Luanda - Estava a trabalhar quando o meu Irmão Nascy chamou-me a dizer que havia um debate na TV Zimbo sobre “A Igreja e a Política” que precisava de acompanhar. Não hesitei, abandonei tudo que estava a fazer, fui sentar na sua sala e acompanhei o resto do debate com ele.

Fonte: Club-k.net

Por aquilo que vi e ouvi, tenho a seguinte opinião:


1. Rev. Wambo está adiantado no tempo. Nos países com democracia consolidada, é normal um líder religioso revelar o sentido do seu voto e tentar influenciar outros que o façam. Por exemplo nos EUA, o Bush filho, contou muito com o apoio de líderes religiosos para a sua reeleição no segundo mandato (Corrijam-me se estiver errado). Todavia, no nosso contexto, com uma democracia nascente e o país com bases frágeis enquanto nação ou nações (como queira), esta postura é totalmente desaconselhável. É conveniente o líder religioso ser visto como pai ou mãe de todos e de todas mas na hora do voto torcerá pelo partido do seu coração;


2. Rev. Wambo é transparente e firme nas suas convicções ainda que muitos discordem delas, incluindo eu. Pieter Botha (espero não confundi-lo com uma outra figura com nome semelhante) da África do Sul também foi assim. Acreditou até à sua morte na inferioridade do negro Sul-africano face ao branco mesmo depois de ter visto a África do Sul pós-apartheid. É bom ser transparente e firme mas nas causas nobres, infelizmente não é o caso dos dois. Mas também do lado oposto temos muitos que são hiprócritas e às vezes chegam a ser mais perigosos que esses que dizem publicamente o que pensam embora à moda do Donald Trump como fez o Rev. Wambo


3. Rev. Wambo foi injusto com os partidos da oposição e com o islamismo pela forma como se referiu a eles e pelo que pensa deles. Revelou-se ser intolerante político e religioso. A verdade é que todos os partidos são imperfeitos assim como os crentes de todas as religiões.


4. Parece-me que conseguiu desfazer os equívocos sobre a cor vermelha da bandeira nacional e do partido simbolizar o sangue de Cristo mas revelou que ao tentar fazer este tipo de extrapolação revela-se como sendo fanático partidário, o que também explica o desempenho desastroso que teve no debate.


5. Convenhamos, foi bom o Rev. Wambo ter estado no debate pois para além de fazer o contraditório, as reacções que provocou por parte dos telespectadores e agora dos internautas também, permitem-nos mensurar o grau de maturidade política e cívica dos cidadãos embora todos os que ligaram não constituam uma amostra representativa. A sua esmagadora maioria, discordou do Reverendo mas de forma moderada e respeitosa. Isso deve levar os líderes da Igreja Angolana (a começar por mim enquanto Pastor) a reflectirem sobre as posições políticas que assumem ou vão assumir em público face ao contexto em que nos encontramos e face aos desafios que temos de contribuir positivamente para a consolidação da paz, desenvolvimento inclusivo e reconciliação nacional.