Luanda  - Espanta-me, as vezes, a amnésia propositada dos dirigentes do MPLA, quando abordam alguns assuntos “desconseguidos” pela sua própria governação. Fica a ideia que o culpado não é quem está a falar.

Fonte: Club-k.net

Fiquei perplexo quando ouvi o candidato do MPLA à Presidente da República, o General João Lourenço (JL), comparar o nosso Caxito à uma fazenda habitada. Na verdade, Caxito deve ser bem pior que uma boa fazenda. Deve haver pelo mundo fazendas com imagens bem mais acolhedoras do que o nosso Caxito. A minha perplexidade deveu-se ao facto do autor dessa nova designação não ter assumido que durante esses longos anos de governação, o seu partido esqueceu-se que aqui bem perto de Luanda há uma capital de Província que clama por atenção! Quanto a tal promessa de construir uma nova cidade administrativa para Caxito, essa é mais uma daquelas boas intenções das quais o inferno anda repleto. Aliás, só compra esse peixe podre vendido por JL quem anda muito distraído. Senão vejamos:

 

Em 2002 na sua segunda visita e em 2013 na sua quarta visita à Caxito, JES já tinha dito que não gostou do que viu e que Caxito não tinha mudado em nada! Mas ficou-se por aí! Em 2005, Jorge Inocêncio Ndombolo, membro da superestrutura do MPLA, no acto da sua apresentação como Governador do Bengo, disse que transformaria a vila de Caxito numa cidade, porque era a única capital de Província do País com a categoria de vila! Cinco anos depois nada se viu.


Em 2012, o actual Governador do Bengo, João Bernardo de Miranda, falando à TPA, num programa que visava lavar a imagem do Executivo, falou da construção de uma tal cidade das águas, que até aqui não passa de pura utopia.


A 21 de Outubro de 2004, o jornal de Angola publicou uma notícia que dava conta da construção da nova cidade de Caxito (500 moradias inicialmente), na localidade do Lembeca. Segundo a mesma notícia, o projecto da construção da nova cidade de Caxito tinha sido aprovado pelo Conselho de Ministros, e era fruto de um acordo de cooperação entre os Governos de Angola e da Malásia.


À época, Carlos Alberto Cavukila (actual Administrador de Cacuaco), nas vestes de Vice- Governador do Bengo para a esfera económica, disse que, para além das quinhentas residências, seriam construídas outras duzentas, e que a actual “cidade” de Caxito (diminuída agora à categoria de fazenda) seria também requalificada, conservando assim o seu centro histórico!


A 31 de Dezembro de 2012, na cerimónia de cumprimentos de fim de ano, Manuel Mateus Diogo, “Nonox”, então Administrador do Município do Dande, disse que a principal prioridade da sua administração em 2013 era a requalificação das ruas de Caxito. Para tal contava com a parceria das empresas SINOHIDRO e CRBC.


Alguém me pode dizer o que foi feito dessa parceria?! Muito recentemente, em Fevereiro de 2014, numa tenda montada defronte ao comando provincial da polícia nacional, o então Ministro da construção procedeu ao lançamento da sétima pedra, pasmem-se, sétima pedra para a requalificação de Caxito, que até aqui ninguém vê nada! Posto tudo isso, ainda querem que acreditemos nessa promessa eleitoral de João Lourenço?! Nem que fosse membro do seu “fã club” como ouvi na televisão! A “fazenda” de Caxito é a capital de Província mais próxima de Luanda. Pra ser mais rigoroso são apenas 36 quilómetros que separam as duas Províncias. E muitos desses dirigentes que até vêm comer do nosso bom cacusso ao fim-de-semana, nunca se lembraram de fazer alguma coisa pra mudar a triste imagem de Caxito. Será que agora acordaram do transe?!


Caxito é uma fazenda graças a incompetência do Governo sustentado pelo partido de João Lourenço. Isso é que faltou ao General dizer. Faltou-lhe coerência.

Do mesmo jeito que vão proceder quando entrarem em contacto com o presente texto, fui diabolizado quando numa outra matéria publicada exactamente aqui no Club-K, afirmei que a vila de Caxito era igual aos outros bairros periféricos, cuja diferença residia apenas no facto de Caxito ser a capital de Província. Hoje, o próprio candidato do MPLA deu-me razão, aliás foi bem mais longe, pois a fazenda com a qual JL comparou Caxito, calculo que seja uma daquelas que grassam pelo Jungo. Não que seja pessimista, mas depois de tantas promessas, prefiro ser como o apóstolo Tomé, que só acreditou que Jesus estava vivo quando o viu e tocou. Com essas palavras, declaro aberta a nova cessão de diabolização.