Luanda - O bispos católicos angolanos defenderam hoje, em Luanda, que os procedimentos e regras do registo eleitoral, em curso em Angola, devem incutir, em todos, "confiança para que não se parta para as eleições com suspeições".

Fonte: Lusa

A posição foi hoje expressa pelo presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Filomeno Vieira Dias, no encerramento da II.ª assembleia ordinária da organização religiosa, que decorreu durante uma semana na capital angolana.


No comunicado final, os bispos sublinharam a necessidade de todos os cidadãos se mobilizarem para o registo eleitoral, como forma de consolidar a consciência cívica e participativa nos assuntos que têm a ver com o bem comum.


Sobre as suspeições levantadas pelos partidos da oposição angolana quanto à realização do registo eleitoral pelo Ministério da Administração do Território, tarefa que defendem caber à Comissão Nacional Eleitoral, os bispos apelam para que se respeite as normas e regras que são consensuais e aceites por todos.


"O apelo que fazemos é que na resolução destes modos diferentes de perceber e de ver qual é o organismo que de facto resolve as coisas é que em todos possa-se finalmente dizer estamos diante de um processo onde as normas e as regras são aquelas que são consensuais, aceites por todos e que dão a garantia de que o processo será um processo transparente e por isso convincente, que vai refletir aquilo que vai ser a decisão e a escolha dos cidadãos nas urnas", disse Filomeno Vieira Dias, que é também arcebispo de Luanda.


Os bispos manifestaram também preocupação com a crise económica e financeira que Angola enfrenta, por continuar a afetar o poder de compra das famílias, "agravando ainda mais a pobreza, o desemprego e causando algum desespero entre a população".


A preocupação vai de igual modo para o problema da desflorestação "vasta, simultânea e generalizada" por todo o país, com o abate industrial de árvores e outras práticas que consideraram hostis à biodiversidade, como derrames de petróleo, queimadas, produção desenfreada de carvão e caça indiscriminada.


Para os bispos, é preciso que as autoridades governamentais ponham cobro à situação para que não ponha em causa a natureza angolana. "O Ministério do Ambiente, os guardas florestais, devem ter em conta esse aspeto, porque são matas inteiras que estão a ser destruídas em pouco tempo", queixaram-se os bispos.


A questão das demolições, que se registam em Luanda, foi também referenciada no comunicado final, que considera "desumana" a forma como decorre o processo, por deixar "famílias inteiras à mercê da miséria e do sofrimento, bem como a manutenção por tempo indeterminado de famílias diferentes numa mesma casa".


Segundo os bispos, tem estado igualmente a decorrer a ocupação "prepotente" de grandes extensões de terras para fins agroindustriais "inconfessos e gananciosos", com total desrespeito para com as comunidades aí residentes, que impotentes assistem à destruição das suas zonas de transumância, de agricultura familiar e até dos seus cemitérios, "gerando não poucos conflitos".


A falta "gritante" de medicamentos nos hospitais públicos é outro grande problema que está na base do aumento da taxa de mortalidade, sobretudo infantil, e do recurso à prática de feitiçaria pelos cidadãos, defendo que sejam melhoradas as unidades sanitárias do país.


"É preciso que os nossos hospitais consigam dar respostas às várias doenças que nos afligem, para que verdadeiramente pouco a pouco o cidadão comece a diminuir esta tendência de recorrer à feitiçaria para responder a questões tão claras como são as que têm a ver com a saúde", disse o porta-voz da CEAST, José Manuel Imbamba.