Luanda - Nas sociedades democráticas modernas, sob sistema multipartidário, as forças políticas estão em competição continua. Buscando mudanças politicas, que se resulta em perca ou na conquista do poder politico. Nesta lógica, a «concorrência» e a «mudança» são factores principais da transformação constante das sociedades modernas. Devendo o facto de que, cada mudança que ocorre traz consigo novos protagonistas com ideias inovadoras.

Fonte: Club-k.net

Posto de outra forma, as mudanças constantes e regulares do poder do Estado não só cria um novo espaço de actuação, mas sim, identifica as falhas de governação, procede à correcção e afasta os maus hábitos da gestão económico-financeira. As lacunas verificadas na gestão do erário público, como corrupção, branqueamento de capitais, desvios de fundos públicos, superfacturamento, evasão fiscal, nepotismo, tráfico de influência, etc., são trazidas à superfície da opinião pública. Em conformidade com a Constituição e com a Lei, os implicados nesses actos ilícitos, acima referidos, são tratados devidamente, sem qualquer excepção. Através deste processo, isso cria uma consciência na mente da classe política de que, afinal o poder público não é vitalício, tem prazos definidos, e é escrutinado, fiscalizado e responsabilizado.

 

Nesta lógica, convém realçar o facto de que, as mudanças profundas, efectivas e genuínas só ocorrem por via de alternância político-partidária. Dando o facto de que, os partidos políticos buscam projectar-se e salvaguardar a sua integridade política, de modo a granjear a credibilidade e a legitimidade politica, como sendo factores essenciais para a sustentação e a manutenção do poder politico. Para este efeito, os partidos políticos, por natureza, envolvem-se nas manobras subtis, que visam geralmente ocultar a realidade, ou manipular os factos. Por isso, as lacunas de governação são alvos principais do escrutino dos opositores políticos, no sentido de expô-las aos eleitores, para estes poderem escolher em plena consciência.

 

Na realidade, a política, como ciência humana, baseia-se na Realpolitik, como forma de conduta. Por isso, a sua prática obedece aos princípios da «responsabilidade colectiva» e da «solidariedade institucional». Em função disso, uma formação política é uma instituição colectiva, que rege-se por normas próprias, definidos por lei, com a legitimidade politica e com a responsabilidade colectiva diante o Estado e perante a sociedade.

 

Pelo que, exige dos partidos políticos, como entidades públicas, cuidar bem da sua postura, do seu perfil e do seu comportamento – fazendo bem as coisas. Tendo em conta que, os actos dos partidos políticos têm a dimensão pública, com repercussões profundas sobre a sociedade. Razão pela qual, a responsabilidade é colectiva e é institucional. Noutras palavras, esta responsabilidade, de índole colectiva e institucional, decai sobre os ombros dos dirigentes dos órgãos de direcção, que funcionam num colégio deliberativo, que toma decisões colectivas, nos fóruns restritos, da hierarquia mais alta de uma organização politica.

 

Em jeito de exemplo, nas organizações políticas da esquerda, um Secretário-geral do Partido é uma identidade pública, vestido de poderes executivos enormes. O controlo da máquina partidária está sob sua alçada directa. Este dirigente partidário, tem tarefas de impôr a disciplina partidária; e executar os programas, as políticas definidas, as estratégias traçadas, os objectivos e as metas preconizadas pelos Órgãos de Direcção. Assim sendo, fico intrigado ver Senhor João Gonçalves Lourenço, Candidato do MPLA à Presidência da República de Angola, furtar-se das lacunas do Regime do MPLA, em que ele exerceu o Cargo de Secretário-geral. Acima disso, ele é Membro Permanente do Bureau Politico do Comité Central do MPLA.

 

Na política, a honestidade e a coragem são virtudes cruciais que definem o carácter de um político responsável e justo. Ao passo que, o oportunismo e a mentira são atitudes de cobardia, de falsidade e de deslealdade aos princípios e aos ideais assumidos. É uma postura de um lobo na pele de carneiro, cujas unhas e dentes afiados já estão bem expostos ao público. A esperteza não conjuga-se com a sabedoria. Furtar-se da responsabilidade colectiva é um acto de traição e de conspiração. Imputar tudo ao José Eduardo dos Santos é falta de dignidade, de seriedade, de solidariedade e de responsabilidade colectiva e institucional. Pois, o JES não agia sozinho. Pelo contrário, tinha input muito forte de culto de personalidade, de lisonjo, de veneração e de endeusamento. Os Kapangas que hoje fingem-se de estar fora do círculo, foram os dinamizadores principais desta cultura politica, que arruinou absolutamente a alma angolana.

