Luanda - Em clima eleitoral como o que já se vive no país, é justo que falemos de cobertura eleitoral e olhemos para comunicação social. E, quando se olha para a imprensa actual, constata-se que muita coisa está mal no mundo do jornalismo, há muito desrespeito pela ética, o espírito profissional facilmente é mandado para às calendas gregas pelo que é difícil e complicado exigir-se seriedade e transparência no Todo do jornalismo que hoje se pratica. Faltam as balizas para a regulamentação de uma profissão que tem de actuar com um papel de charneira na educação da sociedade. E quando se fala da cobertura Jornalística eleitoral, temos motivos mil para ficarmos mais preocupados. Que papel vamos fazer nessas eleições?

Fonte: Revista Figuras Negocios 

Primeiro, a importância das campanhas eleitorais reside no facto de se tratar do momento privilegiado da relação entre os cidadãos e a política. É a hora em que as diferentes opções políticas informam à sociedade sobre o seu programa de governo, as principais medidas que pretendem impulsionar e as ideias que estão por trás dessas medidas. E quem deve assumir o papel de forma vertical, fazer esse papel de interligação entre os cidadãos e a política, aqui representada através das diferentes forças políticas, sem sombra de dúvidas é a comunicação social, os jornalistas que, nas coberturas informativas, têm de estar centrados em oferecer aos leitores, telespectadores, radiouvintes, e outros meios, as informações que possam ajudá-los a entender melhor o processo.


Defendemos para isso uma cobertura transparente e profícua de forma a debelar possíveis conflitos com os políticos e outras instituições envolvidas no processo. No caso concreto de Angola, onde, se olharmos rapidamente para o interior dos diferentes órgãos de comunicação, constatamos que não existe uma governança corporativa – entenda-se conselhos de redacção e/ou outros órgãos de consulta, defendo que a maior e melhor cobertura das eleições deverá ser a concertação de esforços entre as organizações sócio – profissionais existentes e os diferentes órgãos de imprensa, sem distinção entre privado e publico, para a definição de um Código de Conduta para a cobertura eleitoral. Este será, em meu entender, um grande passo para o engajamento melhor estruturado dos jornalistas.


Dir-me-ão mais um código de conduta de cobertura eleitoral para engajar quem e como quando andamos todos divididos? É precisamente nesse ambiente que devemos deixar patente à sociedade a nossa vontade de fazer bem e melhor, afastando o risco de amanhã sermos acusados de responsáveis de qualquer actuação que possa manchar o processo eleitoral.


A natureza particular dos períodos eleitorais na sociedade angolana, onde o exercício do direito ao sufrágio universal ainda recentemente instituído constituiu momentos catalisadores do debate politico nacional e os ensinamentos do passado aconselham a classe profissional jornalística a adoptar um conjunto de princípios específicos na cobertura de períodos eleitorais, urge ter em mente cinco regras que reputo de fundamentais: a independência dos jornalistas em relação aos partidos políticos, tratamento distanciado de todas as matérias eleitorais; rigor na terminologia e no cálculo de números, notadamente o jornalista deve abster-se do emprego de expressões qualificativas ou de atribuir juízo de valor ao qualificar os acontecimentos; a divulgação de sondagens de opinião aqui entendido com a abstenção de divulgar sondagens, inquéritos ou entrevistas relativas a opinião dos eleitores quanto aos concorrentes; as fontes oficiais de informação do processo eleitoral, quer dizer o jornalista deve recorrer e privilegiar a informação disponibilizada pelos órgãos eleitorais autorizados para a divulgação dos resultados eleitorais.


Com esse código de conduta para a cobertura eleitoral mais facilmente se pode cumprir esses princípios bíblicos. Quer dizer, pode-se estabelecer o método de revisão de pares por via do qual os diferentes órgãos de comunicação exercem vigilância e criticas mútuas quando qualquer um deles viola os princípios acordados.


Ao agirmos assim, não estaremos a inventar nada de outro mundo. Retenhamo-nos às experiências de outros países, mormente daqueles africanos que têm o português como língua de comunicação como nós: Moçambique, em 2009, fez isso, Cabo-Verde tem um código aprovado, S.Tomé tem e na Guiné Bissau, onde parece não se respeitar o direito à comunicação, também foi aprovado o código de conduta de cobertura eleitoral nas ultimas eleições realizadas. Por isso, aqui em Aangola nada pode ser diferente, razão porque insisto que esse deve ser o nosso primeiro dever de casa a fazer.


Vale recordar o cientista político brasileiro, Wanderlei Guilherme Santos, quando chamado a comentar a questão de isenções de coberturas eleitorais: «nas democracias de instituições vulneráveis à extorsões, seria grande o poder da média de gerar instabilidade política. Nos países de democracia estáveis, ao contrário, pouca coisa acontece fora da arena eleitoral, excepto quando o escândalo revela ruptura, por parte do governo, do pacto constitucional do País». Um caso para meditação!