Luanda - Embora devesse ter muito o que fazer na Sonangol, cuja gestão exigiu e obteve do pai-presidente, e também na sua condição de mãe e gestante, à Isabel dos Santos sobram tempo, espaço e disposição para muito mais actividades. Na Sonangol – e isso foi escrito neste jornal há pouco mais de uma semana - pilhas e pilhas de papel aguardam a assinatura de Isabel dos Santos para serem encaminhados a outros sectores.

Fonte: Correio Angolense

Grávida, como ele mostrou em Cannes, Isabel dos Santos também deve atender aquelas obrigações intransferíveis em qualquer mulher na sua condição: ir ao médico, por exemplo, para monitorar a evolução da “barriga”.

 

Turbo-empresária, com interesses em vários segmentos de actividade – em Angola, por exemplo, já só lhe falta estender as manápulas aos cemitérios e à venda de caixões – Isabel dos Santos nem por isso, porém, se queixa da falta de tempo ou de disposição. Na última semana e meia, por exemplo, a filha “prodígio” de José Eduardo dos Santos arranjou tempo e espaço para passear-se calma e demoradamente pelas redes sociais. Só que, quase sempre, as incursões da “Princesa” pelas redes sociais terminam em sarilhos para si própria ou para o pai-presidente. E ela é quem os provoca, deliberadamente. Registemos: a “digressão” que fez pelo Instagram, na sexta-feira, 03 de Junho, terminou com a constatação da “triste realidade” de que neste país “não temos oposição política a altura, não há debate, não tem soluções, não apresentam programa. Só tem campanha de ‘sujar’”.


Isabel dos Santos descobriu a “triste realidade” com um atraso de 38 anos, que é o tempo em que o país é dirigido pelo seu pai. É pena que a filha “prodígio” não tenha ido além da simples constatação do que é demasiado óbvio. Com um pouco de esforço e também de boa fé, ela deveria ter transformado a sua constatação num questionário para o seu progenitor. Ninguém melhor do que o Presidente José Eduardo dos Santos sabe por que razão não temos oposição política à altura ou por que razão não há debates entre os opositores. E, já agora, Isabel poderia acrescentar ao questionário outra pergunta: por que razão a RNA e a TPA escudam-se em dificuldades técnicas para não transmitirem em directo as sessões parlamentares quando, com pés às costas, transmitem jogos de futebol, basquetebol, o “beija mão” anual, concursos de misses e outras actividades.


A primogénita de José Eduardo dos Santos está longe de ser uma unanimidade nacional. Mas pode vir a sê-lo se, honesta e seriamente, se empenhar na busca de respostas para as grandes questões atravessadas nas gargantas dos angolanos. Mas, espere sentado quem acredita que alguma vez Isabel dos Santos assumirá ou encarnará as verdadeiras preocupações dos angolanos. Com tempo para dar e vender, Isabel dos Santos voltou às redes sociais para investir contra o jornalista Rafael Marques, que acaba de ser distinguido nos Estados Unidos com o “Prémio Democracia”, pelo seu porfiado combate contra a corrupção em Angola. A prestigiada distinção é uma promoção do “National Endowment for Democracy”, criada há 34 anos para homenagear institituições que se batem pela democracia em todo o mundo.


Rafael Marques de Morais é o primeiro angolano que é prestigiado com esse prémio. Na cerimónia de entrega do prémio, em Washington, discursaram entidades como Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a líder dos democratas na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e congressistas como Karen Bass, Peter Roskam, Ed Royce, Mario Diaz-Balart e Norma Torres. Tomada por uma insuportável dor de cotovelos, Isabel dos Santos reagiu com as seguintes palavras à distinção de Rafael Marques: “National Endowment for Democracy é dinheiro do Governo dos Estados Unidos. Rafael Marques declara quem lhe paga. Atrás do espelho está o BOSS”.


Sim, é disso mesmo que estamos a falar: a reacção da “Princesa” decorre de uma grande dor de cotovelo, que o mesmo é dizer, inveja. Isabel dos Santos tem biliões de dólares. É reverenciada em todo o mundo que lida com dinheiro proveniente dos esgotos da corrupção, da roubalheira, do nepotismo, do compadrio, etc. Ela é dona de bancos, empresas de telecomunicações, cimenteiras, ourivesarias, imobiliárias, seguradoras, etc. Mas, apesar da sua condição de mulher mais rica de África, os sapatos de Isabel dos Santos não pisam os tapetes vermelhos que conduzem aos gabinetes e instituições onde se discute e decide a sorte da humanidade.


