Luanda  - É a pergunta feita por várias pessoas nas ruas de Luanda, depois de o Governo de José Eduardo dos Santos ter decidido homenagear Fidel Castro dando o seu nome a uma das principais vias da capital angolana.

Fonte: DW


A DW África saiu às ruas de Luanda e conversou com cidadãos que encontrou em duas conhecidas vias: a avenida Pedro de Castro Vandunem "Loy” e Deolinda Rodrigues, dois importantes nomes próximos do partido no poder, o MPLA, que, em épocas distintas, deram o seu contributo ao país.


Na luta de libertação de Angola, destacaram-se três nacionalistas: Holden Roberto, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Agostinho Neto, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e Jonas Savimbi da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA). Porém, apenas o nome do primeiro Presidente do país dado foi dado a algumas instituições públicas e ruas.


"Por exemplo, a universidade Agostinho Neto”, lembra Serafim Agostinho, residente em Luanda.

 

Prioridade para heróis nacionais


Na semana passada, o Governo angolano decidiu homenagear o líder da revolução cubana e uma das principais vias do país tem agora o nome de Fidel Castro - que nunca quis que o seu nome e figura fossem utilizados para designar instituições, parques, praças, ruas, avenidas ou locais públicos.


A via expressa Cabolombo-Viana-Cacuaco, nos arredores de Luanda, chama-se agora oficialmente "Comandante-em-chefe da Revolução Cubana Fidel Castro Ruz" ou Avenida Comandante Fidel Castro. A decisão foi anunciada na semana passada, após a morte do líder cubano.


Na abertura da reunião do Comité Central do MPLA, na passada sexta-feira (2.12), o presidente do partido e chefe de Estado José Eduardo dos Santos destacou que Fidel Castro "foi o maior amigo de Angola" e uma "figura histórica" do movimento revolucionário.


No entanto, muitos angolanos querem saber porque é que heróis angolanos como Jonas Savimbi e Holden Roberto, que lutaram pela descolonização, não têm nenhuma rua ou instituição do Estado com os seus nomes.


Jonas Ramiro Ângelo, residente em Luanda, reconhece o contributo dado pelo herói cubano a Angola, mas defende que deve ser dada prioridade aos nacionais em questões de toponímia, ou seja, nomes de lugares. "Sabemos que Fidel Castro foi alguém que ajudou enquanto o nosso país estava em conflito, mas, em termos de preservar a cultura e aquilo que é nosso, não acho tão correcto assim pegar o nome de um estrangeiro e dá-lo às ruas no nosso país”, explica Ramiro Ângelo, concluindo que "tinha de ser o nome de um angolano”.


Mais estátuas de heróis angolanos


No Largo 1º de Maio, local onde foi proclamada a independência, em 1975, há apenas a estátua de António Agostinho Neto. Lopes Pedro, outro morador de Luanda, entende que o processo de construção de estátuas, outra homenagem, também deveria ser inclusivo.


"Sabendo que todos lutaram para contribuir para o mesmo país, para se poder reconhecer este contributo, acho que todos deviam ter [uma estátua]”, afirma.


Para além de Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi, deve reconhecer-se também o contributo de outros heróis angolanos, quer os que participaram na luta de libertação nacional, como os que participaram na guerra civil, acrescenta Lopes Pedro.


"Não foram só estes três, foram muitos. Então os nomes de outros heróis tinham também de fazer parte de algumas ruas e outros lugares”, conclui.


Em junho deste ano, o Parlamento angolano aprovou a Lei de Bases da Toponímia que estabelece as normas que regulam os nomes de localidades e vilas. O diploma legal atribui esta competência ao titular do poder Executivo, no caso, o Presidente Eduardo dos Santos.