Lisboa - Sobre o 27 de Maio de 1977 (o dia mais longo, triste, sangrento e negro do pós-independência, data da suposta tentativa de um golpe de Estado em Angola) fala-se e escreve-se copiosamente no País e em todas partes do Planeta onde há angolanos.

Era suposto, possível e desejável que a fala e os escritos sobre o 27 de Maio de 1977 - data que o Governo e o Parlamento angolanos deviam consagrar à anarquia, à tortura e ao abuso puro e duro de simples estafetas (que eram apenas pessoas, mas que por terem uma Makarov à cintura também se julgavam gente) da DISA – trouxessem, à luz do nosso sol político, mais novidades, mais revelações, mais subsídios para a Memória Colectiva.

Mas tal, contrariamente ao que se esperava, (ainda) não chegou a acontecer.

Contudo, a iniciativa de se falar e escrever sobre o 27 de Maio de 1977, de triste memória, é, de per si, uma boa iniciativa.

Espero, pois,  que se fale e escreva sobre essa data todos os anos porque acredito que não há Tribunal melhor (sobretudo pela insuspeição que existe sobre o mesmo) que a História.

Defendo que se escreva e fale sobre o 27 de Maio de 1977 porque acredito que a caneta é (sempre foi, ao longo dos tempos, e continuará a ser por muitos anos) mais poderosa que a espada de Damocles sobre a cabeça dos angolanos, povo heróico, generoso, sofredor e que, ainda por cima, é, por causa do sofrimento que tem passado ao longo dos anos de independência, obrigado a chorar com os olhos secos!

Consta que o 27 de Maio de 1977 teve a mão oculta da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e de pessoas, afectas ao MPLA, politicamente formadas em Portugal, cuja preparação meticulosa contou com três nomes à cabeça da pretensa intentona golpista: José Van-Dúnem, Nito Alves e Sita Valles.

A verdade é que, passados mais de 30 anos, a inteireza dos factos continuam por apurar a certeza dos factos e por responsabilizar quem efectivamente cometeu excessos, graves crimes só comparados a dos torcionários a mando do regime nazista da Alemanha de Adolph Hitler.

E os factos em relação à hecatombe que teve lugar no País ainda continuam por apurar pelo facto de a sociedade e os políticos angolanos estarem impreparados para abordarem sem peias nem pruridos o assunto.

Por isso, a verdade continua adiada (até quando?) por ainda existir em Angola tabus em relação ao 27 de Maio de 1977.

Seria bom (e digno de respeito de se lhe tirar o chapéu por parte da geração “Morango com açúcar”, da qual faço parte!) se se discutisse o problema sem o menor espírito de vingança e rancor político.

Seria, digo eu, um importante exercício em nome da verdade e do respeito à História futura de Angola.

Vamos, pois, esperar que Carlos Pacheco, conforme prometeu  em entrevista concedida há mais de três anos ao jornalista Luís Costa (angolano ao serviço da Voz da América (VOA)), publique o artigo que, segundo o mesmo,  terá como título a “Teoria da culpa colectiva".

* Jorge Eurico
Fonte: NL