Luanda  - Depois de em 2012 ter prometido fazer Angola “crescer mais, para distribuir melhor”, o MPLA regressa após 5 anos de governação dos cerca de 42 anos que já tem nos ombros, com o crescimento transformado em recessão económica e com a grande promessa desta vez de “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

Fonte: RA

Vamos saber esta quarta-feira, 10 de Maio, como é que os “camaradas” nos vão ensinar a melhorar e a corrigir ao mesmo tempo, ficando por apurar se é com o rumo que tem vindo a ser seguido, se é alterando o azimute que até então foi definido por uma liderança que se prepara para partir, sem ainda o país saber exactamente, caso o MPLA ganhe as eleições, se desta vez o exercício do poder será feito no contexto de uma inédita liderança bicéfala.


Um MPLA a “governar com dois Presidentes” é um caminho que o veterano Lopo do Nascimento já desaconselhou vivamente, talvez por entender que o seu partido não tem qualquer experiência neste tipo de gestão solidária, tendo sido a primeira voz crítica no seio da sua família política a assumir publicamente este aviso à navegação.

 

Em relação ao “dead-line” que o próprio Presidente Eduardo dos Santos se impôs a si próprio de abandonar a vida política activa em 2018, tudo para nós ainda está dependente de se saber como é que o país vai acordar após as eleições gerais de 23 de Agosto.

Primeiro há que começar por admitir como cenário possível (por que não?) que o MPLA não ganhe as eleições.

 

Parece-nos uma possibilidade efectiva, diante do anémico desempenho do país real que todos sentimos no quotidiano, com maiores ou menores dificuldades, que se agravam nos bolsos da esmagadora maioria dos assalariados que vivem com rendimentos abaixo dos 200 mil kwanzas, sem falar do trabalho precário, dos desempregados e da exclusão social.

 

A confirmar-se esta previsão, o próximo Presidente da República (PR) e Titular do Poder Executivo (TPE) será naturalmente o cabeça de lista de um dos partidos concorrentes, abrindo-se assim pela primeira vez as portas do país a uma saudável alternância política que, lamentavelmente, os angolanos nunca conheceram, estando por isso impossibilitados de estabelecer qualquer termo de comparação quando são chamados às urnas para escolherem os seus representantes.

 

Neste cenário, como é evidente, teríamos uma situação que, muito provavelmente, iria aconselhar JES a olhar de outra forma para o ano de 2018, considerando que o seu mandato como Presidente do MPLA saído do Congresso de 2016 se prolonga no mínimo até 2021.

 

Deixando de lado os cenários e as hipóteses que estão sempre presentes nestas incursões por searas que cada vez conhecemos melhor, voltemos ao “produto eleitoral” que o MPLA vai apresentar hoje ao país.
Trata-se do “Programa de Governo para 2017-2012” com que o MPLA de João Lourenço quer mobilizar o eleitorado para vencer a disputa que se avizinha.

 

É bom que se diga que maioritariamente continuamos a ter um eleitorado que ainda com vota com a emoção, com o coração, com a história, estando ao que parece esta tradição a ser passada de pais para filhos, com estes últimos a surpreenderem-nos por vezes com o fanatismo que emprestam à sua militância.

 

Esta apreciação aplica-se mais aos que votam na continuação do actual regime.

 

Os que votam na mudança hoje já têm mais escolhas, enquanto nesta altura o país continua suspenso a aguardar pelo nome dos restantes concorrentes, considerando que até agora apenas o MPLA e a UNITA deram entrada dos seus respectivos processos no Tribunal Constitucional, para os devidos efeitos.

 

É fácil concluir que as atenções vão estar concentradas na parte das correcções por razões óbvias, diante de tão magros resultados sociais, que não podem ter apenas como justificação o afundamento do preço do petróleo no mercado internacional, por mais que a narrativa oficial bata nesta tecla, como se estivesse a utilizar um verdadeiro carro do fumo.

 

Seja como for, já não é mau que num partido com a cultura da infalibilidade, se assuma publicamente que há erros e que eles são para ser corrigidos.
Sabe a muito pouco, mas para já é o que há.

 

Era bom para todos nós enquanto país, que este levantamento dos erros fosse realmente feito com a profundidade e abrangência necessárias, sem outras preocupações mais cosméticas com que o MPLA gosta muito de se enfeitar apenas para não perder dividendos políticos.


A expectativa é considerável pois ainda não sabemos se os erros a corrigir resultam da própria estratégia traçada, o tal rumo que o país tem, ou se são apenas consequências pontuais da sua implementação por parte dos diferentes sectores e operadores, as chamadas falhas humanas.

 

Efectivamente há que saber, nomeadamente, se o MPLA vai continuar a navegar pelas águas anteriores, por sinal bastante turvas, da “acumulação à mwangolê” com a generosa utilização/distribuição dos recursos públicos apenas pela sua clientela mais próxima, tendo como miragem a criação de um classe empresarial de alto nível que tarda em surgir no meio dos endinheirados que coleccionam milhões e às vezes nem os seus rendimentos declaram para efeitos fiscais.

 

O que está em causa nestes anos todos da governação do MPLA no pós- guerra é de facto um modelo de desenvolvimento controlado por uma estratégia política que apostou no enriquecimento de uma elite empresarial local que mesmo assim é incapaz de sobreviver sem os continuados apoios, isenções e evasões.


O Executivo/MPLA de João Lourenço se quiser ser diferente do de JES vai ter efectivamente de fazer algumas rupturas muito sensíveis com o passado.

 

Enquanto não se esclarecer a questão da bicefalia, este passado vai continuar a estar demasiado presente, a projectar um cenário que só pode ser complexo, por melhor que esta “transição” tenha sido acertada e combinada entre os dois, como tudo leva a crer que foi.