 

Este comportamento falaz e movediço não é digno de uma pessoa íntegro, de convicções sólidas, digno de um estadista credível e respeitável, capaz de salvaguardar os interesses do povo angolano, e de respeitar os compromissos do Estado junto da Comunidade Internacional. Convém realçar o facto de que, a sociedade angolana está mergulhada numa crise profunda de perca de valores éticos, morais e ontológicos, resultantes da corrupção galopante, que tornou-se um tumor maligno, que corrói a alma angolana. O Machado de Assis, diante a consternação, repugnava, em termos fortes: “Eu sinto a nostalgia da imoralidade.”

 

Pois, revolta a consciência de um homem ver o estado de miséria em que o nosso país se encontra mergulhado. Um país com recursos minerais abundantes, mas com cidadãos pobres e miseráveis. Onde o fosso, entre a pobreza de muitos, e a riqueza de uns poucos, é abismal. De facto, Angola tornou-se uma selva primitiva, onde reina a lei dos mais fortes, que devoram impiedosamente os mais fracos. Nesta selva inóspita os dirigentes políticos do MPLA e seus governantes, em plena arbitrariedade servem-se a si próprios – roubando e enriquecendo-se impunemente. A acumulação primitiva do capital servia do instrumento de pilhagem dos Cofres do Estado – propalada e aplaudida. Cada Dirigente e Quadro do MPLA, com acesso ao poder público, envolviam-se avidamente nos actos de saque. Hoje, como resultado, o país está em ruina.

 

Diante este cenário triste terá havido alguém, dentro do Bureau Politico do MPLA, que viesse à terreiro contradizer isso? Pelo que eu saiba, o Candidato do MPLA, por exemplo, configura-se da lista dos que saquearam o Banco Espirito Santo. Alias, o facto de ser escolhido sucessor do JES, é porque, de facto, ele goza da confiança intima e absoluta do Chefe, capaz de salvaguardar os seus interesses e levar avante esta filosofia. Alias, aquilo que tem sido os pronunciamentos do João Lourenço, não indica a mudança da mentalidade, assente nos valores democráticos; mas sim, o endurecimento do sistema autoritário e totalitário. Portanto, esta cantiga romana, que se difunde amplamente, visa somente distrair a opinião dos eleitores menos atentos. Apenas, por motivo de elucidação, o “totalitarismo” é o regime político não democrático, no qual os poderes executivos, legislativo e judiciários estão concentrados nas mãos de pequeno número de dirigentes, que sacrificam os direitos da personalidade humana em proveito próprio, a coberto da razão do Estado.

 

Voltando ao assunto, a corrupção em Angola tornou-se uma instituição mafiosa, bem estruturada, altamente poderosa, situada a nível mais elevado do poder politico e dos aparelhos do Estado. Ela tornou-se uma cultura política do regime, que serve como instrumento politico, económico e financeiro, para a sustentação e a manutenção do poder politico. Ou seja, a corrupção tornou-se uma doutrina do Estado, assente na política de exclusão, de aliciamento, de subserviência, de tráfico de influência, de hegemonia e de monopólio económico-financeiro. O poder político do MPLA apoia-se invariavelmente nesta filosofia do enriquecimento de uma casta, que funciona como um clique, e impõe-se sobre a sociedade. Nas palavras de um Pensador: “O fascismo não se reforma; quando se reformar, entra em colapso, desmoronando-se gradualmente.”

 

Portanto, seria uma ilusão pensar que a corrupção pode ser combatida efectivamente pelo MPLA. Seria igualmente uma ingenuidade de esperar que alguém tenha ousadia de deixar cair uma pedra pesada sobre os próprios pés. Um suicídio! Queira dizer, os dois Candidatos do MPLA são parte integrante deste sistema mafioso. Além disso, eles têm limitações enormes de poder enfrentar os Barões da Cidade Alta, bem entrincheirados. O que quer dizer que, pelos níveis da corrupção em Angola, só é possível desmantela-la por uma força política externa, com vontade politica de enfrentá-la decididamente; terá que ser um núcleo de políticos destemidos, fora do círculo do poder actual, capaz de congregar a Juventude; sem medo de fazer face a este fenómeno monstruoso. Isso não só requer intrepidez, mas sobretudo, a firmeza e a prudência de se colocar diante deste monstro, e derrubá-lo.

 

Na verdade, o combate à corrupção constitui, em si, uma «revolução democrática», feita a partir de premissas patrióticas, democráticas, moralizadoras e socializadoras. Que engloba todas forças vivas da sociedade angolana. A ser conduzida por formações políticas de Oposição ao Regime actual do MPLA. Sendo a Juventude a «força motora» deste empreendimento gigantesco. O combate à corrupção não passa pelas «reformas cosméticas» do MPLA, com vista a proteger e perpetuar o monopólio económico- financeiros dos Magnatas da Cidade Alta. Em contraste, esta luta titânica passa necessariamente por uma Revolução Democrática, de dimensões profundas. Bem-haja a Mudança!

Munique, 14 de Abril de 2017