Luanda - Cabeça de lista do MPLA promete reduzir as tarifas aéreas para Cabinda e dá sinais da prevalência do autoritarismo estatal sobre o mercado no seu hipotético Governo, depois de Agosto

*Alexandre Reis
Fonte: Correio Angolense

Observadores contactados pelo Correio Angolense consideram que o cabeça de lista do MPLA às eleições de Agosto “está a brincar com o fogo” ao “não perder folego” para fazer promessas eleitorais, como acontece desde o seu primeiro discurso de apresentação, pronunciado no Lubango a 18 de Fevereiro.

De lá para cá, João Lourenço discursou umas oito vezes em comícios (e “bebícios”) do género - três em Luanda e um em cada uma das cinco províncias em que esteve -, nos quais retomou a promessa feita inicialmente no Lubango de “apertar o cerco à corrupção”.

Os observadores coincidem em que a promessa gera um cepticismo proporcional à receptividade com que a sua indicação foi recebida entre os angolanos, que apontam em João Lourenço laços indissociáveis à ordem instituída por José Eduardo dos Santos (JES).

A questão que se coloca, prosseguem, é a do “à vontade” de João Lourenço para retirar os privilégios políticos e económicos dos círculos que fizeram fortunas com base do aproveitamento dos cargos governamentais durante a era de JES e que criaram centros de decisão tão poderosos como o próprio Estado.

Conclui-se, então, que nem estes querem perder os privilégios, nem João Lourenço os ousará enfrentar, argumentos que desfazem a estrondosa promessa do combate à corrupção.

Nos seus discursos, João Lourenço também fez promessas sobre a construção de infraestruturas, aliança com o sector privado, diversificação da economia, investimento na saúde, educação e formação de quadros, tudo numa perspectiva muito geral ou difusa.


Mas, notaram os observadores, em dois casos, no Lubango e em Cabinda, o cabeça de lista fez promessas muito específicas: João Lourenço prometeu reduzir os custos da construção civil e os das tarifas aéreas para Cabinda.


Acredita-se que para operar semelhante mudança nos custos da construção civil, João Lourenço terá que enfrentar os seus pares do partido e do Governo, que além terem participações disseminadas pelas empresas que abocanham os maiores contratos para a edificação de infraestruturas, prosperaram depois com base na escassez da oferta, alugando imóveis a instituições governamentais e estrangeiras a preços estratosféricos.

“O negócio reside na escassez, que é consequência dos preços proibitivos dos materiais de construção e, cada vez mais, dos terrenos infraestruturados”, afirmou um observador que duvida que, depois de eleito, João Lourenço se incline genuinamente a quebrar esses desequilíbrios.

Os observadores também não acreditam que o cabeça de lista possa mesmo reduzir os preços dos bilhetes da passagem aérea para Cabinda, para onde operam a TAAG e outras empresas com elevados custos operacionais e às quais cabe decidir sobre as tarifas.

“Se João Lourenço pensa baixar as tarifas por decreto, dá de si uma imagem de manutenção de um autoritarismo e uma arbitrariedade a que já assistimos e que é incompatível com o mercado”, parcialmente representado pelos operadores, disse uma fonte do Correio Angolense.

A única maneira de entender as promessas do candidato do MPLA é que, como alto dirigente do partido, João Lourenço sabe de coisas que escapam à maioria dos angolanos, entre elas, que os preços neste país são estabelecidos por um núcleo pequeno de pessoas, de que ele fará parte.

“Só assim se explica a segurança com que fala em baixar preços de serviços e mercadorias com as quais, aparentemente, nada tem a ver”, rematou um observador.