Londres - Isabel dos Santos partilhou a sua experiência empresarial na London School of Economics, em Inglaterra, rejeitando, uma vez mais, a ideia de que teve a vida facilitada por ser filha do Presidente de Angola. "Comecei por vender o meu carro. Tinha cerca de 30 mil dólares nos bolsos", recordou a hoje bilionária, garantindo que foi preciso esperar seis anos até conseguir "chegar a algum lado", numa época em que o acesso ao crédito bancário não fazia parte dos planos de negócio. "Hoje sou feliz por dizer que devo muito dinheiro a muitos bancos".


Fonte: NJ



Oradora convidada da Conferência sobre África 2017 da London School of Economics, encerrada no passado fim-de-semana, Isabel dos Santos defendeu a importância da iniciativa privada para dar resposta aos desafios que África enfrenta, dando como exemplo três grandes projectos do seu universo de negócios. Nomeadamente: o Plano Director-geral de Luanda, a operadora de telecomunicações Unitel e a rede de supermercados Candando.


O três investimentos foram apresentados pela empresária no âmbito do tema "Construir para África: Soluções Africanas para Questões Africanas", e relançaram a discussão sobre a origem do dinheiro por detrás dos investimentos daquela que é considerada a mulher mais rica de África.


Sem fugir à pergunta directa de um dos estudantes - que quis ouvir o que Isabel dos Santos tem a dizer sobre as alegações de que tem beneficiado de dinheiros públicos para desenvolver os seus projectos privados -, a empresária recuou até 1994 para explicar a forma "muito, muito difícil" como lançou, em parceria com um amigo, a sua primeira firma.


"Não se começa um negócio em grande, isso não existe", introduziu Isabel dos Santos, garantindo que a sua experiência empresarial construiu-se com sacrifícios e não com privilégios.


"Comecei por vender o meu carro. Tinha cerca de 30 mil dólares nos bolsos", detalhou a hoje bilionária, acrescentando ainda que precisou de um sócio para dar os primeiros passos: "Juntei-me a um amigo que também entrou com algum dinheiro".


Segundo a empresária, a parceria, iniciada num negócio de distribuição de bebidas que depois evoluiu para uma firma de logística, demorou a produzir resultados, face às dificuldades de uma época de "desbancarização".


"Levámos seis anos até conseguirmos chegar a algum lado, e era terrível porque não havia bancos. Fazer crescer os negócios era difícil e muito orgânico", salientou a também presidente da Sonangol, congratulando-se com a evolução entretanto verificada no sistema financeiro africano.


"Hoje sou feliz por dizer que devo muito dinheiro a muitos bancos", apontou Isabel dos Santos, num dos muitos momentos em que partilhou risos com a plateia, sem esquecer também as lições.


Os conselhos para o sucesso


"Muitas vezes me perguntam: "O que devo fazer a seguir?" É uma pergunta de resposta difícil porque é uma questão muito pessoal", adiantou a empresária, arriscando, ainda assim, um conselho: "Façam o que fizerem, tenham um plano, tenham uma visão para vocês próprios, e quando o tiverem não se esqueçam de quem vocês são".


Isabel dos Santos insistiu na importância da afirmação individual para superar um mundo "cheio de preconceitos", porque "ou são muito novos, ou muito inteligentes, ou privilegiados, ou têm o género errado...vai sempre haver qualquer coisa..." no caminho.


Mas, prosseguiu a empresária, um negócio sólido e uma ideia muito boa, apoiada por uma boa equipa para a concretizar e aliada à confiança gerada na excelência dessa equipa e na sua liderança atraem investidores.
"Foi assim que consegui os financiamentos, uns de bancos estrangeiros, outros locais", concluiu Isabel dos Santos durante a conferência, que pode ser vista aqui (a partir de 1 hora e 58 minutos do vídeo).