Luanda - Mais trabalho, mais empatia com os eleitores e líderes mais capazes. Estes são os conselhos que os analistas deixam à oposição angolana, para que possa vencer o MPLA, no futuro.

Fonte: Club-k.net

É difícil, mas nada é impossível. A opinião dos analistas é unânime: a oposição pode vir a vencer o MPLA em eleições futuras. Jorge Eurico, jornalista, analista político, e editor de política do Semanário Angolense, considera que "os partidos da oposição têm muito que trabalhar".


"Têm que procurar ter mais empatia com o cidadão eleitor, mostrar, de facto, que existem intenções e programas exequíveis, programas convincentes, para que possam, em 2017, por exemplo, ombrear de forma igual, em termos de campanha, com o partido no poder", acrescenta Jorge Eurico.

Partidos da oposição angolana são pouco conhecidos

Mas, afinal, o que é que falta à oposição angolana para vencer as eleições? Na opinião de Mário Pinto de Andrade, professor de Relações Internacionais e analista político, desde as figuras até aos discursos dos partidos, as lacunas foram muitas. "A maior parte dos partidos da oposição não é conhecida de Cabinda ao Cunene, no meio rural e mesmo no meio urbano. Nunca vi os líderes políticos a irem às universidades, enquanto cidadãos, nas suas áreas específicas. Nunca vi esses lideres a fazerem conferencias, debates".


Na perspectiva deste analista, "os programas eleitorais dos partidos devem ser mais ricos, o discurso dos líderes políticos deve ser rico e não Pobre. Quem vé a televisão pública de Angola, quem ler os jornais, sabe que em vez de falarem do futuro limitaram-se a atacar o candidato José Eduardo dos Santos. Não tinham um discurso urbano e, portanto, o eleitorado penaliza-os".

Também Jorge Eurico considera que os partidos da oposição falham na campanha eleitoral. Um exemplo, explica, é a UNITA. “Não têm hipóteses por sua própria culpa, chamemos-lhe assim. Penso que o líder da UNITA prejudica um bocadinho a sua organização na medida em que, quando ele diz que devemos apenas a exercer o direito de voto mas que sabia, à partida, que estas eleições serão fraudulentas, criou uma certa regressão no seio do seu próprio partido e do eleitorado em si. E refiro-me à UNITA, porque a UNITA ainda é o segundo maior partido.”

MPLA sabe conduzir melhor campanhas

Mas não só de erros da oposição se faz a vitoria do MPLA. Para ambos os analistas, o MPLA é o partido mais preparado para conduzir uma campanha de forma vitoriosa.

Ainda assim, os analistas ouvidos pela DW discordam das vozes que reiteram que a saída daquele que é o presidente angolano há muitos anos no poder, por si só, pode significar mais hipóteses de uma chegada ao poder por parte da oposição. “Acho que é ‘fulanizar’ muito o debate, pessoalizar muito a questão, se nos concentrarmos naquilo que são as pessoas que, neste momento, lideram as formações políticas, no caso, o presidente Eduardo dos Santos", salienta Jorge Eurico.

"Penso que o MPLA tem meios e quadros capazes para continuar a dar sequência à sua estratégia eleitoral. Com ou sem Eduardo dos Santos penso que o MPLA vai continuar de forma inexorável a trabalhar no sentido de se manter no poder e manter o status quo”.

Mesmo sem Eduardo dos Santos MPLA tem vantagens

Concordando com Jorge Eurico, Mário Pinto de Andrade não hesita quando afirma que o MPLA continuará um passo à frente dos restantes partidos, com ou sem José Eduardo dos Santos. O analista critica mesmo quem afirma que uma vitória da oposição está dependente da saída do líder do maior partido angolano. "Considero que isso são análises erradas. Acho que, mesmo que daqui a 5 anos, eventualmente, José Eduardo dos Santos venha a sair, o nosso sistema político é um sistema de partidos. Claro que haverá também um peso sobre os cabeça de lista que os partidos venham a apresentar e, neste momento, penso que as grandes elites políticas do país estão mesmo no MPLA. Portanto, mesmo que venha a ser disputado, daqui a 5 anos, por uma nova geração de líderes, o MPLA estará sempre em vantagem".

Domingos Sebastiao