Luanda - Em matéria de definição de estratégias políticas, neste país tudo vai mudar, caso se confirme no próximo sábado, dia 10 de Dezembro, na cerimónia que marcará o arranque da pré-campanha eleitoral do MPLA, o anúncio dos nomes dos seus (novos) candidatos à presidência e à vice-presidência da República, a serem sufragados nas eleições gerais de 2017.

Fonte: RA


Tudo nesta altura, para mantermos algum suspense à volta da grande novidade política deste ano e que vai marcar o próximo como nenhuma outra, ainda está dependente de se saber em definitivo José Eduardo dos Santos (JES) vai ou não deixar de ser o “candidato natural” do MPLA que tem sido até agora, desde que em Setembro de 1979 protagonizou uma “substituição impossível”, na sequência da inesperada morte de Agostinho Neto.


Depois do fac-símile da “resolução interna” aprovada pela última reunião do CC do MPLA já fazer parte das “galerias” de todos os smartphones deste país, passe o exagero, mantemos estes cuidados, apenas para salvaguardar alguma surpreendente reviravolta que é sempre possível, num país onde por vezes até o seu “passado é imprevisível” como escreveu já lá vão alguns anos a minha falecida amiga, a francesa Cristine Méssiant.


Sinceramente não estamos a ver como é que se dará inicio a uma pré-campanha eleitoral, sem se dar a conhecer a referência mais importante deste processo, que são os dois candidatos mais importantes das atípicas eleições angolanas consagradas pela Constituição (CRA 2010).


Ainda não sabemos que discurso vai ser feito desta vez na hora desta segunda passagem do testemunho no seio do MPLA, desde que o país ascendeu à independência em Novembro de 1975.
Se da primeira vez foi “impossível mas necessária”, com um jovem de 37 anos a substituir um kota que apenas tinha 56 e só tinha governado cerca de 4, agora o provável sucessor já ultrapassou a fasquia dos 60 e o país já tem mais de 40 anos de vida própria.

Não nos parece pois que haja qualquer elemento que possa suscitar alguma apreciação extraordinária da transição que se avizinha e que em princípio já não deverá surpreender ninguém neste país, a não ser que se trate de algum “distraído especial” que até agora tenha andado a dormir à sombra de uma bananeira escondida algures.

 

Convenhamos que até mesmo os “distraídos normais” já se aperceberam que algo está para acontecer neste país, que vai mudar o curso da sua história.

Por mais que se fale da renovação na continuidade, todos sabemos que se o próximo Presidente da República não se chamar mais José Eduardo dos Santos, o país muito dificilmente continuará a ser o mesmo, nem é desejável que assim o seja.

É evidente, que nesta altura ainda nem sequer sabemos se o próximo Presidente será eleito pela lista do MPLA ou de um outro partido qualquer, como também ainda não sabemos quais serão os partidos que passarão com sucesso pelo crivo do Tribunal Constitucional para conseguirem entrar no boletim de voto.


No limite e a esta distância temporal, nem sequer ainda temos a certeza se haverá mesmo eleições no segundo semestre de 2017, conforme prescreve a Constituição.


Diante de todas estas incertezas, de imediato a grande questão que a agenda nacional vai colocar de uma forma geral a todos os players do xadrez partidário, está efectivamente relacionada com o impacto que o anúncio do abandono de JES vai provocar na elaboração das diferentes estratégias políticas.


Antes de mais este desafio vai ser colocado aos partidos da oposição que assim deixarão de ter na referência do “interminável” mandato de JES, uma das suas principais e mais convincentes armas de arremesso.
Como definir um novo discurso para chegar ao poder sem mais a presença do actual Presidente, que até agora tem sido efectivamente o principal trunfo da Oposição na mobilização do eleitorado?
É uma das questões que a estratégia terá de responder.


Depois, a outra dificuldade vai colocar-se em relação ao tratamento crítico que a Oposição terá, necessariamente, de dar ao sucessor de JES, pois não estamos a ver como será possível uma realizar uma campanha eleitoral sem os inevitáveis ataques.


Do lado do MPLA, as coisas também não se apresentam muito fáceis, uma vez que tudo vai continuar a ser superiormente definido pelo próprio JES, que deixará de ser o número um da lista dos candidatos a deputados a Assembleia Nacional, mas vai manter a liderança do aparelho partidário pelo menos até 2018, altura em que, segundo as suas próprias palavras, deixará a vida política activa.


O novo discurso político do MPLA já sem JES como o seu “candidato natural”, vai ter de produzir rapidamente a imagem de um novo líder que, entretanto, terá de se desenvolver à sombra do “Pai Grande”.
Definir os limites desta coabitação, por mais que já tenha sido pensada pelos estrategas do maioritário, vai ser uma verdadeira “quadratura do círculo” no quotidiano sempre agitado do debate político, com todos os imprevisíveis e imponderáveis.


O MPLA vai apresentar-se a disputa eleitoral com novos rostos, a apontar para um futuro diferente, mantendo, contudo, bem presente o passado que ele considera intocável por razões demasiado evidentes.