Lisboa - As exportações de vinhos portugueses caíram 1,1% em 2016 para os 726,9 milhões de euros, indicam os dados do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) que mostram o peso do mercado angolano neste desempenho, com uma queda de 54,8% em valor, de 77,6 para 32,8 milhões de euros, entre 2015 e 2016.

Fonte: Expresso

No último ano, as exportações de vinhos lusos também caíram 0,9% em quantidade, para os 2,76 milhões de hectolitros. E o preço médio por litro sofreu uma descida de 0,1%, para os 2,62 euros.

 

A pressão do mercado angolano, mais uma vez, faz-se sentir no volume exportado, com uma descida de 67,6%. Já no preço médio, Angola acabou por contrariar a corrente e protagonizar uma subida de 39,5%, para os 1,94 euros/litro.

 

É um desempenho que não surpreende o sector, já à espera do impacto da quebra na frente angolana e certo de que o corte foi mais sentido nos vinhos mais baratos. "Os vinhos bons continuaram a ser comprados por quem tem poder de compra", comenta Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, que tinha em Angola 25% das suas exportações, em 2015, e viu o peso desta geografia cair para 8% no ano passado.

 

A exportar 17% das 1,1 milhões de garrafas que produz, no valor de 3,3 milhões de euros, a Bairrada conseguiu, no entanto, estabilizar as vendas em 2016, transferindo o que vendia para Angola e Brasil para mercados como o Canadá e EUA, diz Pedro Soares.

 

OS ESTRANHOS CASOS DO REINO UNIDO E DA RÚSSIA


No ranking dos maiores mercados dos vinhos portugueses, liderado pela França, com 380 mil hectolitros (mais 3,5%) e 110 milhões de euros (0,3%), o segundo lugar continua a ser do Reino Unido, mas os efeitos do brexit fizeram sentir-se na dicotomia entre a subida de 6% em quantidade e uma descida de 2,7% em valor. É uma evolução que, ao contrário de Angola, reflete uma descida de 8,2% no preço médio por litro, para os 3,68 euros, indicadora da opção por vinhos mais baratos.

 

Os números do IVV confirmam as tendências de alta em destinos como os EUA (mais 8,8% em quantidade e 8,6% em valor), terceiro no ranking das exportações lusas, e também do Canadá (5,7% e 6,3%, respetivamente).

 

Já a Holanda, o quarto maior cliente do país, combina crescimentos de 6,2% em quantidade e 8,6% em valor e 2,4% no preço médio.

 

Para a China os números também são positivos: o preço médio aumentou 11,2% (2,41 euros) e as vendas em litros subiram 11,2% e 23,7% em valor, sendo atualmente o 14.º mercado dos vinhos lusos.

 

No caso da Rússia, as vendas cresceram 658% em quantidade, para os 45 mil hectolitros, mas aumentaram apenas 136,8% em valor, para os 3,7 milhões de euros, o que significa que o preço médio caiu 68,8% , para os 0,83%.

 

No Brasil, um dos mercados prioritários na estratégia de promoção dos vinhos nacionais e nono na lista das vendas ao exterior, as exportações em quantidade aumentaram 18,6%, para os 116 mil hectolitros, e 0,5 % em valor, para os 28,9 milhões de euros, enquanto o preço médio perdia 15,3%, para se situar nos 2,48 euros.

 

"Este é um dos casos que me surpreende porque é um dos mercados onde Portugal e os produtores portugueses têm investido muito na promoção dos seus vinhos", sublinha Pedro Soares, preocupado com "a perda de margem do valor criado nos vinhos nacionais" que este quadro reflete, tal como o próprio mercado nacional.

 

OS 12 RECORDES DO VINHO VERDE


"Já se nota alguma descida de preços e vemos promoções de algumas marcas em grandes superfícies que traduzem alguma loucura desses operadores e podem ter um impacto negativo no seu posicionamento e nos preços", comenta.

 

Olga Martins, administradora delegada da duriense Lavradores da Feitoria reitera esta preocupação. Por um lado há perdas significativas de venda no mercado angolano, por outro, diz "há o vinho que fica por vender em Angola e pode levar à descida de preços noutros mercados", afirma.

 

"Depois, há todo o trabalho de imagem e de valorização dos vinhos do Douro e de Portugal, desenvolvido ao longo dos últimos anos, que pode ficar comprometido", acrescenta a administradora desta empresa, destacada na última edição da revista "Wine Spectator" como uma das "estrelas emergentes do sector" e uma das 30 empresas vitivinícolas do mundo que um consumidor tem de conhecer.

 

Criada há 16 anos por um grupo de produtores do Douro que vende no exterior 70% dos seus vinhos, a Lavradores da Feitoria fechou 2016 em contraciclo com o quadro geral dos vinhos portugueses, uma vez que o volume de negócios cresceu 25%, para 1,9 milhões de euros, mas Olga Martins não tem dúvidas de que "os produtores estão a sofrer muito em Angola".

 

No seu caso, no entanto, este não é exatamente um problema porque Angola valia menos de 10% das vendas e foi substituído por outros destinos, designadamente os EUA, que deverão passar a Noruega como principal mercado da empresa já este ano.

 

Em contraste com o quadro geral nacional, a região dos Vinhos Verdes também apresentam um crescimento próximo de 10% nas exportações de 2016, para os 59,8 milhões de euros, o 12º recorde consecutivo nos mercados externos

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