Luanda  -   O País encaminhava-se inexoravelmente para o ABISMO, ainda bem, que o Presidente mudou de ideias e, porquê que o Presidente mudou?

 
Fonte: Club-k.net
 
E o Que Querem, os Homens do Presidente? 
 
O Presidente mudou como é demasiadamente óbvio ,porque está doente e, provavelmente houve algo fora do comum, com a sua Saúde.
 
 
Sejamos claros, se JES quisesse de livre e espontânea vontade abandonar o poder, tê-lo-ia feito aquando da realização do VII Congresso do MPLA em Agosto passado, pois, não nos esqueçamos que JES “ganhou-o” em toda linha, com 99,6% dos votos expressos, foi o Congresso da consagração do EDUARDISMO, como modus operandi de fazer politica e, tendo como expressão máxima a bajulação ao Chefe.
 
 
O jornalista Gustavo Costa, numa análise interessante, na sua coluna de Opinião no Novo Jornal e intitulado; “Angola não pode mais esperar” dizia; “ Catorze anos depois, Angola está na verdade, parada e a espera de um Novo Ciclo, pode ser o Dilúvio, mas pode acabar por ser a nossa esperança. Pode ter um desfecho trágico, mas pode acabar por ter o posfácio mágico. Pode ser o princípio de um naufrágio...naufragaremos se insistirmos em pretender ir mais longe que o nosso fôlego permite”. Reconheçamos o valor meritório dessa premonição.
 
A Transição e não a Substituição, é um imperativo Nacional, não há que escamoteá-lo, o contrário, será o caminhar para o ABISMO. É que, a nossa realidade social, política e histórica , faz-me lembrar IAN KERSHAW, o autor do livro; “ A Beira do Abismo- A Europa 1914-1949 “. Em que um dos personagens relatados neste livro; Chaim Hermann o poeta Checo e prisioneiro em Auschwitz, dizia“... Emergiremos em fileiras medonhas...e rugiremos na cara de toda a gente; nós os mortos acusamos. É necessário evitar a todo o custo essa tragédia, ciclicamente repetitiva como acontecera em 1975,1977 e 1992.
 
 
Por mais que o queiramos emoldurar , o projeto político actual do Presidente José Eduardo dos Santos , não é reformável, nem é regenerável, só uma transformação do paradigma de actuação desse Partido; o MPLA, permitirá refundá-lo.
 
Quer queiramos ou não, e, temos de o admitir, que na última fase da sua governação, JES foi um Ditador, que usurpou todas as competências do Estado para si, assumindo a narrativa do Rei Luís XIV; “L ́Etat C ́est Moi”. E esta é uma desvantagem sua, comparativamente aos líderes de Estados Democráticos, porque as Ditaduras não se regeneram. JES como todos os outros , sofreu a ilusão dos Ditadores; julgou que o Povo lhe pertencia e, que o “Tempo Humano” lhe era Intemporal.
 
 
Face a constatação tardia, da não intemporalidade do “ Tempo Humano ” e, da imprevisibilidade da vida humana nas circunstâncias actuais em que se encontra, JES equacionou cinicamente uma substituição e, não uma verdadeira transição democrática dentro do MPLA, caso contrário, ele próprio teria incentivado e caucionado em tempo útil, a realização de eleições primárias no seu Partido e, quem as vencesse ,teria legitimidade para implementar reformas profundas que o MPLA e a Sociedade angolana necessitam, como pão para a boca.
 
 
 O Presidente está numa encruzilhada; a sua frenética luta contra o Tempo Humano, que ele julgava Intemporal e, que nas circunstâncias actuais lhe é manifestamente desfavorável. Isto é perfeitamente perceptível, é só o olharmos como diz o Povo ; “ Olhos nos Olhos”.
 
 
E o dilema do Presidente, é transversal a magnitude do imenso poder que ostenta. A CRA de 2010, a que chamaria o “FATO de JES”, foi feito exclusivamente para ele. A questão que subjaz a JES e lhe deve tirar o sono é; como transferir o “FATO” para alguém que JES sabe, que não lhe será incondicional nem a ele, nem a sua família, no médio-longo prazos, tal como ele o fizera ao Presidente Neto!?
 
