Luanda - Há já algum tempo ido, em que o pastor da Igreja Tocoísta, o senhor Afonso Nunes tinha afirmado que o presidente José Eduardo dos Santos era o escolhido e enviado de Deus para governar Angola. Na verdade, entre vários analistas esta tese apresentou várias controvérsias, por de um lado se considerar uma aberração e ofensa à Deus e por outro, insensibilidade perante o povo. Mas essas declarações são normais e por muito difícil se possa acreditar, elas são proporcionais às circunstâncias.

Fonte: Club-k.net

É normal que um líder seja considerado como escolha certa de Deus, pois os próprios ensinamentos bíblicos atestam que Deus dá à nação o rei que este povo merece; mas é conveniente lembrar que nem tudo que Deus põe em nossa vida ou escolhe para nós é bom: ou o faz por provação (quando é mau), ou por recompensa (quando é bom). Tenhamos os exemplos de Jó (na provação pelo sofrimento carnal) e de Abraão que gerou a Isaac (na recompensa pela fé).


Quando Jesus mandou separar o que pertence a César daquilo que é propriedade de Deus, deu o grande sinal de separação de funções entre o clero e o poder político; e assim, a Nação não pode estar às encostas desses falsos profetas que incutem na mente do povo as ideologias da militância partidária, usando o capote de um soldado de Deus.


O pastor Antunes Wambu tem ainda a oportunidade de ler as regras para atribuição do Prémio Nobel da Paz que não é só ele que o reclama, assim também o fazem os editores do Jornal de Angola, e quiçá… do folha 8. Se acontecer essa atribuição é um reconhecimento de que toda Nação se pode orgulhar, porque nossa imagem vaza negra no exterior e o dia que voltar limpa, nós sorriremos de felicidade. Se o nosso presidente for digno de um prémio de distinção internacional Angola toda pode se mostrar contemplada nessa liderança, pois os que atribuem esses prémios fazem-no com pelo menos uma maior justiça.


Eu contraponho: o líder religioso não deve fazer campanha política à favor de um partido ou orientar os cidadãos a quem votar, como defende aqui o cidadão pastor Antunes. O líder religioso orienta o povo de Deus nos caminhos da fé e mostrar ao mesmo povo a verdade sobre o seu país. Logo, quem escolhe aonde votar é apenas o crente.


Primeiramente iremos partir da premissa que padronizava que Angola não estava preparada para ter outro presidente… mas agora vai ter! E frustrou-se a profecia dos ditos patriotas que desprezavam as capacidades intelectuais dos angolanos até dos renomados militantes do MPLA. Agora vem a outra encenação Wambóstica de que “Angola não está preparada para ter outro partido no poder”. Que ele aponte um país preparado para tal e eu lhe mostrarei um autêntico mentiroso! Quais são as características de um país que almeja mudança ou transição? – A resposta é simples: o modus vivendi da população desse país. Se for eficaz, é favorável à continuidade e se for instável, é urgente uma transição que vise mudar o quadro da liderança. É preciso ficar do lado do povo para lutar pelo povo. Quem luta pelo povo é um herói; quem luta para o povo é um líder e quem luta contra o povo é um carrasco; e o pastor Antunes deve escolher sua posição nessa mala de opções.


Em relação ao MPLA, o pastor deturpou aquilo que os Estatutos do partido atestam como símbolos da organização, traduzindo um disparate contra o intelecto dos protagonistas que o criaram. Todos os militantes do MPLA sabem o que significa a cor vermelha e o artigo 5º dos seus estatutos é claro. Quem disse que Viriato da Cruz, Ilídio Machado ou Agostinho Neto pensaram no sangue de Jesus Cristo para traduzir o rubro da sua bandeira? E porque isso é deterioração das ideologias que nortearam a criação de um partido histórico e de âmbito nacional.


