Luanda - O mercado ligado à imprensa em Portugal, como um pouco por todo o mundo, atravessa uma profunda crise que é fruto das novas tecnologias de informação entre as quais sobressai a concorrência que é ininterruptamente feita pelas redes sociais.

Fonte: Jornal de Angola

Dentro desse tipo de mercado o sector do audiovisual é o que mais sente na pele as dificuldades que resultam de uma conjuntura económica internacional que afecta, de forma mais profunda, os países mais pobres e que são habitualmente designados de “periféricos” no continente onde estão geograficamente inseridos.


Para tentar ultrapassar a adversidade há empresas de comunicação que optam por fazer uso da argúcia e da competência dos seus gestores para minimizar os efeitos da crise oferecendo aos seus leitores, ouvintes ou telespectadores produtos mais atractivos e produzidos de forma mais profissional.


Infelizmente, porém, há também os que por serem incompetentes optam por um caminho que julgam mais fácil, não olhando a meios nem a pessoas para tentarem aumentar as suas receitas, que o mesmo é dizer os seus índices de audiência.


Entre os que tentam impor a “lei da selva” sobressai o grupo Impresa, liderado pela família Balsemão, que desde há demasiados anos escolheu Angola e os Angolanos como peças a que sempre recorrem quando o jogo das audiências não lhes está a correr de feição.
Isto, não porque eles não gostem verdadeiramente de Angola ou dos Angolanos mas, simplesmente, porque para sobreviverem no meio da sua incompetência fazem uso do que lhes parece mais fácil.


Na verdade é de sobrevivência pura e dura que se fala quando são sabidas as dificuldades económicas por que passam os principais títulos do grupo (SIC, Expresso, Exame e a revista Visão) que vão mesmo obrigar o grupo a despedir centenas de trabalhadores, segundo relata a imprensa portuguesa e é assumido pelo próprio Sindicato dos Jornalistas.


Aliás, no que respeita à SIC tem sido frequentemente noticiada a continuada saída de alguns dos seus melhores profissionais para estações da concorrência, o que resulta directamente do facto da estação ser aquela que menos desperta o interesse dos portugueses, ao ponto de ser a que está na cauda da lista de audiências.


Angola é um país que está de modo indelével no coração dos portugueses, logo tudo o que sobre ela se diga, à partida, tem uma vasta e interessada audiência garantida. Então se for para dizer mal, esse aumento da audiência, pelo menos durante umas horas, pode ter o acréscimo de servir como engodo para que as elites portuguesas continuem a alimentar o seu saudosismo colonial. Se isso sucedesse seria, para a família Balsemão, a cereja em cima do bolo.


Mas, para isso era preciso que a SIC tivesse responsáveis editoriais competentes e verdadeiramente comprometidos com a isenção jornalística. Mas, claramente, não foi isso que mais uma vez sucedeu.


Dado o atrapalhado desempenho dos “actores” angolanos que a SIC escolheu (com o devido respeito para os profissionais que desempenham esta nobre arte) para o espectáculo que decidiu apresentar na noite da última quinta-feira, duvidamos que no final do programa tanto as audiências como o fluxo de apoios tenham subido.


Desde uma jornalista imberbe e nervosa, pouco familiarizada com a realidade angolana, até à escolha dos “personagens secundários” todos eles com uma evidente formação política tudo foi demasiado fraco para que pudesse satisfazer os objectivos dos estrategas que estiveram por detrás da ideia de tentar ofuscar os ecos das comemorações do 41º aniversário da Independência de Angola, ignorando tudo o que de bom aconteceu no país desde 11 de Novembro de 1975.


Tratou-se de um exercício jornalístico degradante mas que teve a virtude de deixar perceber a razão pela qual são cada vez mais os portugueses que optam por sintonizar as outras estações televisivas.


Ainda por cima, como o espectáculo foi sendo antecipada e difusamente anunciado, podemos mesmo dizer que se tratou de um exercício de publicidade enganadora, pois de “grande reportagem” teve apenas o nome.


Nem sequer podemos dar à estação da família Balsemão o benefício da dúvida, pois apenas a mereceriam se, pelo menos, tivessem tido o cuidado de escolher como roteiristas de ocasião personagens mais sérios e menos comprometidos com a difamação, a intriga e a calúnia política.


Enfim, foi um espectáculo à altura da SIC que mais uma vez, de modo despudorado, usou o nome de Angola para tentar ajudar a resolver os seus graves problemas internos.


Angola agradece a opção, pois foi mais uma vez provado que continuamos a estar na agenda política de algumas elites portuguesas que se falam de nós é porque, na verdade, as estamos a incomodar.

 

*DG adjunto do Jornal de Angola