Luanda - A inscrição da cidade angolana de Mbanza Congo, antiga capital do Reino do Congo, como património da humanidade implicará a construção, até 2020, de um novo aeroporto, face à proximidade do atual aos locais históricos agora classificados pela UNESCO.

Fonte: Lusa

A informação foi prestada, em Mbanza Congo, província angolana do Zaire, durante a cerimónia de apresentação local da declaração de património da humanidade das ruínas do centro histórico da cidade, a primeira classificação do género atribuída a Angola por aquela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura, que aconteceu a 08 de julho.

 

De acordo com o governador da província do Zaire, José Joanes André, o novo aeroporto de Mbanza Congo será construído em Nkiende, a 20 quilómetros do atual, ainda do tempo colonial português e depois alargado, e "consta do plano de investimentos públicos" do Governo central. Que de resto "fez fé" desse compromisso junto da UNESCO, para garantir a classificação das atuais ruínas da antiga capital do Reino Congo, com mais de 800 anos.

 

Em caso de incumprimento das obrigações, até 2020, aquela área, agora classificada, passa a ter designação de património em risco, de acordo com a informação transmitida pelas autoridades angolanas.


Desde logo, uma dessas ruínas, o túmulo da Dona Mpolo, mãe do rei Dom Afonso I, enterrada com vida por desobediência às leis da corte, um local ainda hoje de vários rituais tradicionais, permanece intacto junto à pista do aeroporto, no centro da cidade de Mbanza Congo, que entretanto deixou de receber voos regulares.

 

A pista do aeroporto está ainda junto ao Kulumbimbi, ruínas da sé catedral de Mbanza Congo, do século XVI, o primeiro templo católico construído a sul do equador, depois do contacto dos portugueses com o Reino do Congo, estando ao lado o cemitério dos reis, vestígios que integram a área alvo da classificação atribuída pela UNESCO.

 

De acordo com a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, com esta classificação, como património cultural da Humanidade "pelo valor excecional dos vestígios de Mbanza Congo", Angola assumiu o compromisso de melhorar as infraestruturas da província, retirar o atual aeroporto do local e antenas de comunicações que se encontram na envolvente.

 

"Nós levamos essas garantias através de documentos que serviram de prova. Assim como a construção do futuro aeroporto, uma vez que o aeroporto actual está numa área que estende-se à zona tampão onde são feitas as investigações e as pesquisas", explicou Carolina Cerqueira.

 

O projeto "Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar", que tinha como principal propósito a inscrição desta capital do antigo Reino do Congo, fundado no século XIII, na lista do património da UNESCO, foi oficialmente lançado em 2007, mas a sua classificação é culminar de um processo com cerca de 30 anos.

 

Na cerimónia de hoje, realizada no dia do município de Mbanza Congo, a governante angolana destacou que a classificação foi alcançada através de um "vasto trabalho de diplomacia cultural" e sublinhou o apoio de Portugal neste processo, através homólogo português titular da pasta da Cultura, Luís Castro Mendes.

 

"Que disponibilizou técnicos, para apoiar na produção dos relatórios, e outros apoios", assumiu Carolina Cerqueira, reconhecendo também o apoio do governo de Portugal na mobilização da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para "uma voz comum" da candidatura angolana.

 

Além disso, os trabalhos arqueológicos que suportaram a candidatura foram realizados com o apoio de peritos da Universidade de Coimbra.

 

"O que ajudou a fazer um trabalho de excelente qualidade", apontou.

 

O centro histórico de Mbanza Congo está classificado como património cultural nacional desde 10 de junho de 2013.

 

A candidatura de Angola destacava que o Reino do Congo estava perfeitamente organizado aquando da chegada dos portugueses, no século XV, uma das mais avançadas em África à data.

 

A área classificada envolve um conjunto cujos limites abrangem uma colina a 570 metros de altitude e que se estende por seis corredores.

 

Os trabalhos arqueológicos realizados no local envolveram a medição da fundação de pedras descobertas no local denominado "Tadi dia Bukukua", o antigo palácio real.