Luanda - Há sensivelmente um ano, o actual Conselho de Administração da Sonangol tomava posse num clima de incertezas sobre a legalização e ou não na nomeação de Isabel do Santos para desempenhar o cargo de PCA, bem como sobre a sua “in” ou capacidade de emprestar à petrolífera a robustez económica de outrora.

*César Silveira
Fonte: Club-k.net

O período consumido revelou-se insuficiente para dar respostas efectivas às questões, essencialmente relativamente ao desempenho económico, apesar de os primeiros meses de actividade terem dado sinais de vitória aos que apostavam todas as cartas a favor de Isabel dos Santos. Muitos acreditavam ser a pessoa certa para debloquear alguns dossiês que se entendiam urgentes.

 

A autorização do Executivo, em despacho presidencial de 5 de Julho de 2016, para a petrolífera alterar o contrato de partilha de dois blocos no sentido de os tornar viáveis foi uma das decisões que serviu como exemplo para mostrar a influência que teria Isabel dos Santos para a resolução dos referidos dossiês.

 

Em relação as decisões tomadas pela administração, muitos foram os que aplaudiram a de suspender, também tomada em Julho, a venda de todos os activos. Uma decisão que continua em vigor o que deixa a entender que o processo era mais difícil face ao esperado.

 

Aliás, em Dezembro de 2016, no seu primeiro balanço sobre o ponto de situação do Programa de Transformação da Sonangol, a administração reconheceu ter encontrado uma situação “bastante mais grave do que o cenário inicialmente delineado, obrigando a decisões de gestão com carácter de urgência”.

 

Em termos financeiro, o documento informou que a petrolífera encontrava-se em situação de incumprimento o que dificultava o acesso a novos financiamentos. “A Sonangol tem vindo a honrar o pagamento das prestações mensais referentes a sua dívida financeira aos bancos. No entanto, o incumprimento por parte da Sonangol em 2015 dos convénios financeiros (outras condições contratuais) com os bancos resultou num conjunto de constrangimentos, sobretudo limitando o acesso ao financiamento que estava programado para 2016. A dívida financeira da empresa para 2016 está estimada em 9.851 milhões USD (nove mil oitocentos e cinquenta e um milhões).


Portanto, a Comissão dirigida por Isabel dos Santos teve o mérito de assumir o cenário de quase falência técnica, desmentido pela anterior administração depois de lhe ser atribuída a autoria de um relatório que dava conta de um cenário semelhante ao que a actual administração tornou oficial.

Uma forte aposta, resolvida pela anterior administração

Reduzir para menos de 10 USD o custo de produção do barril de petróleo no País foi uma das principais apostas assumidas pela administração de Isabel dos Santos aquando da tomada de posse. Desafio ambicioso, considerando os 14,75 USD por barril que era a referência, desde a apresentação do relatório e contas de 2014. Entretanto, a proeza de diminuir para 8,08 USD coube, ainda, a administração anterior, segundo relatório e contas da empresa referente ao exercício de 2015. À administração de Isabel dos Santos restava-lhes o desafio de melhorar os níveis de eficiência da Sonangol Pesquisa e Produção que, em 2015, estava com o registo de 23,70 USD/barril, melhor apenas que operações da Somoil (86,76 USD/barril). Numa altura em que ainda se desconhece o relatório e contas referente ao exercício de 2016, fontes familiares ao processo acreditam que poderá registar-se melhoria nos níveis de eficiência da Sonangol Pesquisa e Produção, tendo em conta os cortes registados nos custos da empresa, estando alguns, inclusive, a criar desconttemaento no seio dos trabalhadores. Considerando a possibilidade de conseguir reduzir os custos de produção, a expectativa prende-se com os níveis ou percentagens. É legítimo, entretanto, acreditar na possibilidade de se conseguir níveis elevados, considerando o facto de ter sido assim com a redução dos custos com as compras referente ao cabaz da quadra festiva que passou de 60 para 6 milhões de dólares.