Numa época dessa em que o MPLA se encontra mais consolidado que qualquer outra força política do país, é absurdo trazer para as telas da televisão essas traduções medíocres; se o senhor Wambu fosse um militante verdadeiro, devia ter sido formado e lido os documentos orientadores do MPLA. Fora disso, ele é um inventor e maldizente. O MPLA não precisa de bocas sujas para se sobrepor, basta verificar a sua hegemonia parlamentar entre outras…massas! Neste caso, tirando os benefícios de que este partido pode ganhar com essas bajulações, o mesmo deveria reagir e dar um chega às invenções falaciosas sobre uma organização que tem tudo para ter tudo. Uma vez que o MPLA continua a mobilizar militantes que pouco sabem desse partido, então é necessário trazer à luz toda a verdade desde às bases ao topo. Só assim os militantes saberão defender o partido com sabedoria e consciência.


Em relação à UNITA, esse pastor parece que em 2002 ainda não tinha nascido, porque é abominável dizer que a UNITA tivesse que pedir perdão por crimes, quando o Presidente da República na altura dos acordos do Luena considerou amnistiados todos os crimes de guerra dentre os praticados pelo MPLA e pela própria UNITA (para mais informações consultar João Pinto). Hoje, a UNITA não tem dívida com Angola, tem apenas responsabilidades acrescidas para restabelecer a imagem que norteou o Projecto Muangai. E a UNITA continua a crescer para melhor confiança do povo poder merecer, tirando na cabeça desse povo aquelas ilusões de uma UNITA bárbara que infelizmente se sentiu através disso endemoninhada pelo próprio povo, o qual jurou defender em 1966. Todos na UNITA reconhecem os erros cometidos no passado, mas lutam para melhorar o presente, garantindo que o futuro seja uma aba que cada angolano possa se ver reconhecido.


Quanto à CASA-CE, a terceira força política do país, o pastor minimiza-a com assumpção de que está desorganizada. A CASA-CE está organizada à sua própria dimensão. Não é possível na boca do coelho entrar um elefante, pois cada um come aquilo que é compatível com o seu tamanho; mas o pastor deve reconhecer que a CASA-CE pelo tempo de vida que tem representa uma inovação política e até mesmo ideológica, o que deve orgulhar a praça da democracia angolana. Se a constituição defende o pluralismo político, a tolerância e o respeito pelas ideias dos outros, então é direito de todos os partidos olharem para os outros como parceiros e não inimigos.


Só quem vê Angola na Televisão consegue agir como diz esse senhor biblicamente politizado e polido para a banalidade.


Um atrevimento mais arriscado é quando fala do Islamismo (a 2ª maior religião do mundo), chamando-a de ilegal. Angola precisa inaugurar hospícios para pessoas saudáveis, isto é sério…! É pena que só Kalupeteka é considerado falso profeta quando os piores estão à solta. O Islamismo é uma religião tradicional do médio oriente, se solidificou desde o ano 622 da nossa era e não há maturidade no pastorinho de chamá-la “ilegal”.


Em que sensus? Quem diria que o Rei árabe adoraria uma religião que ele próprio acredita ser ilegal, se Constantino teve de legalizar a igreja Católica e oficializa-la para todo império romano? É dali que o povo crente em Deus verdadeiro precisa tomar consciência. E Jesus continua a nos exortar das falsas profecias e este é um exemplo não apenas claro, mas real à todo terreno. Ao ofender o Islamismo e enaltecer o cristianismo, esse pastor ameaça a tolerância religiosa e ultraja o critério da cultura e o dever de opção livre. Se ele não estudou a história do cristianismo trazido pelos padres e missionários como Héli Chatelain, então deve perguntar à CEAST ou à liderança do CICA para lhe explicarem tudo.


A África antes da colonização nunca conheceu nenhum cristo nem mesmo à distância, para hoje se vangloriar como se fosse herança ou tradição, quando na verdade o cristianismo em África é fruto de uma transmissão forçada, submissão, colonização e evangelização.


Quando a igreja católica se levanta para defender o povo de Deus (do qual fazem parte todos angolanos inclusive o pastor Wambu) muitos se levantam apontando dedos até aos bispos de S. Tomé. Uma coisa fique bem esclarecida: o senhor Wambu abusou com o MPLA, deturpando os seus magnos estatutos, minimizou a oposição angolana, menosprezou a dor dos angolanos sem dela ter falado para propor alternativas de superação e ainda o pior de tudo: diabolizou o islamismo.

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Felisberto Ndunduma Sakutchatcha