Lisboa - A unidade de análise da revista "The Economist" diz que a abertura de uma investigação à Sonangol aumenta a perceção de que Angola é um dos países mais corruptos do mundo.

Fonte: Lusa

A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje que a abertura de uma investigação ao pagamento de 350 milhões de dólares à Sonangol pela petrolífera Cobalt aumenta a perceção de que Angola é um dos países mais corruptos do mundo.

 

“As ações da SEC [regulador norte-americano dos mercados financeiros] e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos criaram uma publicidade negativa significativa para Angola, e aumentaram a perceção de que o país é um dos mais corruptos no mundo”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista The Economist, num comentário a que a Lusa teve acesso.


Lembrando que Angola está em 164º lugar num ‘ranking’ de 176 países analisados sobre a corrupção, feito pela Transparência Internacional, os analistas dizem que “a potencial abertura de uma nova investigação envolvendo a Sonangol vai fazer pouco para ajudar a empresa a melhorar a sua imagem global”. Por outro lado, concluem, a notícia é também negativa para a empresa e para a sua presidente, Isabel dos Santos: “Representa um desafio significativo à reputação da nova presidente, a bilionária filha do Presidente e, nos meses anteriores às eleições legislativas, pode ser problemático para os antigos executivos da Sonangol que saíram da empresa, mas continuam entre os principais membros do partido no poder”, escreve a EIU.


A SEC, equivalente à portuguesa Comissão do Mercado e Valores Mobiliários (CMVM), está a investigar o pagamento de um ‘bónus de assinatura’ pelo contrato de exploração do Bloco 20, em dezembro de 2011. A entrega de um ‘bónus de assinatura’ é uma prática comum na indústria petrolífera, representa um pagamento ao Governo do país onde as empresas vão explorar os recursos naturais e é frequentemente criticado pelas organizações internacionais por nem sempre o destinatário das verbas ser identificado de forma transparente.

 

O contrato, segundo disse a Cobalt à Bloomberg na semana passada, obrigava as duas petrolíferas a fazerem contribuições sociais para a Sonangol, incluindo para o centro de pesquisa, que, segundo a Organização Não-Governamental Global Witness, recebeu 350 milhões de dólares em 2014. Num comunicado divulgado, esta ONG afirma “não ter conseguido confirmar que o centro realmente existe”. Um porta-voz da BP comentou à Bloomberg que a Sonangol informou a petrolífera de que o centro de tecnologia está ainda em “fase de planeamento”. O Bloco 20 é detido em 40% pela Cobalt e a Sonangol e a BP detêm, cada uma, 30%, de acordo com o site da BP.


Esta não é a primeira vez que a SEC investiga as operações da Cobalt em Angola: em fevereiro, as autoridades norte-americanas arquivaram uma investigação de cinco anos sobre a acusação de que os parceiros angolanos da Cobalt eram figuras de topo da hierarquia política angolana.