Luanda - O véu do Templo se rasgou, e até o mais pacato dos cidadãos, hoje, já consegue enxergar sem muito esforço, a grande Crise Estrutural e de Valores, que vem corroendo o epicentro do Poder em Angola; não é por acaso, que, a cada dia, assistimos o eclodir das vozes contestatárias, de personalidades que conhecem profundamente, os “segredos” desta grande e complexa família política; Senhor Presidente, antes, gostaria de saudá-lo desejando saúde e longevidade para si e, para a sua família (com respeito, a primeira Dama e, todos os seus filhos e parentes) dirigindo o meu pêsame à família enlutada e, neste tempo de natural introspecção, poder também levá-lo a reflectir cobre os assuntos ligados à vida pura e real da Nação e do seu longo consulado. Afinal de tanto trabalho, pouco – acredito – tem sido o tempo dedicado para tal reflexão, isenta de más influências.

Fonte: Club-k.net


Em alusão ao 41o aniversário da nossa independência, comemorada um pouco por toda Angola, surge a obrigação consubstanciada num dever patriótico de «Pensarmos sobre os destinos de Angola – sob liderança do Partido que sustenta o Governo desde a sua fase embrionária». Sr. Presidente, sou mais um destes jovens com a sorte de ter nascido no útero de Angola, ligado umbilicalmente com os valores e as tradições da África dos africanos, os mesmos que ligam Joseph Ki- Zerbo à Séverine Kodjo-Grandvaux, e, tantos outros (vivos e já adormecidos) que tentaram, a cada um, a sua época e contexto, repensar e reconstruir a identidade africana, da qual somos todos privilegiados ou vítimas; vou dizer, o que os milhares de angolanos diriam se o Sr. Pudesse ouvi-los a todos!

Angola não conheceu até hoje, outro projecto de sociedade que aquele a que fomos todos injectados pelo Partido-Governo que o Sr. se digna dirigir há 37 anos, e, pelo que, depois de tantos anos de guerra fratricida e, perdas humanas injustificadas, as nossas almas (os âmagos de todos os filhos de Angola, não cansam de, passivamente questioná-lo: Camarada presidente para onde Vamos - para aonde nos queres levar? As noites das 24.000.000 de vidas humanas, cuja parte do umbigo foram enterrados neste solo pátrio, e, quiçá, dos outros que embora tenham nascido fora, têm as suas raízes ligadas à esta terra, são constantemente atormentadas, com as incertezas do amanhã. E, Sr. Presidente, as suas respostas – como um bom pai da Nação - como defendeu a deputada Tchizé dos Santos, foram muito além do esperado.

O véu do Templo se rasgou, e até o mais pacato cidadão, hoje, já consegue enxergar sem muito esforço, a grande Crise estrutural e de Valores, que vem corroendo o epicentro do Poder em Angola; não é por acaso, que, a cada dia assistimos o eclodir das vozes contestatárias, de personalidades que conhecem o “cerne” desta grande família; dentre as vozes mais ousadas, actualmente, temos, Marcolino Moco, Ambrósio Lukoke, o General Manuel Paulo Mendes de Carvalho Pacavira, o jornalista Willian Tonet... e tantos, uns mais intensamente que os outros...


sem esquecer, daquelas vindas de todos os estratos sociais, classes e estruturas da sociedade Civil, de que estamos todos informados. Camarada presidente, como bom patriota, em condições de exercer a plenitude dos direitos de cidadania, e com deveres para com à Pátria, na quase impossibilidade de poder ser de outra forma, ouso escrevê-lo publicamente, com o intuito de alertá-lo por esta via, que boa parte dos conselhos que Sua Excelência recebe de seus lídimos conselheiros, tendem a salvaguardar os seus interesses pessoais; pelo contrário, é a sua imagem, aqui e lá fora, que tende a piorar, e consigo, a imagem de todos os angolanos, que são taxados por outros povos, de “o povo especial” claro, conotando, a mais pura ironia, para dizer que, “somos todos servos do senhor e de sua família, incluindo, daqueles que o rodeiam”. Há quem pense, que o Sr. deseja instaurar uma Monarquia em Angola – E, sobre isso, só o senhor sabe – o povo quase, ou já nada sabe!

A sociedade angolana sente-se asfixiada, e não há povo no mundo que consiga segurar o eternizar do sofrimento – se o contexto não mudar, veremos o eclodir de uma convulsão social sem precedentes, que a força das armas não poderá deter, e isso, não sem razão: as constantes denúncias de corrupção, o abuso de poder, a falta de prestação de contas por parte de quem administra os bens Públicos; a privação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, consagrados na constituição, ao ser grave para a saúde da Nação... nada compara-se ao silêncio do Sr. Presidente, passando a ideia, de que o senhor é parte do esquema – e isso, é grave para quem deseja sair impune da vida política – não nos faça chegar a conclusão de que estamos sozinhos nesta luta.

O povo que devia sentir-se protegido pelo seu Presidente, sente-se traído por este; aquele que devia ser o garante das suas liberdades, o bem-estar da Nação, e a continuidade da construção de um Estado de Direito Democrático, parece ser, ou o fazem passar, de, o principal dos opositores da emancipação do bem-estar do povo; francamente, por tudo o que se vê, se ouve ou vive-se, chega-se a pensar que o Sr. Presidente odeia os povos de Angola, ao negar-lhes, a vida – o sonho – e a emancipação das suas liberdades mais preciosas. Antes o povo o amava, mas hoje parece que o sentimento é recíproco, camarada presidente, e, esta atitude, não é sem razão: Tudo sobe, os combustíveis, a comunicação, os transportes, o pão, a educação, menos os salários da classe dos trabalhadores... A família presidencial próspera; os amigos mais próximos usufruem dos favores seus, bilionários? Só os... e, o povo apenas empobrece;


Então, do quê os angolanos são realmente donos? Se até as terras lhes são retiradas de forma arbitrária? Se as suas vidas lhes são ceifadas? Se até a fala lhes são interditos? Acredito que se existisse um outro mecanismo de legitimação do poder, até o direito de votar nos seria retirado... Veja com os próprios olhos, os valores que o regime criado pelo Sr. Presidente instaurou na sociedade angolana: Onde vamos Sr. Presidente? Não foi este caminho que os nossos nacionalistas sonharam para nós. Rejeito toda ideia contrária a esta. Os cotas, com grande coragem no seio do Partido-Governo, dizem que não era para ser assim.

A Amnistia no papel devia reflectir-se na Amnistia na consciência deste povo sofrido, que vem acumulando experiências negativas nestes últimos anos de seu consulado. Só estamos a pedir que o Sr. mantenha a palavra e deixe o poder, conforme prometeu, de livre e espontânea vontade e, conduza esta transição com a maior dedicação e precaução possível. Dê a este, o privilégio de conhecer um rosto novo, e aos teus companheiros de vida política, a oportunidade de provarem que não são tão inúteis quanto se fazem parecer. E, há quem ainda diga, que o Partido deseja se livrar do Senhor. Há 24.000.000 de cérebros em Angola, e, apenas um serve para gerir o País?

Muito francamente, por tudo o que o Sr. Presidente já fez por este País (bem e mal) cuide da sua saúde e de sua família, neste tempo que lhe resta, o país agradece. Atentamente, Valter Sebastião. Luanda, 17 de Novembro, 2016