Lisboa - Soren Kirk Jensen, analista da Chatham House, diz ser pouco provável que o candidato do MPLA escrutine a forma como a elite política acumulou riqueza nas últimas décadas.

Fonte: Lusa

O investigador da Chatham House Soren Kirk Jensen considera que Angola está a seguir um padrão de democratização gradual, mas alerta que quem espera uma mudança política rápida ou radical vai ficar desiludido com João Lourenço.


“À medida que o processo se desenvolve, torna-se claro que Angola está a seguir o caminho do padrão de democratização gradual seguido por outros governos no sul de África por antigos partidos de libertação que lideraram as lutas armadas pela independência”, escreve o investigador dinamarquês.


Num extenso artigo de análise à escolha de João Lourenço como candidato do MPLA às eleições presidenciais, o investigador da Chatham House diz que “a transparência sobre a nomeação é uma boa notícia”, porque mostra maturidade do partido no poder e facilita uma transição pacífica, “evitando a emergência de um vazio no poder e o risco de lutas políticas internas”.


O facto de José Eduardo dos Santos não ter escolhido um familiar próximo é, para este investigador, um sinal “de que os freios e contra-freios internos podem ser mais fortes do que muitos imaginavam”, acrescentando que “há indicações de que a ‘velha guarda’ e os verdadeiros ‘fazedores de acordos’ se cansaram das nomeações dos membros da família do presidente para posições importantes” no país.


João Lourenço, diz Soren Kirk Jensen, tem “uma sólida relação com os generais do partido”, e é casado com Ana Afonso Dias Lourenço, que durante muitos anos foi ministra do Planeamento, e que foi directora executiva na administração do Grupo Banco Mundial, representando Angola, Nigéria e África do Sul.


Descrito como “um político moderado com a capacidade de fazer a ponte com várias facções diferentes”, João Lourenço “é próximo do presidente, mas não deverá ser um mero joguete”, diz o analista, para quem as expectativas de grandes alterações políticas vão sair goradas.


“Aqueles que esperam uma mudança política rápida ou até radical vão ficar desiludidos; apesar de a sua reputação sobre corrupção ser notavelmente limpa, não é provável que Lourenço vá escrutinar a maneira como a elite política e económica do país acumulou riqueza pessoal nas últimas décadas da bonança fomentada pelo petróleo”.


Para o futuro, Soren Kirk Jensen identifica dois desafios principais para Angola: libertar-se do peso do petróleo e sair de uma profunda crise económica e, por outro lado, melhorar as condições sociais para conseguir reduzir a pobreza.