Cabinda - Domingo, 8 de Janeiro de 2017, foi a minha mãe a enterrar no Cemitério do Malembo, sua e minha terra natal. A solidariedade veio de todos os lados e eu já fiz menção disso, em comunicação, aqui, feita anteontem. No sábado, dia 7, durante o velório, a Dra. Matilde da Lomba, Governadora de Cabinda, também honrou-me com a sua presença, e deixo aqui o meu particular agradecimento.

Fonte: Facebook

Estiveram presentes nesse velório algumas senhoras da OMA (organização feminina do MPLA) e jovens da JMPLA (braço juvenil do MPLA), a quem também agradeço, mesmo se me tenha parecido um pouco estranho que, à última hora, tenham resolvido ir a uma casa no outro lado da rua, para tirarem a roupa normal, comum, que traziam, e substituí-la pelas "fardas" da OMA e da JMPLA. No entanto, não gostei nada do que viria assistir no dia seguinte, 8 de Janeiro, antes e durante o funeral.

 

Ainda em nossa casa, antes de partir para o cemitério e quando decorriam as cerimónias religiosa e tradicional, vi a senhora Jova, Administradora Comunal do Malembo, rigorosamente "fardada" a OMA, quando devia estar lá como administradora de todos os habitantes da Comuna do Malembo e, ainda por cima, a dar-se ao luxo de dizer onde devia ficar a mesa, a cadeira, o batuque, etc., como se estivesse no comité do seu partido (digo partido porque, pela "farda", ela não podia ter ido para lá como administradora).

 

O pior, o mais grave aconteceu quando, no cemitério, anates da descida da minha mãe à sua última morada terrena e sem sequer pedir permissão a nós, familiares da mamã, uma das 3 ou 4 senhoras da OMA (sempre rigorosamente "fardadas", mesmo no cemitério), deu alguns passos em direcção à urna para fazer um elogio fúnebre.

 

Em nome da OMA. Dirigindo-se à minha mãe tratando-a de "camarada Maria das Dores Nhongo"de quem dizia ser uma vibrante, assídua e consequente militante da OMA (veja-se o atrevimento), que nunca tinha faltado a uma reunião da OMA, que tinha mobilizado muitos militantes para a OMA/MPLA e com quem tinham realizado trabalho partidário (do MPLA) até à hora da sua partida para o mundo do além.

 

Primeiro, fiquei pasmo. Depois, revoltadíssimo com tamanha mentira e falta de respeito para com a morte da minha mãe. Eu não sei o que o MPLA pretendia com aquele teatro rigorosamente estúpido, mas fizeram-no. Procurei ficar calmo enquanto a "OMA" acaba de ler, a gaguejar, as suas intermináveis 2 páginas de discurso tresloucado (como se fosse possível alguma calma quando nos morre a mãe). Logo que o insulto terminou (porque de facto se tratava de um insulto) tive de fazer uso da palavra para desmascarar aquela palhaçada absolutamente despropositada.é que, e conforme eu disse na ocasião:

1. A minha me nunca tinha sido da OMA;

2. Eu visitava a minha mãe com muita frequência e nunca vi, em nossa casa, gente da OMA a fazer o que quer que fosse;

3. Nunca soube do facto de alguma vez a minha mãe ter "milhado" no MPLA, nem a minha mãe sabia o que é "militar";

4. Mesmo na UNITA, partido em que o seu "único filho" (como ela sempre me considerou, com algum ciúme dos meus irmãos, mas justificando carinhosamente a sua afirmação pelo facto de eu ter sido o rapaz que Deus lhe deu depois de 7 tentativas que só resultaram em meninas) é militante e dirigente; partido em que a mamã votou em 2008 e em 2012 (e seguramente votaria agora em 2017, se Deus não a tivesse chamado para junto de si); como dizia, nem mesmo na UNITA, ela milhou. Como diabo militariza no MPLA?;

5. Em 2006, quando esse estranhamente "seu" partido (MPLA) prendeu o seu "único filho", a minha mãe fez questão de "gritar" a sua revolta;

6. Quando saí de Cabinda, a 27 de Dezembro de 1997, fi-lo com a bênção total e inequívoca do meu pai e da minha mãe. Militante do MPLA?;

7. Entre as roupas da minha mãe não existe nem nunca existiu um camisola ou lenço da OMA,nem nenhum símbolo desse do MPLA;

8. Enquanto a minha esteve doente, na cidade de Tchiowa (ainda erroneamente chamada de "Cabinda"), no Buco Mazi ou em Ponta Negra, nunca vimos nenhuma "OMA". Afinal, andam aonde, as ilustres "camaradas" da minha mãe?

9. Tentei perceber duas coisas:

a) se a ideia era mostrar que há reconciliação nacional, com uma mãe da OMA a gerar um Vice-Presidente da UNITA; ou se

b) a falta de vergonha e de ética na política podia chegar a tanto;

10. Não sendo possível a primeira premissa, só o "pouco-vergonhismo" podia conduzir a tanto. "Pouco-vergonhismo" porque apenas ele pode levar gente (espero não me ter enganado) a agir dessa forma;

11. Já se viu o MPLA politizar tudo: as instituições, a comida, o medicamento, a chuva, as carências, etc. Mas chegar a ponto de politizar um funeral, um morto que não tem nada a ver com esse partido? Santo Deus! É caso para dizer que, de cima para baixo, o MPLA já desceu todos os degraus. Não falta mais nada para descer.Absoluta e rigorosamente mais nada.

12. Quando acabei de falar, em meio de aplausos de todos os presentes, as senhoras da OMA tinham desaparecido. Não sei se se terão enfiado num buraco qualquer, se se embrenharam na mata, enfim. Suponho, assim como todos que ali estiveram, que aquelas "OMAs" buscaram e encontraram o caminho mais curto para chegar a qualquer lado, longe daí.

Fica o recado para o MPLA: um pouco de ética na política, por favor!

OBS: brevemente, vou publicar o áudio da intervenção da OMA e da minha, pois fui informado que alguém esteve a gravar todas as intervenções.