Maputo  - Escrevo esta crónica numa manhã convulsa em Moçambique: Valentina Guebuza, a mulher mais rica e poderosa do país, filha do antigo presidente da república, Armando Gebuza, foi assassinada com quatro tiros, disparados pelo próprio marido, Zófimo Muiuane. Neste momento ainda não é possível saber ao certo o que aconteceu. A Rádio Mujimbo propaga enredos de uma violência barroca, capazes de envergonhar Quentin Tarantino.

 
Fonte: RA
 
Ao certo, sabe-se que Valentina morreu e Zófimo está preso. Também se sabe que Zófimo tinha antecedentes de violência doméstica.
 
 
Valentina, de 36 anos, era frequentemente referida como uma espécie de Isabel dos Santos moçambicana — dependendo do autor da afirmação, a comparação tanto podia ser entendida como um elogio ou um ultraje. Em todo o caso, ninguém parece ter muitas dúvidas de que o sucesso da infeliz empresária se deveu, em larga medida, à imensa influência do progenitor.
 
 
Valentina e Zófimo casaram-se a 26 de Julho de 2014, numa cerimónia ostentosa, que contou com a participação de muitas centenas de convidados, de entre os quais sobressaía, curiosamente, a própria Isabel dos Santos.
 
 
Mesmo não se conhecendo ainda pormenores do drama, acredito que este irá relançar a discussão em torno da violência doméstica. A primeira  conclusão é que nos nossos países — e suspeito que em todo o mundo — a violência exercida por maridos contra as respectivas esposas é um mal que aflige todas as classes sociais. Sujeitos ricos e poderosos, que estudaram nas melhores universidades do mundo, e se vêem a si mesmos como pessoas sofisticadas e cultas, espancam e humilham regularmente as suas mulheres. As universidades podem formar bons técnicos, mas são raras as que se preocupam em formar homens bons — e o conseguem.
 
 
Entre uma besta rica e uma besta pobre, a rica é quase sempre mais estúpida, porque à bestialidade tende a somar-se a arrogância do dinheiro e do poder.
 
 
A verdadeira educação adquire-se em casa, com os pais servindo de modelo aos filhos. Isto é particularmente certo no que diz respeito à educação para a não-violência. O grande desafio, em países como Angola e Moçambique, é como educar os pais.
 
 
Espero que a morte de Valentina Guebuza possa servir pelo menos para que toda a sociedade moçambicana, e também a nossa, que tantas semelhanças tem com a moçambicana, comece a debater de forma mais séria esta questão. Não é possível continuar a discutir questões ligadas à persistência de mentalidades machistas com um leve sorriso de troça. O machismo mata.
 
 
Feminismo não é um combate de mulheres. Todo o homem que lute por uma sociedade mais justa e mais saudável é – tem de ser – feminista. Não há outro caminho.