Luanda - A agência de notação financeira Fitch considera que a recapitalização do Banco de Poupança e Crédito (BPC) pelo Governo angolano destaca a «crescente discrepância» entre os bancos públicos e privados do país, afetados pelo arrefecimento da atividade no setor.

Fonte: Lusa

Nesta avaliação da Fitch, consultada hoje pela Lusa, é enfatizado o caso do BPC, o maior banco de Angola, detido pelo Estado e em processo de reestruturação desde 2016 e com um volume de crédito malparado que, segundo dados anteriores noticiados pela Lusa, será superior a 1.000 milhões de euros.

 

«Os bancos estatais estão em fase de reestruturação e enfrentam maiores desafios sobre o capital, a liquidez em moeda estrangeira e a qualidade dos ativos», lê-se na avaliação da agência norte-americana de notação, numa altura em que o Governo angolano está a recapitalizar também o Banco de Comércio e Indústria (BCI) e o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).

 

Um «ambiente operacional fraco pesa no desempenho de todos os bancos angolanos», afetados ainda pela «lenta procura do crédito», afirma a agência.

 

Angola é atualmente o maior produtor de petróleo em África, mas enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, levando à estagnação de várias atividades económicas no país, com reflexos na banca.

 

A imprensa privada angolana tem relatado dificuldades financeiras em vários bancos comerciais do país.

 

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, alertou na quarta-feira, em Luanda, para a necessidade de «continuar a reforçar o sistema bancário e financeiro do país», observação feita no âmbito de encontros anuais de consulta com as autoridades angolanas.

 

O Ministério das Finanças de Angola informou a 17 de março que o plano de recapitalização do BPC já foi aprovado pelo Governo, iniciativa com que «os acionistas do BPC, em total coordenação com o regulador», pretendem «assegurar a solidez e robustez do Banco, bem como garantir a estabilidade financeira do sistema bancário nacional».

 

O BPC é um dos maiores bancos de Angola e há cerca de um ano apresentava uma carteira de crédito vencido superior a mil milhões de euros, tendo o Ministério das Finanças anunciado que seria alvo de um processo de reestruturação e saneamento.

 

Citando o Banco Nacional de Angola, a Fitch refere mesmo que os empréstimos com imparidade no BPC «podem ser mais do que o dobro da média do setor, atingindo 30% do total de empréstimos».

 

A Lusa noticiou a 08 de fevereiro que o Governo angolano vai realizar um aumento de capital no BPC de pelo menos 380 milhões de euros.

 

De acordo com um decreto presidencial, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, autoriza a emissão especial de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional a favor do BPC, «de maneira a possibilitar que o mesmo cumpra na plenitude a missão para o qual foi criado».

 

«O banco vive um momento muito particular da sua história. Queremos sanear e reestruturar o BPC. Vamos fazê-lo para que o banco sirva convenientemente o Estado, seu único acionista», disse em outubro passado o ministro das Finanças, Archer Mangueira.

 

Na mesma altura foi empossada uma nova administração no banco estatal, que passou a ser liderado por Cristina Florência Dias Van-Dúnem, que até maio foi vice-governadora do Banco Nacional de Angola, sendo agora presidente do conselho de administração e administradora não executiva da instituição.

 

A Lusa noticiou a 23 de setembro último a emissão, também pelo Estado angolano, de 231.127 milhões de kwanzas (1,3 mil milhões de euros) em dívida a favor da sociedade pública criada para gerir alguns ativos financeiros daquele banco estatal.

 

A sociedade anónima de capitais públicos Recredit foi criada enquanto participada a 100% pelo Ministério das Finanças, tendo sido apelidada pela imprensa local como uma espécie de `banco mau´ do BPC.