Benguela - Tenho toda roupa suja. Quero-a limpa.  Porém, falta-me sabão. Então, mandei os meus filhos às compras para que me trouxessem em abundância.

Fonte: Club-k.net

No entanto, depois de mais de mil voltas, regressaram furiosos e ferozes, nada encontraram. E o mais doloroso, foi o facto de me ter esquecido de os entregar dinheiro.


Desabafaram incansavelmente aos meus frágeis ouvidos. Ainda sim, sensibilizei um deles, o mais obediente e destemido para que fosse novamente procurar sabão.


Inicialmente, hesitou mas pensou nas vantagens e aceitou. Passado algum tempo, regressou felicíssimo. Trouxe-me o sabão. E assim eu estava pronto para começar a lavar a louçã.


Tirei a roupa suja do guarda-roupas e de todos os lugares. Contudo, melancolicamente não havia água na torneira nem nas reservas habituais.


O pior é que em cada par de hora, tornava-se insuportável o cheiro da roupa suja. Logo e louco parti ao rio para livrar-me disso. Todavia, toda água secou, tudo passou a ser um deserto.


Voltei exausto. Mas lembrei-me de uma solução: o meu vizinho. Aquele que aos olhos de outras pessoas, somos inimigos. Quando secretamente, mantemos uma relação de confidência e cordialidade. Pois ele ludibria muito bem a vizinhança e eu jamais o desmascararei.


Então, no momento de pavor, pedi-lhe auxílio: água. Através dos nossos canais habituais.


Respondeu-me “silenciosamente” que também tem roupa suja embora pouca. Entretanto, não tem sabão nem água para lavar.

Há dias, continuou ele, mandei um dos filhos para procurar sabão quando voltou nada disse, não obstante a minha persistência. Zanguei-me, rasguei-lhe do meu testamento. Dupliquei o património ao seu irmão, mais obediente e destemido.

Mas um dos meus rebentos discordou e quase abandonou o nosso lar. Concluiu ele.


Enquanto eu mantinha ocultamente o diálogo com o meu inestimável vizinho. Apareceu uma carta no nosso seio, um Judas revelou tudo ao outro vizinho que sem delongas interferiu no nosso romance.


Pois, levou-nos a um esconderijo de água e sabão em quantidade. Mas alertou que nada disséssemos aos outros.
Saímos meios felizes meios tristes. Porquanto nunca queríamos na verdade lavar toda roupa suja. O nosso maior receio era, se nada fizéssemos, um dia, os vindouros acusar-nos-iam de demónios na terra.

Por isso, algumas vezes lavamos uma camisa ou calça mas colocamos no meio da imundície. Os moradores nunca notaram essa artimanha.

Todavia, a verdade nua e triste é: nunca lavaremos a roupa suja nem em casa nem no quintal, nem tão poucos por causa dos eventos e ventos de fora . Nunca e jamais!

Haja juízo!

O poeta que não é poeta
Domingos Chipilica Eduardo