Luanda - As fronteiras que delimitam os países Africanos são fruto de partilha do continente pelas potências coloniais de então na Conferência de Berlim em 1886. Essa partilha obedeceu a critérios e interesses daqueles e não aos factores de índole africana como etnias, grupos, região ou território.

Fonte: Club-k.net

Apesar disso, maior parte dos países, após as suas independências manteve as fronteiras traçadas à régua e esquadro. Esse facto, está de forma implícito na origem dos vários problemas de instabilidade nas zonas fronteiriças - ainda assim, pensa-se que as lideranças africanas tiveram uma atitude equilibrada em manter as fronteiras como ponto de partida para o nascimento dos jovens países para que, a partir daí, definissem os interesses africanos num diálogo sincero afro-africano.


Essas fronteiras criaram descontinuidades geográficas/territoriais e étnicas, dividindo povos irmãos.


Os lideres africanos de 2ª e 3ª geração que chegaram ao puder por vias e razões inconfessos e pouco ortodoxas, já não fazem parte da essência do pensamento pan-africano; por um lado tiveram acesso ao poder por golpes de estado e por outro, com apoio das novas potencias com outra ordem politica mundial. Esses novos actores vieram agudizar os problemas anteriores decorrentes dos limites fronteiriços e criar novos problemas, novas partilhas de influências, económica, cultural, linguista e militar.


Há países africanos que se colocaram como policias nas sub-regiões africanas ao serviço de interesses das novas potencias nesses lugares como se de sipaios se tratasse; indo aos facto, Angola foi convidada a atacar o Congo Brazaville no consulado de Pascal Lissuba para permitir o regresso de Denis Sassunguesso então exilado em França. Angola interveio militarmente no Congo Democrático para colocar Kabila pai no poder, em vez de se juntar aos esforços diplomáticos encetados por Nelson Mandela[1] encorajando negociações conducentes a uma transição pacífica pela via de eleições. Angola de JES[2] optou por enviar tropas mercenárias de ocupação aumentando o grau de complexidade ao conflito dos Grandes Lagos[3].


A posição de mediador/sipaio a que Angola é catapultada nessa região de certo modo para que as potencias com interesses estratégicos na região tivessem o perfeito bode-espiatório e não sujassem as mãos com sangue de inocentes. Assim, JES com ideias megalómanas encaixava-se bem nessa figura, foram realizadas pomposas reuniões e conferências sobre os grandes lagos que não resultaram em nada, apesar da ressonância dos analistas. Serviram apenas para elevar gastos em dinheiro, deslocações de tropas, diplomacia financeira, etc.


Os ganhos que as grandes potencias obtêm nesse xadrez, fazem de Angola o peão mais insignificante a sacrificar numa jogada mais importante em que tenham de proteger o bispo, o cavalo ou a rainha...


Por mal dos pecados, Angola fica com a parte mais difícil - a de receber os refugiados nas suas fronteiras fragilizadas quando os conflitos reacendem; aqui é que a porca torce o rabo... O Congo Democrático é o 3º maior de África; faz fronteira com 10 países e tem uma população de cerca de 65 milhões de habitantes, Angola pelo último censo tem 25 milhões de habitantes, a pressão demográfica exercida pelo nr de refugiado será sempre um mal para a economia já fragilizada, coincidência com o período eleitoral, torna o assunto delicado. Ou seja, a vinda de refugiados da RDC[4] pela fronteira noroeste do nosso país, província da Lunda Norte deve-se às más opções politicas e estratégicas do governo angolano e de JES. O comportamento de Angola durante o conflito da RDC, torna legítimo o pedido de ajuda dos refugiados da RDC, pedido esse que Angola não pode recusar e não consegue dar resposta sozinha; no entanto, Angola não tem como pedir contas aos patrões a quem serviu como sipaio na sub-região. Essa é a parte ingrata das más opções estratégicas dos estados.

Luanda, 20 de Maio de 2017
Eduardo Daniel Ekundi

[1] Nelson Mandela é uma figura da 1ª geração de lideres africanos a lutar pela independência e a sua posição é ingrata. Mas a África do Sul não fica na fronteira com a RDC.

[2] José Eduardo Dos Santos

[3] Nessa altura, o Dr. Savimbi, outro dinossauro da 1º geração de lideres africanos, alertou para o facto de Zaire ser um país de grandes dimensões e que Mobuto, mal ou bem o manteve unido e esse conflito poderia gerar problemas de desagregação territorial e populacional.

[4] Republica Democrática do Congo (nova designação do país Zaire após tomada do poder por golpe militar de Laurent Desiré Kabila)