Luanda - O episódio ontem protagonizado na Assembleia Nacional pela Dra. Irene Neto a propósito do debate na especialidade do projecto de Lei Orgânica sobre o regime Jurídico dos ex-presidentes e vice-presidentes de Angola marca sem dúvidas o sinal mais evidente do início de uma nova era para o nosso país. Deixou também bem patentes as fragilidades internas do sistema MPLA.

Fonte: Club-k.net

Eu fui sempre um dos maiores apologistas da necessidade do aprofundamento do diálogo nacional estruturado e estratificado a todos os níveis, como forma de melhor podermos compreender e equacionar os nossos problemas políticos, económicos, sociais e culturais num país plural e de múltiplas dimensões.


Infelizmente, os protagonistas optaram pela fórmula que à priori parecia mais confortável: ''fabricar maiorias qualificadas''. Os dirigentes ignoraram as consequências a médio e longo termos dessa prática como a arrogância, a prepotência, a arbitrariedade, a não observância das normas constitucionais e legais, etc,


O debate sobre os nossos problemas acumulados ao longo de décadas, desde mesmo antes da independência, não começa e nem se esgota na Assembleia Nacional.

 

É preciso que os políticos façam prova de imaginação e grande espírito de criatividade. Trazer para a Assembleia um diploma tão sensível, no actual contexto do país, como o estatuto jurídico para o ex-presidente sem antes pelo menos auscultar a família de Agostinho Neto, mais do que distracção, é exactamente o reflexo do sentimento do poder absoluto acima evocado. O que os deputados presenciaram ontem foi apenas a ponta do iceberg. Se nesta hora em que o país vai virar uma página menos boa da sua história, não houver vontade política de ver o país com olhos de ver, haverá seguramente outros dossiers quentes que irão ''explodir'' na cara dos dirigentes. A nossa história foi muito turbulenta e está provado que ''as maiorias qualificadas'' ficaram aquém das expectativas dos angolanos.


Aqui fica o meu apelo veemente a qualquer que venha a ser a liderança a emergir das eleições de 23 de Agosto: Escutar o clamor do país e estruturar-se de forma a uma maior proximidade com os angolanos. A organização urgente do PODER LOCAL me parece ser a resposta mais acertada e prudente para um país que se quer dialogante.