Luanda - Há dias vi na Tv Zimbo (e pude rever no youtube estes dias) as declarações do governador do Cunene, o general Kundy Paihama, sobre o desvio de cerca de 50 carros, mais outros bens e mais outras falcatruas cometidas por empresas particulares e fantasmas no governo provincial do Cunene.

Fonte: Club-k.net

Como cidadão deste país, onde tudo é possível e tudo acontece, fiquei, por um lado, admirado pela coragem e frontalidade pública do general Kundy, por outro lado, fiquei pensativo sobre as reais motivações do general Kundy sobre as tais denúncias. Na verdade, na governação desta nossa Angola, já aconteceram coisas inimagináveis e que a culpa continua solteira. Por isso, num país visceral e cancerigenamente corrupto como o nosso - onde nunca se julgou e nunca se prendeu um ministro, um secretário de estado, um governador pela corrupção (só para citar alguns dos gestores da coisa pública) - ver e ouvir um governador a falar como o general Kundy, leva à reflexão. Augurava que todos os ministros e governadores fossem frontais e corajosos no combate à corrupção, como o general Kundy, para denunciarem, inspecionarem e a justiça julgar e prender todos os ladrões deste país. A corrupção existe em todo o mundo, é verdade, mas se num país nunca se exonerou, nunca se julgou e nunca se prendeu nenhum gestor da coisa pública (ex.: ministros, governadores e administradores) é porque esse país não é sério, não é democrático, não é desenvolvido, não tem no centro da governação o cidadão, e aí a justiça não existe, pois, não há separação de poderes. E Angola, infelizmente, é esse país. Temos corrupção, mas não temos corruptos e corruptores. O dinheiro desaparece, mas não há quem o faça desaparecer. Afinal quem rouba o nosso dinheiro que nunca é julgado e preso? Temos cá, assim, tantos fantasmas?

 

Voltando à questão do Cunene, na verdade, será mesmo que o general Kundy quis, só e simplesmente, denunciar e levar as barras da justiça os incautos corruptos dos bens do povo Cunene? Apesar de tudo, poucas vezes fui ao Cunene. Passei por lá, umas poucas vezes, indo à Namíbia, quer seja na altura da governação do Mutinde, quer seja na do Didalelwa. Contudo, fiquei bem impressionado com a evolução e o desenvolvimento do Cunene empreendido pelo governador Didalelwa. Bem-haja o falecido. Não estou a defender a sua governação, apenas estou a constatar um facto a olho nu. Agora, se a sua governação está eivada de irregularidades, como afirma o general Kundy, penso que deve ser feita a investigação cabal e que se apure os factos. O povo do Cunene não pode ser privado dos seus bens e não se pode acusar publicamente alguém ou uma instituição sem que publicamente saibamos a verdade dos factos. É deveras gravíssimo o que disse o general Kundy. Que a inspeção nacional, o ministério das finanças investigue e nos revele os factos. Aliás, todos os ministros e governadores, quando assumem a sua gestão governativa, deviam fazer uma auditoria e uma inspeção exaustiva às irregularidades das cessantes governações. E neste ponto, gostaria que o governador do Huambo, o Senhor Kussumua, fosse também frontal e corajoso para denunciar publicamente as irregularidades que encontrou no Huambo. Infelizmente, o general Kundy se esqueceu da sua governação no Huambo. Em primeiro lugar, saiu do Huambo sem ter deixado nenhum sinal de desenvolvimento, nem de paz. Deixou a cidade suja e sem vida. Agora, depois da sua saída, o Huambo ressurge alegre e bonita, até arvores floriram. Em segundo lugar, deixou muitas irregularidades nas contas do governo do Huambo, inclusive, desapareceu uma frota de carros, tal como no Cunene. O general Kundy, os seus diretores e guardas (sua equipa) levaram todos os carros (Prados) que andavam com eles e que são propriedade do nosso governo provincial do Huambo. Que a inspeção nacional mande que o general Kundy devolva imediatamente todos os bens do governo provincial do Huambo. Louvo o governador Kussumua por não ter ido à televisão difamar o seu antecessor, entregando o caso, como acreditamos que tenha sido, às instâncias competentes.

 

Por isso, o povo do Cunene, não se desanime nem se intimide que seja tratado que nem cães, que seja faltado ao respeito em privado ou em público, que seja olhado como ladrões. O mês de agosto está à distância de quatro meses e esperamos que traga uma revolução pacífica na governação de Angola. Que o candidato que ganhar as eleições, em agosto, faça uma limpeza rápida e radical desses senhores que fingem ser pobres, que fingem nunca terem roubado nada, e que nunca deixaram nenhum ministério organizado e pacificado, que nunca deixaram nenhum sinal de desenvolvimento nas províncias por onde passaram. Esperamos que, antes que apaguem os feitos gloriosos dos homens ilustres, vão para casa, cuidar dos seus muitos filhos com suas muitas diferentes mulheres, cuidar dos seus netos, das suas quintas, dos seus bancos, das suas empresas que comem o erário do público, dos seus bois, dos seus vinhos e das suas concubinas.

 

Nós queremos uma Angola democrática, livre, pacífica e desenvolvida, onde todos os seus filhos sejam respeitados e amados, independentemente da sua província, do seu grupo etnolinguístico, da sua cor e da sua religião. O nosso desafio não pode passar mais por parcerias e competitividade com países como Guiné Conacri, como a Zâmbia e etc. Queremos, sim, uma Angola à altura dos desafios atuais e parcerias com países que nos ajudem ao desenvolvimento material e psico-mental.

 

Por que é que nós os angolanos (quiçá africanos) somos, assim, desumanos, egoístas, macacos velhos, e como se diz nos corredores entre os pulas, pretos burros de merda e de inteligência inferior. É a conta de muitas das nossas atitudes e comportamentos primitivos que continuamos a dar provas inequívocas da nossa puerilidade e do nosso subdesenvolvimento intelectual. Nós angolanos, na figura dos nossos líderes, e não só, continuamos a dar razões firmes, aos brancos e ao ocidente, sobre a nossa incompetência, sobre a nossa imaturidade, sobre o nosso subdesenvolvimento intelectual (inteligência prática), sobre a nossa incapacidade prática de governação, sobre as nossas reações animalescas (instinto básico) etc. Por que é que os negros angolanos têm que ser sempre assim e comportarem-se dessa maneira, porquanto os brancos se riem e zombam de nós como pretos “burros”, inumanos e eternamente crianças? É por causa disso que nos anestesiam pragmaticamente, nos alienam intelectualmente, nos neocolonizam economicamente, nos castram mental e politicamente, enquanto os nossos líderes inaptos, incautos, desatentos, insensíveis, cegos e solipsistas passeiam luxuosamente nas limpas avenidas dos países desenvolvidos, gastando a riqueza de Angola em orgias e em mercenários da democracia.