e cadastrado hoje (14 de Outubro de 2016) excepto o meu. As razões do meu afastamento deveu-se a questões políticas e por figurar no processo conhecido por 15+2”, explicou.



“Desde o dia 11 de Outubro que se produziu o documento apenas hoje, dia 14 de Outubro, foi chamado o mesmo Chefe de recursos Humanos para informar que por ordens da Casa Militar da Presidência da República, não será possível cadastrar o Sr. Benedito Jeremias Dalí “Dito”. Só podemos fazer isso com as ordens do Sr. Kopelipa, Zé Maria e do próprio Presidente da República, caso não, fica de fora!!!”, explicou o jovem funcionário, as palavras que lhe foram dadas.