Benguela - Escrever que tudo nele era grande é tão óbvio que esta frase não devia desaparecer. Tudo nele aconteceu muito cedo. Já em criança mostrava o seu génio rebelde.

Fonte: Chela Press
Eusébio da Chagas Moreira Rangel, nascido a 1 de Agosto de 1949, 68 anos de idade, nasceu em Benguela, numa família de assimilados, proveniente de Luanda que se instalou, primeiramente, no Dombe-Grande e depois na cidade capital da província. Viveu e estudou no Bairro Benfica de Benguela – B.B.B., mas a paixão por Luanda agarrou-o e cedo transferiu-se.

 

Na adolescência, Eusébio Rangel era no Bairro Benfica, conhecido por Baço, alcunha dada pelo Matias Chouriço.

 

Em Luanda, no fervor revolucionário do 25 de Abril de 1974, ou pouco antes, 1973, deixou Luanda em direcção ao Congo / Brazaville para mais tarde ser enviado para o leste, interior de Angola, juntamente com João Lourenço, Paulo Kassoma e Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”.

 

No seu regresso à Luanda, como revolucionário confesso, viveu a sua utopia até aos anos de 1984. Militar das FAPLA ocupou vários cargos, sendo um deles e mais visível o de chefe dos Serviços de Inteligência Militar do Ministério da Defesa, obrigado a abandonar, na sequência de algumas intrigas e cabalas promovidas, segundo conversas na época, pelos generais N´Gongo Monteiro e José Maria, foi para casa cuidar dos filhos.

 

Abandonada que estava as FAPLA e graduado com a patente de general brigadeiro na reserva, frustrado, decidiu estudar Direito na Universidade Agostinho Neto, tendo concluído o curso na primeira década de 2000. Foi uma espécie de retiro, de cura, para fugir do tumulto da revolução. Começou uma carreira como advogado. Na primeira década de 2000, conquistou as boas graças da sociedade angolana com a brilhante defesa do general Miala, acusado de tentativa de golpe de Estado.

 

O saldo foi positivo. Dado o carácter político e ridículo da acusação, foram poucos os advogados dispostos a defendê-lo. Ele foi defensor dos mais mediáticos casos jurídicos de figuras consideradas pelo poder político instituído de sinistras, tais como, Miala, Quina e outros.

 

Por isso, Eusébio Rangel ficou conhecido como o “Advogado do Diabo”.

 

Eusébio Rangel, afável, gostou sempre de estabelecer pontes, entre pessoas, entre ideologias, entre os partidos do cenário político angolano e entre crenças. E sempre o conseguiu fazer muito bem. Divertido e sempre caloroso, oferecia rosas vermelhas às mulheres, tinha um inconfundível dom para falar com a audiência rendida que, no fim, abençoava “primeiro sou um pregador depois umentertainer”, dizia Eusébio Rangel. Gostava muito de futebol e por muitos foi considerado sportinguista de gema.

 

Eusébio Rangel, muito diminuído nos últimos meses, morreu na segunda-feira, dia 10 de Fevereiro, tranquilamente em Portugal, onde estava doente.

 

Angola e particularmente o MPLA está em divida, nunca reconhecida, para com este grande homem. O mínimo, que tragam o corpo à Angola para ser enterrado no cemitério da Camunda “Igualdade” em Benguela. O meu primo não é nenhum indigente… Tem Família! Porquê Portugal? Com apenas meia dúzia de pessoas?

Que a sua alma descanse em paz.

 

A Família
Francisco Rasgado / Babalada
Jornal ChelaPress