Luanda  - O governo angolano tem envidado esforços na expansão da Rede de Mediatecas de Angola, já existentes em pelo menos seis províncias (Benguela, Huambo, Luanda, Lubango, Saurimo e Soyo), com serviços online de pesquisas integradas, biblioteca, leituras de e-books, etc. Consecutivamente a isto, disponibilizou pontos de acesso à internet (wifi) gratuitos em 20 artérias (1) da capital do país.

Fonte: VOA

Entretanto, mesmo com todos estes esforços, ainda é muito longo o percurso que temos pela frente para atingir grandes taxas de penetração (2) comparativamente à Nigéria que possui uma densidade populacional de 186.987.563 milhões de habitantes, dos quais 86.219.965 são utilizadores de internet (3), representando uma taxa de penetração de 46.1%. Ou seja, em cada 100 nigerianos (comparativamente ao percentual da taxa de penetração) quase metade usa a Internet, dados que o tornam no país africano com maior número de utilizadores da Web.

 

Subindo um pouco mais a fasquia, trazemos como exemplo o número de internautas que existem nos Estados Unidos da América. Com mais de 324.118.787 milhões de habitantes, aquele país do primeiro mundo possui 286.942.362 cibernautas, sendo que a taxa de penetração é superior a 88% (isto é, em cada 100 americanos 88 usam internet).

 

Dados interessantes, não é? Sim. E acima de tudo curiosos. Mas então, e nós Angola, como é que nós estamos? Que dados existem sobre os nossos internautas? Quantos de nós utiliza esta ferramenta, internet, cada vez mais indispensável para as nossas vidas ou para o nosso quotidiano? Quais são os nossos números? Será que estamos bem? A resposta é não! Apesar dos esforços do Governo ainda estamos longe comparativamente a Nigéria, Zimbabwe ou a África do Sul.

 

É que, segundo dados do relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados em Março de 2016, sobre o Censo da População e Habitação em Angola, existem no país 2.119.946 milhões de utilizadores de internet. Comparativamente ao índice populacional de Angola (25.789.024 de habitantes), em cada 100 angolanos apenas 8 usam internet, isto porque a taxa de penetração é de apenas 8,2%.

 

Olhando para estes dados, tendo em conta as 18 províncias do País e a densidade populacional das mesmas, é como que estes utilizadores representassem apenas a província de Benguela, com 2.231.385 milhões de habitantes. Isto é, o número de cibernautas em Angola é insignificante, face a média de utilizadores da internet da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que é de 12%.

 

Destes 2.119.946 milhões de utilizadores de internet em Angola, posso afirmar que existem algumas centenas de cibernautas que possuem capacidade de compra real – online ou offline, por intermédio da internet – inseridos na sua maioria entre as classes média/alta, das mais várias idades.

 

Para alguns produtos o uso da internet como ferramenta de compra e venda pode ser inútil, mas para outros segmentos pode significar a sua sobrevivência.

 

O consumidor da internet é diferente, possui um comportamento nada parecido com o do comprador convencional. O consumidor da internet é exigente, é impaciente, seja para visualizar uma página ou para receber um produto, quando decide reclamar não poupa palavras, pesquisa muito antes de comprar, procura normalmente o preço mais barato, enfim.

 

Deste modo, entendo que ainda temos muito para percorrer em Angola, particularmente, na região (SADC) e quiçá em todo o continente, de modo geral.

 

O(s) Governo(s) deve(m) realizar acções que consistam em fortes investimentos em infra- estruturas tecnológicas “funcionais” e de baixo custo, de modo a não encarecer os serviços ao utilizador final.

 

Partilho abaixo algumas recomendações de especialistas na matéria, aquando do 2.o Fórum para a Governação da Internet da África Austral, realizado em Luanda, em 2013. Estiveram presentes Angola, Moçambique, Tanzânia, República Democrática do Congo, Malawi, Zimbabwe, Suazilândia, Namíbia, Maurícias, Zâmbia e Lesoto.

“Aumentar o acesso à Internet na região é o caminho para atingir o sucesso económico, político e social projectado”.

“A região tem de encontrar formas de acesso mais baratas e outras soluções para massificar os serviços e diminuir os preços”.

“A outra questão que influencia nos preços da Internet é o facto de não haver conteúdos locais”.

“Há necessidade de aumentar as capacidades dos cidadãos na área das Tecnologias de Informação e Comunicação”.

“Os africanos estão cada vez mais consciencializados sobre a necessidade de uso das tecnologias de informação sendo que o desenvolvimento dos povos africanos está dependente em parte da evolução das tecnologias de informação.

"Se quisermos ser competitivos e melhorar a vida dos nossos povos devemos assegurar que haja tecnologias de qualidade em todo o lugar e para todos".

Entretanto, ainda relativamente a estes dados, constatei – daí a curiosidade que me referi acima – alguma discordância entre os do INE (2014/16) e do Internet Live Stats (4) (2016) – website dedicado em questões estatísticas relacionadas com a Internet em todo o mundo – no seguinte:

 INE - (População: 25.789.024 | Utilizadores de Internet: 2.119.946 | Taxa de penetração: 8.2%)

 Internet Live Stats - (População: 25.830.958 | Utilizadores de Internet: 5,951,453 | Taxa de penetração: 23%)

(1) https://www.menosfios.com/conheca-zonas-com-internet-wi-fi-gratuita-em-luanda/

(2) A taxa de penetração de um produto, ou serviço, consiste na percentagem de compradores que comprou o produto, pelo menos uma vez, durante um determinado período de tempo considerado para análise. Ou seja a taxa de penetração é a percentagem em termos do número de potenciais clientes desse mesmo mercado.

(3) Pessoa que pode aceder à Internet a partir de casa e através de quaisquer tipos de dispositivo ou conexão.

(4) http://www.internetlivestats.com/internet-users/angola/

Por: Valdemar Vieira Dias