Luanda - O autor reuniu extractos e depoimentos arrepiantes de alguns sobreviventes da purga de 27 de Maio de 1977 e, preparou uma salada de histórias que, só prova quem tem uma boca enorme e um estômago que chega até ao joelho, estas arrepiantes e marcante purga.

O vice-presidente instituidor e PCA da Fundação 27 de Maio, José Fragoso, prevê lançar no dia 13 do próximo mês, na Liga Africana, em Luanda, o primeiro volume da sua obra literária intitulada “O Meu Testemunho, a purga do 27 de Maio e as suas consequências trágicas”.

A obra prefaciada pelo jornalista, também escritor, Norberto Costa, é uma edição independente, comportará 372 páginas e terá uma tiragem inicial de 2000 exemplares, está subdivido em três arrepiantes capítulos.

Sendo no primeiro capítulo, autor, também sobrevivente do genocídio de 27 de Maio de 1977, conta da sua infância até a fase adulta. E no segundo capítulo o mesmo, relata pela primeira vez na história política do país, o que realmente aconteceu momentos antes do dia 4 de Fevereiro de 1961, que matematicamente este tinha apenas 13 anos de idade. Fala do juramento feito pelos protagonistas e das moedas de 5 escudo, que estes engoliram jurando que, quem sobrevivesse assumiria a responsabilidade da família dos tombados durante acção e não só.

No último capítulo, o autor faz questão absoluto, de recordar e contar a história, que muitos dos seus companheiros, sobreviventes recussam a contar. José Fragoso reuniu depoimentos arrepiantes e extractos (ver no livro) de alguns sobreviventes da purga do 27 de Maio de 1977, e preparou uma salada de histórias reais que, só prova quem tem uma boca enorme e um estômago que chega até ao joelho, para deliciar o sabor das verdadeiras histórias desta purga.

Ainda neste último capítulo, o autor, conta como safou-se da tesourada da PIDE/DGS, polícia política, e dos seus estimados algozes. Com toda petulância, este atreveu-se contar dicas que muitos dos sobreviventes recusariam contar, para não falar dos matadores. E por fim, explica qual era a verdadeira intenção dos manifestantes que apoiovam o ex-ministro da Administração Interna, Nito Alves e José Van-Dúnem, no dia 27 de Maio de 1977.
 
"Vale assinalar que, entre os nitistas surgem divergências tácticas. Uns consideravam a inevitabilidade de um golpe de Estado, outros, baseando-se na condenação pela teoria marxista leninista do “putsh”, enquanto acção desligada das massas, entendiam preferível desencadear um amplo movimento de protesto, susceptível de travar a repressão como atrás já referi. 'O golpe de Estado (o putsh) é totalmente condenável e alheio ao sistema socialista', defendia Nito Alves, em várias reuniões de concentração com os demais responsáveis. Aliás, este princípio, que ele defendia com dentes e unhas, encontra-se plasmado na sua obra teórica “A dialéctica e a guerrilha”, página 92, publicado em Agosto de 1976. Importa formular algumas considerações sobre está questão candente, a do golpe de Estado.

Para os marxistas, o problema central de toda a revolução é a questão do poder político. A condenação severa das ilusões golpistas, que redundam na passividade e no imobilismo das massas, na luta grupuscular tão do agrado dos esquerdistas, não pode, de forma alguma, levar à conclusão de que a revolução é uma mera soma aritmética de acções políticas, planeadas à distância e de modo esquemático...", lê-se numa das páginas.

Portanto, meu caro leitor, este livro é mais uma parte, das muitas que ainda faltam, da história política angolana. Neste modesto e humilde testemunho, o autor não pretende acusar a ninguém, muito menos aos dirigentes do partido no poder, MPLA, mas sim relatar, simplesmente, factos que sucederam antes e depois da independência do nosso país. Se bem que certas vezes contar a verdade dói, mas dói mesmo, principalmente para aqueles que contribuíram pelas mortes de milhares de almas penadas, que giram a volta do nosso amado país à procura dum lugar para seu repouso.

