Luanda - A situação política e militar em Moçambique, contra aquilo que eram algumas expectativas, continua indefinida depois que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, veio a terreno dizer que só aceita um cessar-fogo oficial depois da assinatura de um acordo entre o seu partido e as forças do governo.

Fonte: JA

Esta declaração constituiu um verdadeiro balde de água fria atirado para uma fogueira onde se “cozinhava”, ainda que em lume brando, um eventual entendimento entre as principais forças moçambicanas.


Na base desta declaração do líder rebelde está a eterna desconfiança que vem alimentando este prolongado conflito armado que, volta e meia, gera situações de grande violência que ajudam a retardar o progresso económico e social de Moçambique.


Na realidade é essa desconfiança que faz com que a Renamo teime em se manter na região da Gorongosa, no centro do país, beneficiando do facto das autoridades usarem de todas as cautelas para não deitarem por terra as esperanças que ainda restam sobre a obtenção de um entendimento político.


Poucos duvidam que têm sido estas cautelas que têm feito com que as forças do Governo não tenham ainda avançado para a ocupação da referida região, o que é sistematicamente aproveitado pela Renamo para fazer transparecer um poderio militar que está muito longe de possuir.


Fosse essa a intenção do governo e, a esta altura, já Gorongosa teria sido ocupada. Só que, se isso suceder, a Renamo não resistirá à tentação de se tornar numa força de guerrilha activa o que faria com que Moçambique entrasse numa situação ainda mais perigosa do que a actual.


Só esta estratégia por parte das forças governamentais é que pode explicar todas as cedências politicas que tem vindo a fazer face a um partido que, claramente, não representa um verdadeiro perigo militar para o país. Tal como sucedeu com o seu antecessor também o actual presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem tido uma enorme paciência política para lidar com um líder que não tem qualquer tipo de apoio continental e que usa um discurso antiquado e desarticulado que cada vez cativa menos apoiantes.


Depois de aceitar uma das exigências da Renamo, a presença de mediadores internacionais nas conversações internas, Filipe Nyusi tem apelado aos seus apoiantes para que não enveredem por discursos radicais que possam inviabilizar, de vez, a assinatura de um eventual acordo politico. É evidente que toda esta paciência pode, a qualquer momento, passar a um estado de fúria e provocar uma actuação mais radical capaz de acabar de vez com as artimanhas que a Renamo vem usando para manter um protagonismo politico que não justifica.


Na última quinta-feira o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu a cessação imediata dos confrontos militares. “O que os moçambicanos querem é a cessação imediata da matança e destruição de bens”, afirmou Nyusi, falando num comício no distrito de Mopeia, província da Zambézia.


No mesmo dia, o Governo moçambicano e a Renamo iniciaram em Maputo a discussão da exigência do principal partido de oposição de assumir a governação das seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, que o movimento encara como decisiva para o fim do actual conflito armado no país. Mas, nada disto sensibilizou Dhlakama que numa posterior entrevista a um jornal moçambicano não teve qualquer hesitação em dizer que não respeita nem aceita qualquer cessar-fogo sem que antes seja assinado um acordo com o governo que satisfaça aquilo que são as suas exigências.


Dhlakama voltou a acusar Filipe Nyusi de o ter tentado eliminar, afastando a iniciativa de radicais da Frelimo contra a opinião do Presidente, mas assegurou que não guarda rancor e que só abandonará a Gorongosa “quando tudo sair bem (das negociações)”.


Para o dirigente político, o Governo apenas aceitou a mediação internacional devido à pressão militar”, acrescentando que as Forças de Defesa e Segurança “levaram muita porrada” e que, se “a Renamo estivesse a perder, eles não haviam de aceitar nada”.

É com este raciocínio que Afonso Dhlakama tem optado pela táctica da “cenoura e do cacete”, insistindo na continuação dos confrontos armados até que tenha conseguido, pela força, aquilo que politicamente julga merecer.


A sua próxima exigência será a habitual despartidarização das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, incluindo na polícia e nos serviços de informação, e o desarmamento e a reintegração na vida civil de todos os seus guerrilheiros.


No meio estão os observadores internacionais apontados pela Renamo: representantes indicados pela União Europeia, Igreja Católica e África do Sul.


O governo nomeou o ex- Presidente do Botswana Quett Masire, pela Fundação Global Leadership (do ex-secretário de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos Chester Crocker), a Fundação Faith, liderada pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e o antigo Presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete.

 

*Roger Godwin é o pseudonimo do DG adjunto do Jornal de Angola