Luanda - A documentação produzida pelo Estado angolano desde a independência do país, em 1975, até a década de 1990, ainda não foi encaminhada para o Arquivo Nacional, cuja documentação sob seu cuidado é praticamente apenas a do tempo colonial.

Fonte: Lusa

O assunto foi abordado numa mesa redonda sobre "A Importância dos Arquivos para a Cidadania", realizada hoje, em Luanda, pelo Ministério da Cultura de Angola, em alusão ao Dia Internacional dos Arquivos, assinalado esta sexta-feira.

 

Na sua intervenção, o diretor-geral adjunto do Arquivo Nacional de Angola, Francisco Alexandre, informou que a documentação produzida entre 1975 até praticamente 1995 ainda se encontra espalhada pelas instituições do Estado

 

"O Arquivo Nacional, de forma geral, recebeu a sua última documentação, incorporação maciça de documentação, ainda produzida no tempo colonial, no fim dos anos 50 a partir dos anos 60. Depois dos anos 60 para cá, esta documentação ou foi levada para o Tombo [Lisboa] ou a que ficou, a maior parte ainda se encontra nas instituições", disse.

 

Segundo Francisco Alexandre, algum deste arquivo histórico está a ser bem cuidado, mas é necessário que se preste uma maior atenção.

 

Francisco Alexandre apontou o caso de documentação em posse dos órgãos de Defesa e Segurança, da Saúde ou do poder Judicial, que ainda se encontram em posse dessas instituições por alguma "resistência na sua entrega".

 

Também é o caso de documentação em posse de privados, exemplificando os partidos políticos, essencialmente os que participaram na luta pela independência de Angola.

 

"Onde está a documentação dos partidos políticos? É de caráter privado, essencialmente refiro-me aos partidos políticos que tiveram ação durante a luta de libertação, é documentação privada, merece tratamento específico diferente, mas é documentação de interesse do Estado angolano", sublinhou.

 

O diretor-geral adjunto do Arquivo Nacional de Angola realçou que a recentemente aprovada Lei Geral dos Arquivos não trata de documentação antiga, mas deverá ser elaborado um decreto que vai estabelecer que toda a documentação produzida no tempo colonial em posse das instituições devem ser conservadas e que é expressamente proibida a sua destruição.

 

O responsável sublinhou ainda o facto de que em Angola, o uso das novas tecnologias ainda não atingiu sequer 40 por cento das suas capacidades para o arquivo.

 

"Precisamos de organizar os nossos serviços, de forma que a comunicação da informação seja rápida, ágil e segura", frisou.

 

Chamou a atenção para a extrema importância de que se reveste o sistema de Arquivo Nacional, cingindo-se ao exemplo de uma cooperativa agrícola criada há quase um século, durante o período colonial português, na província angolana do Cuanza Sul, que realizou várias pesquisas sobre o café, o arroz, entretanto destruída no tempo da guerra.

 

"Era uma cooperativa agrícola, criada ainda nos anos 30, que tinha mais de 50 jipes a andar por Angola a fazer pesquisas no campo agrícola do café, do arroz, de tudo, e era um riquíssimo arquivo. Devido à situação que vivemos foi dinamitada e não ficou lá nenhum papel para a sua história", contou.

 

"Hoje, ouvem falar de nova produção de arroz, de nova forma de plantar o arroz no leste de Angola, estão a vir especialistas chineses, coreanos, sobretudo, nós tínhamos esses estudos todos feito. Do café tínhamos esses estudos todos feitos, hoje não temos, desapareceram, trabalho de 30, 40, 50 anos, desapareceu. Vamos começar do zero", enfatizou, para reforçar a importância dos arquivos.