Benguela - O governador Isaac Maria dos Anjos, membro do Bureau Político do MPLA, afirma que os dirigentes do partido no poder em Angola devem reconhecer os erros cometidos no passado. Oposição fala em novos tempos.

Fonte: DW

São declarações inéditas: Isaac Maria dos Anjos, membro do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), apelou aos militantes e à direção do seu partido para que não se recorra aos argumentos da guerra para justificar os fracassos da governação. "Não vale a pena escamotear mais e nos guerreamos com os argumentos do passado", disse o também governador da província de Benguela.


"Sofremos uma grande pressão internacional e nacional para mudarmos. Foi uma guerra longa e essa guerra também foi uma guerra civil. E, por ter sido civil, fica difícil [dizer] quem participou no bem, quem participou no mal. Levámos muito tempo a negociar a paz. Foram anos sucessivos, mas conseguimos agora ter 15 anos de paz", acrescentou.


A paz alcançada deve ser preservada a qualquer custo, sem necessidade de se olhar para o fantasma do passado, sublinhou Isaac Maria dos Anjos.

"Temos que prestar contas ao povo"

Num discurso no fim-de-semana dirigido essencialmente aos militantes do seu partido, o governador de Benguela desafiou igualmente os dirigentes do MPLA a darem a cara pelos erros cometidos nos últimos cinco anos de governação.


"Temos que prestar contas ao povo", afirmou. "Não podemos chegar aqui e só falar das vitórias. Temos que falar também dos nossos fracassos - não pode ser a nossa oposição a ter o começo. Eu próprio tenho que dar a cara. Mas não vou fazê-lo sozinho, os diretores que estiveram a ganhar salários comigo têm que vir."


O político salientou que o país se faz com homens que não têm medo e vergonha das suas ações.


Alberto Ngalanela, deputado e membro da comissão política do maior partido na oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), vê nas declarações do governador de Benguela um sinal de que o "patriotismo" se começa a sobrepor às disputas entre partidos.


"Hoje em dia, a consciência dos cidadãos está acima de querelas partidárias, daí o surgimento de vozes dentro do MPLA que já não permitem justificar coisas mal feitas com a explicação da guerra", disse Ngalanela em entrevista à DW África.