Aumentam dúvidas sobre "golpe de Estado"
Bissau - No dia em que enterraram Baciro Dabó, eram muitas as dúvidas da morte ter resultado da sua participação numa alegada tentativa de golpe de Estado na Guiné-Bissau, e várias as vozes que denunciavam uma 'inventona' no país.
"Quando se prepara um golpe de Estado não se dorme na sua cama", disse à Lusa o embaixador do Senegal em Bissau, Mamadou Dieng. "Nem tinham mandado", acrescentou o general, decano dos diplomatas em Bissau, sobre os assassinos de Dabó.
O autoproclamado 'Zidane', 48 anos, deputado pelo PAIGC e candidato independente às presidenciais marcadas para 28 de Junho, foi morto por homens uniformizados na madrugada de sexta-feira, no quarto em que dormia.
Na mesma noite, o ex-ministro da Defesa e deputado do PAIGC Hélder Proença, refugiado em Dakar desde os assassínios em Março do Presidente Nino Vieira e do chefe Estado-Maior das Forças Armadas Tagmé Na Waié, regressou ao seu país e foi morto em circunstâncias ainda por esclarecer, conjuntamente com o motorista e um terceiro homem.
Um comunicado assinado pelo director-adjunto dos Serviços de Informações do Estado (SIE), Samba Djaló, garantiu que os dois tinham sido mortos quando em nome de um desconhecido Alto Comando das Forças Republicanas para a Restauração tentavam um golpe de Estado.
Mas, hoje, altos quadros do PAIGC, o partido no poder, e do Estado guineense, como a ministra dos Negócios Estrangeiros e o vice-presidente da Assembleia Nacional Popular, prestaram homenagem ao féretro do antigo ministro da Administração Territorial, que durante horas percorreu as ruas de Bissau.
"O PAIGC a homenagear quem o quis derrubar? Não faz sentido", disse à Lusa Rui Landim, antigo dirigente do partido, alto quadro da Educação e analista político.
"Isto parece o fascismo e os esquadrões da morte do tempo do Brasil e do Chile", acrescentou.
Diante da sede do PAIGC, na praça dos Libertadores, Landim e outros dois guineenses, "da geração e amigos de Proença mas dele afastados politicamente", assistiam ao desfile fúnebre de Dabó, por entre dúvidas e críticas ao poder.
Na mesma praça, o embaixador do Senegal criticou a "falta de coragem política, quando a comunidade internacional nunca abandonou a Guiné-Bissau".
"Mas a comunidade internacional não pode tomar a tutela do país", advertiu.
O Presidente da República interino, Raimundo Pereira, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o ministro da Defesa, Artur Silva, continuam ausentes do país, sem reagirem à situação.
Informações colhidas pelas Lusa, e que circulam em alguns blogues locais, mas que não foram confirmadas oficialmente, garantem que o director do SIE, Antero João Correia, se encontra detido por se ter recusado a alinhar com a versão de golpe de Estado.
Igualmente detido, mas por alegada implicação no 'golpe de Estado', está o ex-primeiro-ministro Faustino Imbali, e a sua mulher continua a apelar às autoridades para que divulguem o seu paradeiro.
Contactado pela Lusa, o bastonário da Ordem dos Advogados, Armando Mango, disse que, de momento, não intervém no caso, remetendo para o Ministério Público a responsabilidade para apurar o paradeiro de Imbali - mas o procurador-geral da República continua incontactável e há vários dias que não é visto.
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Fonte: DN