Luanda - Em comunicado à DW África, Frente de Libertação do Estado de Cabinda afirma que Governo de Angola prefere o confronto ao diálogo. Movimento independentista faz apelo ao Presidente José Eduardo dos Santos.

Fonte: DW

Regime com dificuldades de fazer a paz com a guerrilha 

Apesar do diálogo que há anos a Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) tem solicitado às autoridades de Luanda, visando a paz em Cabinda, o movimento independentista vem denunciando nas últimas semanas que as autoridades angolanas optaram por prender e assassinar vários dos seus comdandantes militares.


Em comunicado enviado à redação da DW África, a FLEC afirma que "ao invés de entrar em diálogo para encontrar as soluções que satisfaçam as queixas e reclamações legítimas do povo cabindês, as autoridades angolanas têm executado vários comandantes da guerrilha”.


De acordo com o porta-voz da FLEC e das Forças Armadas Cabindesas (FAC), Jean-Claude Nzita, já foram assassinados pelo menos oito comandantes do movimento nos últimos meses, por recusa em cooperar com o exército angolano como delatores.


"As Forças angolanas assassinam os comandantes da FLEC que se deslocam aos países vizinhos (República Democrática do Congo e Congo Brazaville) para visitarem as suas famílias. Se cometeram algum crime, então que sejam levados a tribunal e não executados desta forma. Se não há guerra em Cabinda então porquê assassinar esses comandantes?”, questiona.


O porta-voz faz um apelo ao Governo de Angola, a fim de estabelecer um diálogo com o Presidente José Eduardo dos Santos. "Insistimos que o problema de Cabinda não é militar mas sim político e por isso dizemos que o Presidente José Eduardo dos Santos deve compreender que a paz em Cabinda só será possível com o diálogo entre a FLEC e o Governo angolano”.
O ex-Presidente da FLEC, Nztita Tiago, também solicitou este diálogo com o Presidente de Angola, mas Dos Santos nunca aceitou, apostando que o exército angolano irá um dia ganhar a guerra em Cabinda, opinião que porta-voz da FLEC não concorda: "O exército angolano nunca vai ganhar a guerra em Cabinda”, garante.


Jean-Claude Nzita afirma ainda em entrevista à DW África que a situação militar e de segurança é caótica em Cabinda, porque o Presidente José Eduardo dos Santos está mal aconselhado sobre o que se passa naquele território.


"Os generais ‘mafiosos' não querem que a guerra acabe em Cabinda, porque se aproveitam desta instabilidade na região. Enquanto houver guerra em Cabinda, o ‘business' para os generais angolanos irá continuar. E porque já compreendemos isso há muito tempo, pedimos ao Presidente de Angola para dialogar com a FLEC visando a paz em Cabinda”, revela Nzita, fazendo novamente um apelo a José Eduardo dos Santos.


Movimento organizado


Jean-Claude Nzita desmente, entretanto, que o seu movimento esteja a enfrentar atualmente alguns problemas logísticos e financeiros para levar a cabo no estrangeiro, nomeadamente na Europa, a sua ação diplomática. A reduzida dinâmica e credibilidade do movimento independendista acentuou-se com a morte do presidente fundador e líder histórico da FLEC, Nzita Tiago.


"O ex-Presidente Nzita Tiago antes da sua morte preparou tudo e deixou uma FLEC bem estruturada e organizada. Tanto é que a nível internacional, o Presidente Emmanuel Nzita foi esta terça-feira (25.10.) recebido por um eurodeputado em Estrasburgo, interessado em saber concretamente o que se passa em Cabinda. Portanto, estamos bem organizados e unidos. Não existem várias FLECs. Existe uma só e não conhecemos divisões no nosso seio”, esclarece.


No entanto, o fato de o Governo de Angola ter conseguido contratar como secretário para a sua Embaixada na Suiça, Antoine Nzita, o filho do líder histórico da FLEC, é apontado em meios políticos de Cabinda como sinal de falta de capacidade da ala política do movimento.


A esta notícia, Jean-Claude Nzita, sobrinho de Antoine Nzita, afirma que o movimento nada tem a ver com as escolhas pessoais do tio. "A determinação de cada um de nós é algo muito pessoal. O meu tio, Antoine Nzita tem a sua opinião e a FLEC não tem nada com isso. É sua e só sua a posição. Se realmente aceitou trabalhar na Embaixada de Angola, é uma decisão que só a ele pertence e não é uma posição da FLEC. Ele também sabe que Cabinda não é Angola”, pontua.


Situação militar é perigosa

 

A DW África conseguiu entrevistar o Tenente-General Alfonso Nzau, chefe de Brigada Mayombe Sul, algures no interior da mata cabindesa. Ele considera que a situação militar no território de Cabinda é perigosa.


"A Inteligência Militar do MPLA já formou duas equipas, uma que enviou para o Congo Brazaville e outra para a RDC, para planificar como capturar todos os responsáveis da FLEC-FAC e depois levá-los para a cidade de Cabinda, para em seguida o Governo angolano proclamar que a FLEC se rendeu às autoridades”, alerta.


Contudo, o militar das FAC afirma que a hipótese de rendição do seu movimento é algo impensável. "Continuaremos o nosso combate, porque centenas de jovens cabindeses deram a sua vida pela libertação desta terra e nós, os sobreviventes, temos o dever de hoinrar a sua memória. As mortes dos nossos comandantes deram-nos mais coragem para prosseguirmos o nosso combate”.


Ministro nega mortes em Cabinda


Em recente entrevista à agência de notícias Lusa, o ministro do Interior de Angola, Ângelo da Veiga Tavares, desmentiu as ações de guerrilha denunciadas pela FLEC e pelas FAC. Segundo o ministro, a situação em Cabinda é "estável”.

"Em Cabinda, o clima de segurança é estável, é uma província normal, apesar de algumas especulações e notícias infundadas sobre pseudo-ações militares que se têm realizado", afirmou o ministro Ângelo da Veiga Tavares.