Lisboa - A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que o porto de águas profundas em Cabinda "deve causar alguma controvérsia" devido às ligações entre o presidente do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) e o do Porto do Caio, responsável pelo projecto.

Fonte: Lusa

Para os peritos da unidade de análise da revista britânica The Economist, o investimento do FSDEA, no valor de 180 milhões de dólares (167,5 milhões de euros), "deve causar alguma controvérsia, já que o presidente da Porto do Caio é Jean-Claude Bastos de Morais, um amigo de longa data e parceiro empresarial do presidente da FSDEA, José Filomeno dos Santos".

 

A EIU lembra que Bastos de Morais "é também o fundador e presidente da Quantum Global, uma firma de investimentos que gere os fundos em nome da FSDEA", e acrescenta que a operação em Cabinda, para criar o primeiro porto de águas profundas em Angola, se insere “nos objectivos anunciados de melhorar a infraestrutura para ajudar a diversificar a economia, afastando-a da dependência do petróleo".

 

Dada a localização geográfica, "Cabinda está actualmente muito dependente dos bens que chegam de Pointe Noire, no vizinho Congo, que são depois transportados por estrada para Cabinda, ou trazidos de avião de Luanda, o que tem mantido os preços altos, e as erráticas redes de oferta dificultaram o desenvolvimento do sector privado", diz a EIU.

 

O porto, concluem os analistas da Economist, "vai dar um importante impulso à província, onde o desenvolvimento económico atrasou-se face ao resto do país".

 

No comunicado de imprensa sobre este investimento, o presidente da FSDEA refere que este projecto prevê a criação de "mais de 20.000 empregos", agregando "mais valores conducentes ao desenvolvimento nacional".

 

O investimento será realizado pelo fundo de 'private equity' para Infraestruturas do FSDEA, que foi especificamente capitalizado com 1,1 mil milhões de dólares (mil milhões de euros) e desenvolvido em duas fases.

 

A primeira consiste num terminal de 630 metros de comprimento, ligado à costa através de uma ponte de 2.000 metros de comprimento. O canal de acesso terá 15 metros de profundidade e o terminal beneficiará de uma profundidade de 14 metros.

 

Incluirá ainda um estaleiro naval, um porto seco, uma zona industrial e outra franca em Cabinda - que garante a maior parte da produção de petróleo em Angola -, de acordo com informação do FSDEA.

 

"Os investimentos no sector industrial e nas infraestruturas de apoio ao comércio na região subsaariana têm apresentado elevados índices de lucratividade e resistência aos riscos associados aos países no nosso continente. Alocar capitais às infraestruturas marítimas e de apoio logístico e industrial em Angola permite diversificar outros investimentos nos mercados financeiros internacionais presentes na carteira do FSDEA", declarou José Filomeno dos Santos.

 

De acordo a informação divulgada no final de Janeiro, o FSDEA tinha, a 30 de Setembro de 2016, activos no valor de 4,755 mil milhões de dólares (4,4 mil milhões de euros), em várias áreas, provenientes de transferências do Estado angolano.