 
O Presidente subestimou o Tempo e, o tempo é um elemento essencial em qualquer estratégia política . JES sabe, que João Lourenço (JL) como seu putativo Cabeça de Lista,( se pudesse escolheria o filho; Zeno ) não pode, nem deve ter o imenso poder que ele tem, porque João Lourenço não é, nem nunca será, o seu Clone e, não podendo fazer alterações ao seu “FATO” entenda- se Constituição JESiana , vai querer amarrar o seu Substituto, á um verdadeiro colete de forças no curto-médio prazos, mais que em termos de longevidade estratégica, vir a constituir um autêntico logro ou, no mínimo, levará a convulsões internas dentro do Partido , o MPLA.
 
 
Eis os prováveis cenários no Curto prazo, para o Colete de forças, a que JES quererá amarrar João Lourenço:
 
- JES manter-se-á provavelmente a frente do MPLA, reforçando o poder do Secretário Geral, Paulo Kassoma, que será o verdadeiro patrão do MPLA, (o prolongar da função de Ministro da Defesa com a de Vice-Presidente do MPLA por parte de JL, visa criar limitações da sua Acção, com a aparente incompatibilidade da actividade castrense com a partidária)voltando a dar protagonismo e poder ao partido, que ele esvaziou com a introdução da cultura política; do omnipresente Eduardismo.
 
 
- Vai certamente repor o papel fiscalizador da Assembleia Nacional, não é inocente, o facto de Nandó apresentar-se na sua proposta, como o 3o da lista e, a ser eleito Presidente da Assembleia Nacional, caso o MPLA ganhe as próximas Eleições Gerais (que as ganhará com o processo de Fraude em curso).
 
 
- Tentará repor parcialmente a independência do Poder Judicial, principalmente do Tribunal Constitucional, para que este fiscalize as acções sucessivas da governação, não nos espantemos, se por iniciativa legislativa do seu apêndice; a FNLA de Lucas Ngonda, se venha a solicitar a revogação da decisão do Tribunal Constituição “ sobre a questão da fiscalização pela AN dos Actos do Governo”.
 
 
 No médio prazo, haverá alteração da Constituição , paradoxalmente com o apoio do próprio MPLA, pois mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, penso ser benéfico para quem assumir o Poder. A partilha do poder, retira em última análise o ónus da não culpabilização exclusiva dos fracassos da governação, sobre o líder, passando a ser partilhada.
 
 
Entretanto, o “Tempo Humano” que não é Intemporal, veio baralhar as contas á JES e, ao próprio MPLA e, vive-se pela primeira vez, desde a fundação da era Eduardista, quase que um sentimento de Orfandade face ao processo demissionário do Chefe, aliada a profunda crise social, económica e financeira, em que, o MPLA apresenta-se demasiadamente fragilizado e sem iniciativa estratégica, para ultrapassar as enormes adversidades e, ganhar as próximas eleições gerais, consubstanciado pelo enorme desencanto do seu eleitorado urbano que por sinal é o mais esclarecido. O MPLA vai apresentar-se às próximas eleições, com uma estratégia que não é de toda sua , mas sim de JES, que fundamenta a sua ação política na Fraude, como meio exclusivo para a conquista do Poder.
 
 
Como compreender que há oito meses das Eleições Gerais, o MPLA não potencie o seu putativo Cabeça de Lista; o General João Lourenço (JL) e esteja a tergiversar? Só é compreensível, essa estratégia ,aparentemente suicidária, por parte dos Homens do Presidente, na sua aposta ao controlo dos mecanismos informáticos que levarão á Fraude. E, é essa certeza, que levará ao condicionamento político no curto prazo de João Lourenço . Daí que se compreendam dois factos aparentemente inocentes, mais humilhantes para JL:
 
- A ida provocatória do Presidente JES, aos Coqueiros na tarde de 10 de Dezembro, logo após o Acto Central, presidido por JL. Sabia-se que JES não iria ao Acto Central por questões de Saúde, dado o ambiente ensolarado, pois como se sabe, JES teve uma queda quase ao solo no funeral do irmão e, a repetir-se...!!!
 
- O outro facto também aparentemente humilhante, foi o de terem enviado JL á Seul por seis dias, sem que tenha assinado sequer um memorando de intenções!! Os Homens do Presidente quererão condicionar JL, face ao enorme poder militar, económico e financeiro que possuem.
 
 
A principal condicionante de JL nas circunstâncias politicas actuais, é a sua falta de legitimidade política. A legitimidade ganha-se, conquista-se e, ele ainda não conquistou absolutamente nada. As Primárias no MPLA teriam resolvido o problema da legitimidade político- estratégica de JL. Percebe-se por isso a posição ambivalente do Presidente; saio mas,“L ́État C ́est Moi “.
 
