ImageLisboa -  O sector dos diamantes (AM 367) é praticamente o único em que são já muito nítidos efeitos nocivos da presente crise económico-financeira em Angola. Entre tais efeitos avulta o estado de desânimo e as dificuldades que os investidores nacionais deixam transparecer em razão de imprevistos como a paralização da actividade.

As vicissitudes que atingem a economia diamantífera (toda a cadeia dos seus agentes) não estão reproduzidas noutros sectores, pelo menos com a mesma intensidade. Mas começam a ser assinaladas na acção governativa e na conduta da elite e dos endinheirados atitudes reveladoras de reserva e preocupação geral.

O principal fulcro de tais preocupações reside em dados de informação, do conhecimento restrito ou do domínio público, acerca do desempenho da economia angolana e do estado das finanças públicas.

 A saber:
- As receitas fiscais oriundas do petróleo caíram para metade.
- O volume das reservas internacionais de divisas decaíu 30% (reflexo conjugado da diminuição das receitas petrolíferas com o recurso às reservas para dar vazão a uma “política de contingência” de venda de moeda estrangeira com o objectivo de manter inalteradas as taxas de câmbio).
- Quebra acentuada do investimento externo – o que levou a ANIP a protelar a entrada em vigor de novas normas para o investimento externo.
- Dificuldades acrescidas no acesso ao crédito externo.
As preocupações dos governantes e dos empresários face aos efeitos da crise em Angola só começaram a evidenciar-se há c 4 meses. Até então o fenómeno foi minimizado, apesar de a economia depender em larga escala de dois únicos sectores – diamantes e petróleo, ambos severamente atingidos pelo ambiente de recessão internacional.

2 . Os governantes angolanos costumavam realçar, entre os bons resultados do seu desempenho macroeconómico, a estabilidade da moeda e as baixas taxas de inflação. Na
fase inicial da crise foi mesmo posta em prática uma onerosa política considerada apta a manter inalteradas as taxas de câmbio.

A referida política, que consistiu na venda interna de divisas provenientes das reservas, foi entretanto abandonada; não produziu efeitos benéficos e deu azo a perversões como uma redução das reservas e início de uma desvalorização nominal da moeda nacional, acompanhada de previsões de desvalorizações bruscas, correntes no passado.

O Ministério das Finanças lançou uma operação de venda de títulos, de cujo sucesso dependia também o êxito da política cambial. As expectativas de encaixar c USD 550 milhões ficaram muito abaixo – apesar de alguns bancos terem efectuado subscrições substanciais de obrigações.
A inflação está igualmente a subir, presentemente 12/13%; a alteração é vista com preocupação no contexto de distorções da realidade angolana como a taxa de 40% de desemprego e o elevado custo de vida (um medicamento custa mais do dobro que em Portugal).

3 . O presente “despertar de consciências para a crise”, conforme expressão corrente, está traduzido em atitudes comezinhas como maior contenção individual de gastos e ponderação acrescida em relação a novos negócios. Também são notórias recatadas dúvidas quanto à capacidade para construir um milhão de casas em 4 anos.
A nova realidade não é estranha a factos como os seguintes:
- O investimento público, nomeadamente em infra-estruturas, caiu 40% (a construção do novo aeroporto de Luanda está, de facto, suspensa sine-die; em seu lugar vão ser efectuadas melhorias no aeroporto existente, no valor de USD 70 milhões)
- Anúncio oficial de planos e políticas de emergência destinadas a relançar sectores da economia fundamentais na época colonial (AM 369), entre os quais a agricultura e a indústria.

4 . Em Fev e Mar as receitas petrolíferas subiram ligeiramente devido a um aumento dos preços e da própria produção (c 1%). O ambiente geral é, porém, de cepticismo (AM 363), também atribuído a conjecturas segundo as quais os preços do petróleo vão manter-se baixos ainda durante muito tempo por efeito combinado de dois factores:
- Baixo consumo ditado por contracção geral da economia mundial.

- Anormal propensão dos países produtores, em especial os do Golfo, para venda de petróleo a preços aviltados como forma de conterem pressões económicas e financeiras a que estão sujeitos.

Fonte: AM