Alguém disse certa vez que "a verdade fere como uma lâmina...". Meus senhores viver em paz não significa, só, calar as armas, as vezes é necessário também ter a paz, abraçar a paz, sentir a paz, respirar a paz e depois viver a paz, somente assim diremos que estamos, sim, a viver em paz.

Por outro lado, para que um dia nós, povo angolano, vivermos, realmente, uma verdadeira paz é necessário que os nossos dirigentes e não só, deixem de omitir a verdade da história e confessarem, não somente aos padres, mas sim através de testemunhos orais ou escritos, todos os seus males para que as almas dos perecidos que nós circundam possam descansar também em paz.

Em linguagem miúda, o autor destas, humildes, linhas está atentar dizer que é importante que as almas dos perecidos descansem primeiro em paz, só depois é que nós povo angolanos, teremos ou melhor, viveremos uma verdadeira paz no espírito e na alma. Daí nós, estaremos livres desta toda miséria que nos agrudam que nem a sanguessuga, seremos na verdade um só povo e viveremos numa só nação de Cabinda ao Cunene.
Ámen.
 
Perfil

José Adão Fragoso, nascido aos 14/08/1948, natural de Icolo e Bengo, província do Bengo, filho de Adão José Fragoso e de Gonga Mateus, antigo combatente inscrito sob o n.º 17.049/92, na Delegação Provincial de Luanda, do ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, formado em Ciências Políticas, na especialidade de Direito Administrativo, na então República Democrática Alemã, hoje República de Alemanha.

- Na idade de adolescência, conheceu Nito Alves no colégio da Casa das Beiras, iniciam a luta na clandestinidade, com outros companheiros, nomeadamente: Eduardo Pitra, Mateus Nhanga, Tito, João Pedro, entre outros, até em 1966, altura que Nito, abandona a escola para trabalhar e posteriormente segue para as matas da 1ª Região Político-Militar do MPLA. Mais tarde, conheceu o então furriel miliciano do exército português José Van-Dúnem, no grupo de cavalaria n.º 2 (Dragões), no Bié, que na qualidade de enfermeiro forneceu por seu intermédio medicamentos aos compatriotas que na altura lutavam nas matas contra o exército português para Independência do país.

Em 1974, quando se deu o golpe de estado ocorrido aos 25 de Abril de 1974, contra o regime de Salazar, Caetano, junta-se aos guerrilheiros da 1ª Região Política Militar, onde se reencontra com Nito Alves e conheceu os comandantes: Valódia, Tonton, Sianuk, Ho Chi Min, Japy, Kudia, Lelo-ngô, Monstro Imortal, Bakalof, Che-Guevara dentre outros, que a história registou indelével os seus feitos, em prol da luta pela Independência.

Foi comissário político das FAPLA, membro fundador do Comando Operacional de Luanda (COL), que na altura coordenava as acções militares nos bairros de Luanda. Por orientação do malogrado Dr. Agostinho Neto, numa reunião realizada no Cine Miramar com os comissários políticos, onde proclamou a criação da Organização de Defesa Popular (ODP) sob a palavra de ordem “Resistência popular generalizada, para mobilizar os trabalhadores do sector da saúde, incluindo os estudantes da faculdade de Medicina e da escola Técnica de Enfermagem, com maior incidência os do hospital Sanatório de Luanda, onde antes laborava, tendo sido por isso, co-fundador da ODP.

Foi funcionário superior do secretariado do Conselho de Ministros, tendo exercido as funções de responsável da Frente Militar Sul, apoiando o seu comandante general França Ndalu e os governos que então integravam à Frente Sul nomeadamente Kuando Kubango, Kunene, Huíla e Namibe. Em suma, começou a participar no processo político angolano desde a sua idade adolescência até aos dias de hoje, seguindo o exemplo do seu progenitor que teve três deportações de ordem política: 1922 para São Tomé, em 1956 para Santo António do Zaire e em 1961, para Mussombo e mais tarde para São Nicolau.

* Lucas Pedro
Fonte:  Club-k.net