Lisboa - O empresário congolês Sindika Dokolo acusa o governo francês de lhe ter usurpado uma série de objetos de arte que a sua fundação emprestara para uma exposição.

Fonte: Sabado

O vídeo a contar a história foi partilhado pelo próprio Sindika Dokolo na sua conta de Instagram e o primeiro comentário é da mulher, Isabel dos Santos: "É inadmissível que, nos dias de hoje, se recuse a devolver ao nosso continente, África, o que é nosso: obras dos nossos antepassados, a nossa cultura e a nossa história, arte roubada e hoje presa em museus na Europa que, para os nossos filhos verem, precisam de vistos Schengen e de passagens de avião..."


Aos 45 anos, Sindika Dokolo é detentor de uma das mais importantes coleções de arte contemporâneas, atualmente estimada em 3 mil peças. Filho de pai congolês e mãe dinamarquesa, foi educado em França e na Bélgica. Por iniciativa do pai, Augustin, um banqueiro self-made man, Sindika começou a sua coleção de obras de arte aos 15 anos. Depois do pai morrer, em 2001, tomou em suas mãos os negócios da família. No ano seguinte, casou com a filha de José Eduardo dos Santos e estabeleceu Luanda como centro dos negócios ao constituir na capital a fundação com o seu nome. O objetivo é promover a arte e a cultura em Angola e outros países – e tem por princípio emprestar gratuitamente as obras da coleção a qualquer museu internacional desde que, em contrapartida, esse museu apresente a mesma exposição num país africano à sua escolha.

 

Mas há anos que Sindika se lançou também numa campanha mundial para devolver a África as peças de arte que estão ilegais – referindo-se ao que foi "roubado" no período colonial. Daí estar agora a apontar o dedo ao governo francês acusando-o de ter em sua posse peças que não lhe pertencem - e que levara para França quando o Benin era ainda uma colónia francesa.

 

Foi nesse contexto que há um ano anunciou ter entregado ao presidente José Eduardo dos Santos duas máscaras e uma estatueta do povo Tchokwe, que tinham sido saqueadas durante o conflito armado, e recuperadas após vários anos de negociação com colecionadores europeus. Eram peças com perto de 200 anos utilizadas nos rituais daquele povo e que tinham sido levadas do museu do Dundo, na provincia de Lunda Norte, durante a guerra civil no país.

 

"África não é só Boko Haram, migrantes e corrupção" gosta de repetir Sindika Dokolo, acrescentando que "reduzir a imagem de Angola a uma desonestidade em geral é manipulação desonesta", e insistindo mesmo, que "daqui a 20 anos, o modelo angolano será celebrado de forma unânime". O empresário também não tem meias palavras para elogiar a mulher, tantas vezes debaixo de fogo: "Isabel dos Santos devia ser tratada com menos preconceito" ou "é um general num campo de batalha". E isto embora o próprio Sindika, (que ganhou notoriedade em Portugal quando comprou, por 1,6 milhões de euros, a casa de Manoel de Oliveira, no Porto, para ser a sede europeia da fundação) também não escape à polémica no país da mulher – há um ano, foi alvo de uma participação do ativista Rafael Marques que o acusou de espoliação de terras.