Luanda - A pressão cambial para que o kwanza se deprecie existe, mas se tal vier a acontecer não se repetirá o início de 2016, quando a moeda nacional caiu, de uma só vez e logo a abrir o ano, 15%. Um assunto que será esclarecido nos primeiros meses de 2017.

Fonte: O PAÍS

Mesmo que ocorra nova desvalorização do kwanza no início do próximo ano, não deverá ter nem o tempo nem a amplitude da que abriu o ano que agora termina. O ‘momento’ e o grau não terão nada a ver com o que sucedeu em Janeiro, explicou a OPAÍS uma fonte governamental. A possibilidade está, em todo o caso, em cima da mesa. ‘É uma questão em discussão, mas sobre a qual ainda não há qualquer conclusão’, admitiu a mesma fonte.

 

Se kwanza desvalorizar em 2017 não será como no início deste ano desvalorização em si e à sua amplitude o que, de acordo com Alves da Rocha, professor da Universidade Católica e director do CEIC, se deve ‘às expectativas de subida do preço do petróleo que desde há cerca de um mês apresenta um comportamento bastante positivo. Não que o preço possa justificar um retorno ao modelo da âncora cambial para se controlar a inflação, mas seguramente influenciará a dimensão da desvalorização. Outro elemento é de natureza política e relacionado com o momento que se vive no MPLA quanto à saída ou não do Presidente da República’. Nos últimos dias correram com insistência rumores de que se prepara nova desvalorização, idêntica à que se deu no início deste ano, quando a moeda nacional perdeu, de uma só vez, 15% do seu valor face ao dólar, a maior depreciação desde 2001. Até Abril, o kwanza continuou a recuar na sua cotação frente à moeda norte-americana, mantendo, contudo, a partir da segunda quinzena de Abril, a sua cotação estável durante o resto do ano. O objectivo da política monetária e cambial centrou-se no controlo dos preços, que desaceleraram no seu aumento em Setembro e Outubro para ganharem novamente fôlego em Novembro.

 

com uma cotação média muito acima da que figurava no documento ‘Reprogramação Macroeconómica do Executivo’, onde se estimava um valor médio da taxa de câmbio bastante superior àquele com que o ano termina e que equivale a cerca de Kz 166 por cada dólar (média de compra e venda). A desvalorização média do kwanza foi de 18% em 2016, caso o câmbio se mantenha Sábado. Na última semana, o kwanza perdeu 18 pontos base para o dólar, um afastamento que não indicia uma alteração na estabilidade cambial que o Comité de Política Monetária (CPM) do BNA vem afirmando constituir um objectivo central da orientação seguida. A posição insistentemente defendida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá pesar na decisão das autoridades quanto ao valor do kwanza.

 

Em Junho, Ricardo Velloso, que chefia normalmente as missões do FMI ao país, afirmava que o kwanza deveria perder mais valor para reduzir a pressão cambial. ‘Nós não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação, mas cremos que há ‘espaço’ do ponto de vista do câmbio oficial para mais acções por parte do BNA para diminuir essa pressão que existe’, explicava Velloso.

 

Paralelamente, Ricardo Velloso preconizou um maior recurso às reservas internacionais e o aumento da remuneração dos activos nacionais. Para Alves da Rocha, ‘a despeito das posições do FMI, uma desvalorização tem sempre reflexos negativos sobre a inflação, a não ser em condições diferentes que Angola não tem: produtos para exportar, capacidade produtiva interna para substituir importações, competitividade, etc’.

 

O professor da Universidade Católica de Angola lembra que ‘em 2016 verificou-se uma perda de 27,8% no poder de compra dos rendimentos do trabalho (considerando-se uma taxa de inflação de 38,5% que o Governo admite, no Relatório de Fundamentação do OGE 2017 ser a que este ano se registará, e seguramente mais se a taxa de inflação for de 42% conforme outras estimativas) e se 2017 começa logo com uma desvalorização então as expectativas serão francamente complicadas para estes agregados macroeconómicos’.

 

Estado da banca pode travar depreciação Se o responsável do Fundo não deixou de referir o crescente desfasamento entre o câmbio oficial, do BNA, e o prevalecente no mercado informal – kinguilas –, a verdade é que, depois disso, o valor do kwanza face ao dólar até chegou a recuperar neste mercado de rua, como vem acontecendo nos últimos dias, em que nas kinguilas se ouvem queixas quanto à disponibilidade de kwanzas, fruto da redução da liquidez da economia, um dos objectivos que vem sendo prosseguido pelas autoridades.

 

Mas os primeiros meses do ano não serão marcados apenas pela questão cambial. A situação em que se encontra uma parte do sistema bancário e a posição dos bancos angolanos face aos seus correspondentes, que só melhorará com a aplicação das regras prudenciais internacionais, será outro factor que influenciará o rumo da economia.