 
 Perante tamanha evidência de falta de popularidade de JES, do elevado descontentamento popular ( em que o absentismo ao registo eleitoral tornou evidente esse facto ), associada a fragilidade estratégica do MPLA e, aliada também ao factor “ Tempo Humano “ de JES, torna-se incompreensível a inação estratégica da Oposição, em não conseguir marcar a agenda política fora dos marcos definidos por JES.
 
 
Os marcos da luta política, não se devem circunscrever ao excessivo legalismo por parte da Oposição, pois os dois últimos Acórdãos; do Tribunal Supremo, relativamente a nomeação de Isabel dos Santos e, do Tribunal Constitucional, relativamente a condução do processo eleitoral pelo MAT, puseram a nu esta estratégia errática, por parte da Oposição. Como dizia a Juíza Conselheira do Tribunal Constitucional, Dra. Imaculada Melo, na sua Declaração de Voto Vencida; “ O Presidente da República ,exerce funções de Chefe de Estado no processo Eleitoral, isto é; o seu único e exlusivo papel, é o de convocar as Eleições, como compreender que um Órgão Auxiliar seu, no caso o MAT, tenha competências que extravasam aos do Titular do Poder Executivo, que a Constituição consagra não ter outra função que não aquelas?”
 
 
É por vezes compreensível a atitude da Oposição, no contexto da disputa politica actual, baseada na manipulação, no terror e na propaganda desenfreada, por parte do regime angolano, que procura incessantemente um Inimigo interno, personificada na UNITA. Por isso compreende-se, a Acção dos serviços de Inteligência, dos Homens do Presidente, que querem condicionar o processo de transição política com o argumento da INSTABILIDADE. Os Homens do Presidente, engendraram um plano macabro de condicionamento político, de tudo e de todos, incluindo o próprio JES, numa tentativa suicidária sem precedentes, de o fazerem recuar da posição assumida na Reunião do BP do MPLA . Qual o argumento? Segundo o General Zé Maria, Chefe dos Serviços de Inteligência, do EMG da FAA , alega que o General Lúcio do Amaral, Comandante do Exército , e que é natural do Huambo e, que detém o Comando Operacional-Estratégico de todas as Forças Terrestres da República de Angola , (sob orientação expressa, do Chefe da Casa de Segurança, General Kopelipa), pois o actual Chefe do Estado Maior das FAA, General Nunda não tem forças sob sua alçada directa, estaria mancomunado com a UNITA, formando Células nas Unidades Militares. É demasiadamente falacioso o argumento , mas com efeitos políticos devastadores ,pois condiciona o Presidente e as demais forças politicas, com o argumento lapidar da Instabilidade política. A Oposição deve desmascarar com a acção política esse plano macabro, para não ser apanhada pelo turbilhão.
 
 
Os Homens do Presidente condicionarão João Lourenço? Pode ser que sim ,porque JL, em linguagem metafórica, é ainda um bebé dentro da barriga da mãe e, se a mãe quiser..., pode abortá-lo. Pode ser que não, é minha percepção, o processo é irreversível porque o “ Tempo Humano “ não joga a favor do Presidente nem dos seus Homens. É uma luta pela sobrevivência dos Homens do Presidente, para ganhar espaço de manobra política, mas que poderão provocar danos colaterais.
 
 
Condicionarão a Oposição? É algo provável, intimidando-os, para caucionamento da Fraude Eleitoral. Não é por acaso que o “Inimigo” interno ,como factor de Instabilidade para o Regime político vigente, volta a ser novamente a UNITA. É lapidar, faz parte das 48 Leis do Poder.
 
 
A Oposição apesar de desunida terá de desenvolver tarefas urgentes e que são inadiáveis:
 
 
- Pressão para urgente marcação da data das Eleições Autárquicas, que deverá ser anunciada aquando da marcação da data das Eleições Gerais.
 
 
- A sensibilização do eleitorado, para o controlo popular do seu voto. Tendo como base um slogan “ Ninguém rouba o meu Voto “. Como fazer? Contagem in situ dos votos e a transcrição da mesma em Acta da Assembleia Eleitoral, ou a permanência dos eleitores a 100 metros das assembleias de voto até ao fecho das urnas. Se o eleitor não for sensibilizado para esse desiderato, a FRAUDE vencerá mais uma vez.