Luanda - A presença do MPLA, pela primeira vez numa conferência, em Tunes, Janeiro de 1960, permitiu-lhes angariar os primeiros apoios para a luta contra o colonialismo. Assim sendo, buscou a unificação ao lado de contestações já existentes na Guiné-Bissau e em Moçambique. Ainda na Tunísia estabeleceram-se os primeiros contactos para a futura instalação do MPLA em Conacri, capital da Guiné.

Fonte: Club-k.net

Esta base permitiu-lhes estabelecer contactos, divulgar a sua luta, e projectar-se internacionalmente na obtenção de apoio financeiro que fundamentasse a sua actuação. Como já era evidente para o MPLA a impossibilidade de organizar qualquer acção em Angola a partir da Guiné, procurou estabelecer-se no Congo Leopoldville, pais recém-independente. A UPA, já desenvolvia forte aliança nesse território, e além disso a forte imagem comunista do movimento, impediram o sucesso dessa instalação. Em virtude desse acontecimento, o MPLA instalou-se no Congo Brazzaville, onde criou as suas bases e deu início as suas campanhas em Angola. A instalação do MPLA no Congo Brazzaville possibilitaria o estreitamento das relações e o apoio de um outro grupo de países, tais como a Bulgária, a Checoslováquia, a URSS e Cuba, que tinham representação diplomática e fortes laços de cooperação naquele país.O MPLA recebia desses países, em quantidade muito limitada, apoio financeiro, armamento, formação técnica e universitária, e apoio na formação das forças de guerrilha.


Exemplo dessa formação é a sua excelência José Eduardo dos Santos, actual presidente de Angola, licenciado em engenharia. Manuel Lima, primeiro comandante do EPLA (Braço armado do MPLA), em entrevista com Fernando Guimarães, confirma o envio de material militar pela Bulgária e acrescenta que este teria chegado ao movimento através de Marrocos. Diz também que os cursos de formação, eram da responsabilidade da União Soviética.


“Com a vinda de Che-Guevara a Brazzaville nós pedimos e ele mandou-nos 5 instrutores para nos ensinar a fazer o assalto de guerrilha.” Essa afirmação de um dos seus fundadores, Lúcio Lara, comprova a acção de Cuba no âmbito da construção das forças do MPLA, que posteriormente viriam a ser conhecidas como ELPA (Exército de Libertação Popular de Angola). No que respeita as ajudas internacionais, a UPA conciliava a sua ligação com os EUA, enquanto o MPLA buscava apoios juntos de países comunistas. As filiações internacionais existentes em África comportavam os grupos de Casablanca e Monróvia, separados pelos ideais. O MPLA apoiava-se no grupo de Casablanca, onde actuavam países como a Argélia, Gana, Mali, Guiné-Conacri, Egipto e Marrocos. Esses países forneceriam ao MPLA formação, armamento, apoios logísticos e financeiros (Bittencourt).


A partir de 1967, juntam-se ao MPLA 3 países importantes: Zâmbia, Tanzânia e China. Esses países possibilitaram a acção do movimento no Leste de Angola. Ou seja, a Zâmbia como país independente, constituiu-se numa forte base de apoio para as actividades dos movimentos no Leste. A Tanzânia, país fronteiriço do mar e da Zâmbia, possibilitaria a entrada de armamento proveniente da China. Ressalva-se que, apesar da diferente ideologia encontrada na altura, entre a China e a URSS. O apoio de ambas constitui-se como um impulso fundamental no reconhecimento do MPLA pela OUA, como a principal organização nacionalista em Angola para a luta da independência. Contudo, esse forte apoio dessas duas potências, viriam construir divisões no partido.


No que diz respeito ao projecto, o movimento desenvolvia dois programas: mínimo e o maior. No “programa mínimo”, o MPLA lutava para a criação de uma Frente Angolana de Libertação, que agrupe numa larga união todos os partidos políticos, todas as organizações populares, todas as forças armadas, todas as personalidades eminentes no país, todas as organizações religiosas, todas as etnias, todas as camadas sociais angolanas, todos os angolanos sem distinção de tendências políticas, de condições económicas, de raças, de sexo ou de idade, todos os angolanos residentes no estrangeiro, a fim de continuar a luta por todos os meios para a liquidação da dominação colonial.


No seu “programa maior” o MPLA apresentava um regime democrático para Angola. Apresentava ainda, uma reforma agrária, com tendência ao desaparecimento das injustiças; liquidação do monopólio privado da produção dos produtos de consumo agrícolas, conforme o princípio de que “a terra pertence aos que trabalham”; distribuição de terras aos camponeses sem terra e aos que a possuíam em extensão insuficiente para o seu sustento.

No seu plano de defesa, previa a criação de forças armadas com efectivos intimamente ligados ao povo e comandados por cidadãos angolanos. Assim sendo, e pelo que constamos, o MPLA dispunha de um programa muito bem argumentado, que acabou por lhe valer aquando da independência de Angola.


Domingos Sebastião