Cancelamento de negócios... E os ricos

Outra decisão que pode servir para reforçar a ideia de existir ainda indecisão sobre a gestão da administração liderada por Isabel dos Santos tem que ver com a suspensão do contrato que visava a compra de dois activos petrolíferos à americana Coblat. Assinando em Agosto de 2015, o negócio estava avaliado em cerca de 1,75 mil milhões USD. Entretanto, em Agosto de 2016 as partes anunciaram a desistência da Sonangol e a possibilidade de os 40% dos blocos 20 e 21 serem comercializados a uma terceira entidade. Faltavam poucos dias para o terminar o prazo de vigência do referido contrato. Muitos acreditavam que a Cobalt não conseguiria efectuar a venda no referido prazo tal como veio a acontecer, cenário semelhante aos dias de hoje. Sequencialmente, a Cobalt

 

Internacional recorreu a arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (ICC na sigla inglesa), reclama uma compensação de 2 mil milhões de dólares à petrolífera nacional, devido à anulação de um negócio de 1,75 mil milhões de dólares.

 

O referido cenário compromete ou pelo menos deixa em “stand by” os aplausos que a decisão de desistência do negócio mereceu na altura face a avaliação do mesmo no actual cenário económico.

 

Mas não é tudo. A Sonangol poderá ter de pagar à petrolífera norte-americana outros 174 milhões USD, acrescido dos devidos juros relativos a dividendos da exploração com a Sonangol Pesquisa e Produção do bloco 21.

 

Outra suspensão perigosa que tem estado a embaraçar a Sonangol tem que ver com a com o cancelamento dos concursos públicos para a licitação de Blocos da Zona Terrestre das Bacias do Kwanza (KON 5, KON 6, KON 8, KON 9 e KON 17) e do Baixo Congo (CON 1, CON 5 e CON 6). Um processo iniciado em 2007 e visava proporcionar aos empresários e empresas angolanas, oportunidades para se desenvolverem com a actividade do Upstream.

Muito comunicativa, mas...

Neste um ano de mandato a actual administração da Sonangol mostrou-se mais comunicativa que as anteriores e notou-se um claro investimento para a promoção da imagem da PCA. Isabel dos Santos consumiu a larga maioria do tempo de comunicação da empresa. No entanto, nem sempre respeitando as normais, pois muitas vezes recorreu a LPM, empresa que faz a assessoria dos negócios privados. Outra nota negativa no que diz respeito a comunicação tem que ver com o facto de não conceder ainda uma entrevista a um órgão de comunicação do País. O máximo que fez foi brindar a TPA com alguns minutos à margem CERAWeek, uma das mais importantes plataformas internacionais de discussão na área da energia, em Houston. De resto, a participação em eventos internacionais tem sido outro investimento forte de Isabel dos Santos. Além do CERAWeek que decorreu em Março do ano em curso, esteve também, em Abril, no LSE Africa Summit, a cimeira anual sobre a importância de África no Mundo, organizada pela London School of Economics (LSE), uma das mais prestigiadas universidades de Economia e Ciência Política.

 

Por ouro lado, a Sonangol teve, pela primeira vez, um stand de exposição na Offshore Technology Conference, que se realizou de 1 a 4 de Maio de 2017, na cidade de Houston, Texas, Estados Unidos da América, numa clara orientação de internacionalização da empresa.

 

Nas participações internacionais, Isabel dos Santos sempre deixou claro a intenção de alterar o actual paradigma da petrolífera. Durante o CERAWeek, por exemplo, disse que a Sonangol tem como visão “criar a nova geração de empresas petrolíferas nacionais” (NOC), assente na introdução de mudança e inovação. “Queremos desafiar a forma como as empresas petrolíferas nacionais trabalham, que nos parece ser baseada num modelo muito desactualizado”.

 

Entre as várias considerações possíveis deste primeiro ano de actividade da administração de Isabel dos Santos, uma certeza: nenhum sinal sobre reestruturação da empresa no âmbito do programa de modernização do sector petrolífero que perspectiva uma Sonangol E.P a actuar apenas como concessionária.