Os biliões que Isabel dos Santos permitem-lhe desfilar em feiras de vaidades como o Festival de Cannes e em outras futilidades, mas não lhe escancaram as portas dos gabinetes mais importantes do mundo. O presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos não discursaria, nunca, numa cerimónia em que Isabel dos Santos fosse premiada pelos biliões de dólares que acumulou de modo injustificado. Lá, nos Estados Unidos e noutras paragens civilizadas, o crime não compensa. Lá, como noutras paragens decentes, o lugar de assaltantes de cofres públicos é cadeia e não a ribalta.


Ao atribuir ao Governo dos Estados Unidos o dinheiro com que a National Endowment for Democracy distinguiu o jornalista Rafael Marques de Morais, Isabel dos Santos pôs-se a jeito para que um internauta lhe perguntasse: “o teu dinheiro vem de onde?”. Ora, sabendo de onde lhe vem o dinheiro, seria preferível que Isabel dos Santos guardasse apenas para si a dor de cotovelo que lhe assalta quando constata que, como sempre foi, a “mutala” não é tudo. Como bem usa dizer o nosso Povo, apesar dos seus biliões, Isabel dos Santos “não é nada!”. As pessoas decentes não se deixam impressionar pelas suas demonstrações de novo-riquismo. Trazer a Angola, por mais de 1 milhão de dólares, a cantora norte-americana Nicki Minaj, andar aos beijos com celebridades como Noemi Campbel e outras ou comprar iates milionários não colocam a “Princesa” no roteiro das pessoas mais importantes do mundo. Pode, quando muito, catapulta-la para o topo do “jet-funge”, a nova categoria de boçalidade criada e patenteada por Gustavo Costa.


A digressão semanal pelas redes sociais terminou de forma cómica, com Isabel dos Santos a trazer à liça um problema que remete, obrigatoriamente, para o caso do macaco que se ri do rabo do seu semelhante ou do roto que se ri do esfarrapado. Ou seja, passados quatro meses desde que privou os angolanos do acesso aos canais SIC Notícias e SIC Internacional, Isabel vem agora dizer que tomou tal decisão, unilateral, para poupar-nos da ganância do português Pinto Balsemão.


Segundo se depreende de um twitter que postou na sua página no Instagram, a ruptura com os canais noticiosos da SIC se devem à “incofessável ganância comercial do milionário Pinto Balsemão, em Angola em encaixar 1milhão Euros/ano”. Descrita por alguns dos seus admiradores como uma experiente e implacável negociadora, Isabel está, agora, a insinuar que quando contratou os serviços da SIC para a sua plataforma ZAP desconhecia-lhe os custos. Depois dessa desastrada tentativa de justificar o que é injustificável, aos angolanos sobrariam toneladas de razões para mandar Isabel dos Santos pentear macacos. Não o fazem por boa educação.


A dona da ZAP quer converter em comercial uma decisão eminentemente política. Não foram os custos dos conteúdos da SIC que ditaram a decisão da ZAP. Aliás, Isabel devia coibir-se de falar da ganância dos outros. É que trata-se de uma matéria em que ela não é santa nenhuma. A telefonia celular em Angola é das mais caras do mundo por culpa da ganância dela. Se não fosse tão gananciosa, teria permitido a abertura do mercado a outras operadoras e, certamente, os preços baixariam. O preço do cimento em Angola é dos mais caros do mundo e quem o puxou para cima é a Nova Cimangola, de Isabel. O cidadão precisaria de percorrer quase todos os países do mundo para encontrar em algum deles uma superfície comercial que rivalize com o Candando em preços dos seus produtos. A ZAP apagou os conteúdos informativos da SIC, mas não mexeu no preço do pacote em que eles estavam embutidos. Então, do que é que Isabel se queixa?


Só pode ser da hipotética concorrência de Pinto Balsemão. Isabel dos Santos é tão gananciosa quanto o seu agora desafecto Pinto Balsemão. Ambos estão para o dinheiro como o macaco para a banana. Isabel terá encontrado em Pinto Balsemão o que ela biologicamente não tem: um irmão gêmeo, com que partilhará várias características, sobretudo a ganância. A diferença é que em Portugal, Balsemão sujeita-se a regras estabelecidas. Em Angola, o jogo de Isabel obedece a uma é única regra: o seu enriquecimento brutal. Em Eletrostática aprende-se que cargas do mesmo sinal repelem-se. O coice de Isabel em Pinto Balsemão explica-se pelo facto de ambos surfarem nas mesmas águas da ganância.


Em suma: nesta fase terminal do seu bem demorado consulado como PR, José Eduardo dos Santos não tem tido noites tranquilas. Quando não é saúde a reclamar maior atenção, são os filhos a atrair para ele a mágoa e o desencanto populares. A frequência e a diversidade das travessuras e “macaquices" e travessuras dos filhos são de tal ordem que quase se pode dizer que com tais rebentos pai algum precisa de se preocupar com inimigos fora de casa.