Luanda - I. A palavra democracia, hoje difundida e popularmente proferida, que significa, etimologicamente, como muitos sabem, poder (krátos) do povo (démos), chegou até nós com o idêntico significado de quando foi cunhada pela primeira vez, cinco séculos antes de Cristo. Resultado do seu processo histórico, a passagem da democracia das cidades para a democracia dos Estados territoriais é, desde a segunda guerra mundial uma marca do sistema político internacional.

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II. O conceito de democracia, seja na academia, seja na prática política e no combate ideológico que lhe está associado, é polissémico. Basta lembrar, por exemplo, os regimes do "socialismo realmente existente", ou até mesmo, da actual Coreia do Norte. Aqui e acolá, o conceito de democracia é, pró bem e pró mal, a adjectivação comum da narrativa dos regimes políticos, e não só. Hoje, e mais um exemplo, a fraseologia “eu sou democrata/democrático” é uma proposição comum. Há, nesse quadro cognitivo, uma espécie de imperativo kantiano em ser/parecer democrata.


III. A democracia não se esgota nos princípios dos “ditames dos regimes ou sistemas de governo”, ou se preferir, nas regras de jogo de legitimidade dos Governos. A democracia é hoje um axioma, um modus operandi, modus vivendi, uma forma de ser e estar, em e com os concidadãos, semelhantes. E nisso a democracia não é apenas uma razão suficiente da tolerância, mas uma ontologia do reconhecimento do outro, da sua cosmovisão, política, social, económica...


IV. O ser químico-físico “democrata/democrático” não é apenas um adorno, nem um escrito no peito, à parte da materialidade comportamental, no seu sentido relacional. A pseudo-democracia resulta do pensar-agir dos que se dizem à "boca cheia": democratas!, e que não passam de impostores, novos ignorantes, rudes. Activistas do contrismo inócuo, apresentam-se como profetas da moralidade instrumental que vê na opinião diferente um atentado à sua farsa. A pseudos-democracia é também a inércia da adjectivação do outro, mesmo sem argumentos de razão. Uma despropositura!


Gildo Matias José