Luanda  - Angola está a caminho de eleições no dia 23 de agosto de 2017. Falta-nos, praticamente, dois meses e meio para esse acontecimento tão importante na vida de todos os angolanos e de milhares de estrangeiros honestos que trabalham e gostam de Angola.

Fonte: Club-k.net

Por isso, a nossa atenção, ultimamente, tem-se centrado nos argumentos esgrimidos pelos comentadores, analistas, politólogos, sociólogos, bajuladores, ignorantes, fiscalistas, fanáticos e economistas, etc., etc, defendendo este ou aquele programa ou manifesto eleitoral; esta ou aquela lista de candidatos a deputados e a presidente e vice-presidente da República de Angola, para além de outros assuntos atinentes ao mesmo momento eleitoral e ao futuro do país.

 

Dentre alguns argumentos, que ouvi dos fazedores de opinião, (1) é que a lista do MPLA é mais completa e inclusiva de todas, e (2) outro argumento, é que a questão do género, nas listas, está equitativamente distribuída.

 

Sobre o primeiro argumento, tenho a infeliz notícia de vos dizer que o MPLA é único partido que apresenta a lista mais tribalista e exclusivista entre as três listas candidatas a ganhar as eleições de 23 de agosto. O seu top 10 é composto só por pessoas da mesma origem étnica (Kimbundu). Senão vejamos:

 

 

O João Lourenço, candidato a presidente da República é de origem etnolinguística Kimbundu. Apesar de ter nascido em Benguela (os umbundu ainda, infelizmente, não analisaram bem isso), o seu pai é de Malanje (Kimbundu), a mãe “neutra” do Namibe;

 

O Bornito de Sousa, candidato a vice-presidente é de origem etnolinguística Kimbundu (Malange);

 

O Fernando da Piedade, “Nando”, candidato a presidente da assembleia nacional é de origem etnolinguística Kimbundu (Luanda);

 

António Paulo Kassoma (outside), número quatro da lista, único umbundu, nascido em Luanda(?), é apenas uma questão eleitoralista de “caça” votos no Huambo(?);

 

 

Luzia Pereira De Sousa Inglês Van-dúnem é de origem etnolinguística Kimbundu (Luanda);


Roberto António Victor Francisco De Almeida é de origem etnolinguística Kimbundu (Bengo/Luanda)

 

Joana Lina Ramos Baptista Cândido é de origem etnolinguística Kimbundu (Camabatela, Kwanza-Norte);

 

António Domingos Pitra Costa Neto é de origem etnolinguística Kimbundu (Luanda);

 

Julião Mateus Paulo é de origem etnolinguística Kimbundu (Bengo/Luanda);

Ana Afonso Dias Lourenço é de origem etnolinguística Kimbundu (Luanda).


Este o MPLA inclusivo que muitos bajuladores têm defendido e nos vendido? E se forem a analisar bem a lista do círculo nacional do MPLA, verão como é falsa a propaganda do MPLA de que é o partido de todos os angolanos, isto é, de todos grupos etnolinguístico de Angola, de Cabinda ao Cunene e de Benguela ao Moxico.

Resumindo, vejam as três forças políticas putativas a ganhar as eleições para presidente e vice-presidente de Angola, qual deles é mais inclusivo a nível dos grupos etnolinguísticos em Angola:

MPLA:

1. O João Lourenço, candidato a presidente da República (Kimbundu, pai Malanje);

2. O Bornito de Sousa, candidato a vice-presidente (Kimbundu/Malange); UNITA:

Isaías Samakuva, candidato a presidente da República (Umbundu/Bié);

Raúl Manuel Danda, candidato a vice-presidente (Bafiote/Cabinda);

CASA-CE:

1. Abel Chivukuvuku, candidato a presidente da República (Umbundu/Huambdo)

2. André Gaspar Mendes, candidato a vice-presidente (Kimbundu/Bengo/Luanda)

Feita essa pequena análise, faço um desafio aos Senhores João Lourenço, Abel Chivukuvuku e Isaías Samakuva, isto é, para quem ganhar as eleições de 23 de agosto, que faça um governo onde todo o mosaico etnolinguístico de Angola se sinta representado. Por quê não escolher os ministros e secretários de estado que representem os povos das 18 províncias? Seria um verdadeiro governo do Governo do povo angolano.

 

Em todos grupos etnolinguísticos, que compõe o mosaico populacional angolano, há homens e mulheres formados em diferentes áreas que podem desempenhar bem uma função ministerial (Ou não é o MPLA que se orgulha de dizer que formou quadros em Angola? Ou só formou quadros de alguns grupos etnolinguísticos? Tribalismo ou falta de visão?). Vou vos recordar esses grandes grupos etnolinguísticos, porque infelizmente muitos angolanos e sobretudo o MPLA, talvez, não os conheçam: Ambundu ou Kimbundu, Heroro, Bafiote ou Fiote, Ovawambo ou Ambó, Ovimbundu ou Umbundu, Nganguela, Bakongo, Lunda-Tchokwe, Nhaneka-Ñkumbi.

 

Sobre o segundo argumento a respeito da representatividade do género, penso que todos os partidos caíram tendencialmente no mesmo erro e na mesma falácia.

 

Segundo os Resultados Definitivos do Censo 2014, a população residente em Angola é de 25 789 024 de habitantes, dos quais 12 499 041 do sexo masculino (48% da população total residente) e 13 289 983 do sexo feminino (52% da população total residente). Sendo assim, como é possível que as listas de candidato a deputados sejam predominantemente de homens? Afinal as mulheres não são a maioria, como diz o censo 52% da população? E o pior ou o absurdo de tudo isto, é que nenhuma lista, de partido e de coligação de partidos, tem uma mulher como número um (1) ou como número dois (2). O MPLA que se arroga de mais inclusivo, para além de ser o mais tribalista de todos no top 10, é também misógino de todos. Na sua lista, a primeira mulher aparece como número cinco (5). Na lista da UNITA, a primeira mulher aparece como número quatro (4). Na Lista da CASA-CE, do APN e do PRS (são os mais respeitadoras do género) a primeira mulher aparece como número três (3). No FLA, a primeira mulher aparece como número cinco (5).

 

Eu pergunto as mulheres angolanas: como se sentem perante esse quadro e como pensam votar? Sentem-se representadas ou continuarão sempre a ser marionetas (Concubinas) dos homens em Angola, cuidando dos filhos sem “pais” (mães solteiras, sem mesada para os filhos frutos do prazer dos homens), com salários baixíssimos e sem ninguém forte, nem no parlamento nem no executivo, que faça as leis (código da família) que possam defender verdadeiramente as mulheres?

 

Para agravar tudo ainda mais, as listas oficiosas de possíveis ministros do governo de João Lourenço que circulam nas redes sociais, das vinte três (23) ministérios possíveis, só quatro (4) é que são ocupados por mulheres.

 

Mulheres, pensem muito bem antes de votar, sois a maioria e tendes o voto chave para mudar a miséria em Angola. Sois mães ou futuras mães que mais vão sofrer consequências das más políticas do partido que ganhar as eleições em agosto.

Viva Angola, Viva os partidos inclusivos, viva as mulheres.

Abaixo partidos tribalistas,

abaixo partidos misóginos,

abaixo partidos exclusivistas.