Luanda - O mundo ouviu inúmeras vezes que o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979, deixaria a Cidade Alta e a vida política activa, mas foram palavras que na realidade não passaram de jogos políticos para medição da pulsação de adversários e apaziguar espíritos de revolta dos que contestam a longevidade do mesmo na Presidência do país.

Fonte: Jornal Folha8

Esta semana, tais rumores voltaram à ribalta, dando conta que José Eduardo dos Santos não será o candidato número um do partido no poder, MPLA, nas Eleições Gerais de 2017.

Os mesmos rumores cirandavam em alguns círculos desde antes da mais recente viajem “privada” de Dos Santos a Barcelona, Espanha, fazendo crer que a 10 de Novembro, o mesmo terá anunciando sobre a não recandidatura numa reunião do Bureau Político do MPLA.

Fala-se ainda que Dos Santos pretende fazer um anúncio a respeito deste assunto, no princípio do mês de Dezembro.

Recorde-se que a 11 Março deste ano, o presidente de Angola há 37 anos, havia dito que irá retirar-se da vida política activa em 2018, deixando fértil a crença de que seria o candidato do seu partido nas Eleições Gerais de 2017.

A NEBULOSA RETIRADA E A SUCESSÃO CONTROVERSA

Os pronunciamentos de presidente Dos Santos, especialmente quanto à sua retirada da vida política e possível sucessão na liderança do MPLA, sempre foram fomentadoras de dúvidas e confusões.

Dos Santos foi indicado para o poder pelo MPLA em Setembro de 1979, após a morte de António Agostinho Neto.

A guerra civil, que devastou o país por 27 anos, desde a independência, foi um dos grandes motivos da permanência de Dos Santos no poder.

Finda a guerra em 2002 com a morte de Jonas Savimbi, o mundo virou o olhar para Dos Santos, procurando saber que posicionamento teria após vários anos na presidência.

Durante uma reunião do Comité Central do MPLA, em Agosto de 2001, José Eduardo dos Santos surpreendeu muitos com as seguintes palavras: “Quer as eleições se realizem em 2002 ou 2003, teremos um ano e meio ou dois anos e meio para que o partido possa preparar o seu candidato para a batalha eleitoral – e é claro que esse candidato não se vai chamar José Eduardo dos Santos”.

Como uma isca no anzol atirada ao mar, rapidamente se descobriu que as mesmas palavras não passaram de manobras de diversão, procurando averiguar contestações partidárias internas camufladas e a pulsação externa.

Na mesma casca da banana, escorregou o então secretário-geral do MPLA, o general João Lourenço, que foi afastado no congresso posterior, por ter dado indicações públicas de que pretendia disputar o cargo de presidente do partido com José Eduardo dos Santos.

João Lourenço foi afastado dos mecanismos de tomada de decisões mais próximos de Dos Santos, e posto a desempenhar funções de primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional.

Por um certo período de tempo, notou-se a ascensão de Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nando”, ex-comandante geral da Polícia Nacional, na vida política, que chegou a ocupar o cargo de primeiro-ministro.

A nova Constituição de 2010 extinguiu a posição de primeiro-ministro, criando assim a vice-presidência da República.

Nesta nova conjuntura, as eleições gerais de 2012 mostraram-se tenebrosas para Nandó, cuja posição eleitoral foi esvaziada com o surgimento do ex-presidente do Conselho da Administração da Sonangol, Manuel Domingos Vicente como o número dois na lista partidária.

Após as eleições, Fernando da Piedade Dias dos Santos passou a ocupar o cargo de presidente da Assembleia Nacional, enquanto Manuel Vicente tornou-se o vice-presidente da República.

Embora se tenha destacado como “bom gestor” na Sonangol para o regime angolano nos tempos das vacas gordas, poucos anos após as eleições, Manuel Vicente é visto como tendo insuficiências políticas e militares para ser digno para a sucessão na presidência.

Segundo críticos, Vicente não tem cadastro político ou militar, sendo fruto da escolha e imposição de Dos Santos, chegando a não cumprir consenso no seio do partido e doutras franjas do país.

Em Abril de 2014, o presidente Dos Santos recuperou o general reformado e antigo secretário-geral do MPLA, João Lourenço. Sim, o mesmo que almejava o lugar de Dos Santos em 2002!

João Lourenço, um militar de carreira e político veterano do MPLA, foi nomeado ministro da Defesa de Angola em Abril de 2014.

Em Agosto deste ano, durante o VII Congresso Ordinário do MPLA, João Lourenço foi nomeado vice-presidente do MPLA.

Desde então, Lourenço tem sido conotado como a balança de poder na sucessão de José Eduardo dos Santos, numa altura que também se nota a ascensão dos filhos do presidente, nomeadamente: Isabel dos Santos, como PCA da Sonangol, Zenú dos Santos como PCA do Fundo Soberano e Tchizé dos Santos como deputada na Assembleia Nacional.

Num partido político, onde o presidente Dos Santos nunca concorreu internamente com um outro candidato à presidência do MPLA, evidenciando a monopolização do poder, pode afirmar-se que o futuro presidente do MPLA e de Angola, mantendo o “status quo”, dependerá da vontade do actual presidente.

A ser verdade a informação de que Dos Santos não se recandidatará nas eleições gerais de 2017, resta-nos ver para crer, mesmo se realmente confirmar-se tais alegações no princípio de Dezembro.