Luanda - A ideia é retomada pelo porta-voz da UNITA, o maior partido da oposição em Angola. Alcides Sakala diz, porém, que é preciso vontade firme para pôr em prática uma estratégia comum contra o MPLA nas eleições deste ano.

Fonte: DW

As eleições gerais em Angola estão marcadas para agosto e o registo eleitoral decorre no país. Mas a União Nacional para a Independência de Angola (UNITA) está preocupada com a "interferência" do Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) no processo.

Em entrevista à DW África, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, diz que há uma "vontade nacional de mudança". O maior partido da oposição angolana quer que essa transformação "se faça num contexto de transparência e estabilidade".


DW África: A UNITA tem tido condições para desenvolver livremente a sua campanha em Angola com vista às eleições deste ano?
Alcides Sakala (AS): Ainda persistem algumas dificuldades que vamos enfrentando neste processo, mormente nesta fase do registo eleitoral. A nossa grande preocupação prende-se com a interferência do Executivo no processo do registo eleitoral, uma função que nós entendemos que devia ser da Comissão Nacional Eleitoral, enquanto órgão independente. Mas, pelo que nós temos vindo a acompanhar, e temos levantado esta questão inúmeras vezes e em diversos fóruns, é que não é papel do Governo fazer o registo eleitoral como se está a verificar em Angola. Nós entendemos a complexidade dos processos de organização das eleições. Muitas vezes, as fraudes são processuais, não surgem no dia da votação em si, mas durante o processo.

 

DW África: Tendo em consideração o poderio do MPLA, é de admitir que a UNITA está aberta a coligações com outras forças da oposição para enfrentar o partido no poder?
AS: Nós estivemos sempre abertos a coligações, partindo do princípio que quanto [mais] unidos formos melhor [será] para este processo eleitoral. Para todos os processos eleitorais. É um debate que se arrasta há já algum tempo. [As outras forças da oposição] têm posições em que manifestam também alguma vontade. Agora, é preciso passar da teoria à prática. É um debate que se tem de fazer. A UNITA mantém a sua abertura, naturalmente, para esta colaboração que nós pensamos que é necessária, essencial, para que se estabeleça esta plataforma comum para fazermos face ao MPLA.

 

DW África: O que mudaria na estratégia da UNITA se não houver uma nova candidatura do Presidente José Eduardo dos Santos?
AS: Bom, nós temos um programa eleitoral. Temos vindo a trabalhar intensivamente nestes últimos meses sobre este programa eleitoral, que define várias etapas. Mas, no essencial, aquilo que nós pretendemos é o controlo do voto. Portanto, estamos já muito avançados naquilo que é a nossa organização enquanto partido para garantirmos esta necessidade da fiscalização, não só do partido, como também da sociedade no geral.


DW África: Uma vez que não quer falar de José Eduardo dos Santos, quais são os focos temáticos da vossa campanha?
AS: Temos um manifesto que nós adotámos nas eleições anteriores. Servirá naturalmente de base para aprofundar as nossas reflexões na conjuntura atual, já que há mudanças profundas que surgiram. Há, por exemplo, esta situação de crise financeira e económica que o país está a viver, que teve um impacto muito negativo nas populações. Portanto, há um conjunto de fatores que vamos procurar aprofundar para integrar esta nossa visão programática com vista às mudanças que vão acontecer no país.


DW África: Acredita que as eleições gerais de 2017 serão transparentes, justas e abrangentes?
AS: Temos que acreditar. Temos que fazer um esforço nesse sentido, trabalhar e partir com algum otimismo, chamando a atenção desde já para aquilo que está errado - para a necessidade de procurarmos melhorar este processo. A nossa lei é muito clara sobre estas matérias. Depende agora um pouco da vontade política dos atores, sobretudo do Executivo angolano, para, desta vez, mudar de postura e termos um processo credível.